“Você precisa ter fé.” A frase simples resume a forma como Mattias Coelho enxerga a própria trajetória no futebol. Jovem atleta sul-mato-grossense, ele iniciou sua caminhada aos sete anos de idade, em um projeto social, e hoje defende o Bola 10, de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo. O percurso até aqui foi marcado por mudanças, desafios familiares e financeiros, mas também por oportunidades construídas dentro e fora de campo.

Mattias começou no futebol ainda criança, quando participou de um projeto social em Campo Grande. Segundo ele, foi ali que o esporte deixou de ser apenas brincadeira e passou a ocupar um espaço central em sua vida. “Comecei aos 7 anos de idade em um projeto social”, relembra. A vivência inicial não formou apenas o atleta, mas ajudou a moldar valores que ele carrega até hoje.

Entre 2023 e 2025, o jogador atuou de forma federada em Mato Grosso do Sul. Nesse período, precisou lidar com dificuldades que extrapolavam o campo. “As dificuldades eram ajudar em casa e a falta de recursos para algumas coisas, como transporte e mensalidades”, conta. A necessidade de conciliar o sonho esportivo com a realidade familiar exigiu maturidade precoce e reforçou a importância do apoio recebido ao longo do caminho.

Dentro de campo, Mattias atua como volante e lateral-direito. Ele define seu estilo de jogo de forma objetiva. “A principal característica minha dentro de campo é a raça e a persistência.” A disposição para competir e não desistir das jogadas aparece como reflexo direto de sua própria história, marcada por obstáculos e recomeços.

Ao longo da formação, diferentes projetos e clubes tiveram papel determinante em sua trajetória. O Projeto Social da Vila Nhã Nhã, segundo ele, foi essencial na formação como pessoa e atleta. Em seguida, veio o União ABC, onde recebeu bolsa de estudos por três anos, unindo esporte e educação. Outro ponto importante foi o Instituto Atlético Juventude, time do bairro onde cresceu. “Era o time do meu bairro, onde eu amo, e que mais me ajudou como pessoa”, afirma.

Mattias também destaca o período no Comercial-MS, onde recebeu apoio significativo, e faz um agradecimento especial ao Juventude, clube pelo qual guarda forte sentimento de gratidão. “O mais importante foi o Juventude, onde sou grato por tudo o que fizeram por mim e não tenho o que reclamar.” Atualmente, ele segue sua carreira no Bola 10, de Caraguatatuba, já vivendo uma nova realidade fora do estado.

A construção dessa caminhada contou com a influência de diversos treinadores. Mattias cita nomes que marcaram sua formação, como Waldir, Walter (em memória), Gilmar, Fleber e Ari Portugal. No entanto, um deles teve presença mais próxima e constante. “O que eu mais acompanhei de perto e esteve mais presente em minha vida e da minha família foi o professor Flávio da Nóbrega, do Instituto Atlético Juventude”, relata.

A recente mudança de cidade também trouxe novos desafios. Longe de casa, Mattias precisou reorganizar sua rotina para manter o equilíbrio entre estudos e futebol. “Por causa da minha mudança de cidade, recentemente eu tive que controlar a rotina, conciliando estudos e futebol”, explica. A adaptação faz parte de um processo que, para ele, é necessário para alcançar objetivos maiores.

Entre os momentos mais marcantes da carreira, Mattias cita conquistas coletivas que tiveram significado especial. Um deles foi o título da Copa Esquerdinha, conquistado com o Juventude. “Estávamos perdendo de 1 a 0, empatamos e ganhamos nos pênaltis do CTA, que era nosso rival direto.” Outro episódio lembrado foi a participação na Miranda Cup. “Tivemos a melhor defesa do campeonato, e foi um passo importante para o nosso time”, completa.

Ao falar sobre inspirações, Mattias foge do discurso comum no futebol. Ele afirma não se espelhar em um atleta específico. “Não queria colocar algum atleta ou pessoa específica. Coloco Jesus Cristo como minha fonte de inspiração, sempre tentando ser a imagem e semelhança dele, com uma alma pura.” A fé aparece como elemento central na forma como ele encara a vida e o esporte.

Os planos para o futuro são claros e divididos em etapas. A curto prazo, o objetivo é se firmar no litoral norte paulista. “Quero ser conhecido no litoral norte em geral e jogar bem.” Já a longo prazo, o sonho envolve competições nacionais de base e o futebol profissional. “Imagino jogar uma Copinha e me estabelecer no profissional.”

Ao olhar para trás e avaliar o próprio caminho, Mattias resume sua mensagem para outros jovens que sonham com o futebol de forma direta e pessoal. “Você precisa ter fé.” A frase sintetiza não apenas sua crença, mas a experiência de quem saiu de um projeto social em Mato Grosso do Sul, enfrentou dificuldades financeiras, mudou de estado e segue buscando espaço no esporte, passo a passo.