Da Redação
“Podemos alcançar tudo que almejamos, basta acreditar no seu potencial, independente das suas limitações”, afirma Guilherme Ademilson dos Anjos Santos, atleta-guia de Yeltsin Jacques, medalhista de ouro em Paris 2024. Natural de Petrópolis-RJ, Guilherme começou a trabalhar com Yeltsin em janeiro de 2015, por indicação de um treinador de sua antiga equipe, a Orcampi, de Campinas.
Sobre o início da parceria, Guilherme diz que suas primeiras impressões foram positivas: “O Yeltsin é um cara bem paciente e ensina muita coisa como guia. Na época em que comecei, ele era da classe T12 e ainda tinha um pouco de visão. Ele me ensinou bastante sobre guia e também sobre o paradesporto. Hoje, o Yeltsin é da classe T11, que é cegueira total”.
A rotina de treinos é intensa e detalhada pelo próprio atleta: “Chegamos a fazer na semana entre 160 e 170 km de treino, além de academia, pilates e fisioterapia. Durante esse período de competição importante, a gente pratica, come e dorme, durante três anos, e depois das Paralimpíadas dá um relaxada”. Para ele, a preparação mental é tão importante quanto a física: “Particularmente faço um trabalho com os psicólogos do Comitê Paralímpico Brasileiro, que são profissionais fundamentais para o bom desempenho dos atletas”.
Guilherme relembra o momento mais marcante da conquista em Paris: “É único. Além de toda a preparação para chegar até lá, quando você ganha, parece um filme passando na sua cabeça. O momento mais marcante é ver que batemos o recorde mundial”.
Sobre os desafios de ser um atleta-guia, Guilherme explica: “Já ser um atleta-guia é um super desafio. Muitas pessoas tentam e poucos conseguem. Você tem que mudar sua biomecânica, o que é difícil para muitos atletas. Durante a prova, você precisa ficar o tempo todo ligado, até depois de passar a linha de chegada”.
A sintonia entre ele e Yeltsin é resultado de muito treino: “O movimento meu e do Yeltsin é muito parecido. Todo mundo que nos vê correndo fala que parece que só tem uma pessoa, porque conseguimos espelhar a corrida com muita perfeição. Isso exige treino e tempo juntos. A comunicação é por toque, porque não dá para ficar falando muito durante a prova; se falarmos, ficamos mais fatigados. Antes da prova, montamos uma estratégia para não precisar falar muito durante a corrida”.
Guilherme destaca a importância da equipe e da família: “A equipe e a família são muito importantes. Temos a Janaína, esposa do Yeltsin, que está sempre acompanhando os treinos. Às vezes falamos que ela é uma das treinadoras. O Alex Lopes, nosso treinador, planeja os treinos, e a Janaína fica na beira da pista, pegando os tempos, orientando a biomecânica, dando esporro se necessário, cuidando da hidratação e acompanhando de carro em percursos de terra. Também temos outros profissionais como o Dr. Renô Dória da clínica Essen, Jefferson Luiz, nosso fisioterapeuta, Dra. Gabriella Rezende do pilates, Dra. Crislaine Soares, nossa médica, e todos os profissionais do Comitê Paralímpico Brasileiro”.
Ao comentar sobre o paradesporto brasileiro, Guilherme aponta avanços e desafios: “O paradesporto está em alta e é muito respeitado no mundo todo. Somos a quinta maior potência do esporte paralímpico. Aqui no estado, temos algumas melhorias, mas ainda pode melhorar muito mais para termos mais medalhistas”.
Mesmo com a rotina intensa, há espaço para descontração: “Temos vários episódios engraçados, porque somos muito brincalhões. Quase todo treino é uma resenha”.
Os próximos objetivos da dupla também já estão definidos: “Queremos chegar bem em Los Angeles 2028, ganhar ouro e bater o recorde mundial novamente. Até lá, temos algumas provas como o Campeonato Parapan de Lima 2027 e o Campeonato Mundial Paralímpico em 2027, que ainda não tem local definido”.
Para Guilherme, a experiência de guiar Yeltsin vai além das medalhas: “Podemos alcançar tudo que almejamos, basta acreditar no seu potencial, independente das limitações”. O atleta destaca que, mais do que técnica, dedicação e trabalho em equipe foram essenciais para o resultado conquistado.