Terça-feira, 28 de outubro de 2025, 17:59

O trabalho silencioso do guia que ajudou Yeltsin chegar ao topo

da redação - 28 de out de 2025 às 14:59 27 Views 0 Comentários
O trabalho silencioso do guia que ajudou Yeltsin chegar ao topo Da Redação

“Podemos alcançar tudo que almejamos, basta acreditar no seu potencial, independente das suas limitações”, afirma Guilherme Ademilson dos Anjos Santos, atleta-guia de Yeltsin Jacques, medalhista de ouro em Paris 2024. Natural de Petrópolis-RJ, Guilherme começou a trabalhar com Yeltsin em janeiro de 2015, por indicação de um treinador de sua antiga equipe, a Orcampi, de Campinas.

 

Sobre o início da parceria, Guilherme diz que suas primeiras impressões foram positivas: “O Yeltsin é um cara bem paciente e ensina muita coisa como guia. Na época em que comecei, ele era da classe T12 e ainda tinha um pouco de visão. Ele me ensinou bastante sobre guia e também sobre o paradesporto. Hoje, o Yeltsin é da classe T11, que é cegueira total”.

 

A rotina de treinos é intensa e detalhada pelo próprio atleta: “Chegamos a fazer na semana entre 160 e 170 km de treino, além de academia, pilates e fisioterapia. Durante esse período de competição importante, a gente pratica, come e dorme, durante três anos, e depois das Paralimpíadas dá um relaxada”. Para ele, a preparação mental é tão importante quanto a física: “Particularmente faço um trabalho com os psicólogos do Comitê Paralímpico Brasileiro, que são profissionais fundamentais para o bom desempenho dos atletas”.

 

Guilherme relembra o momento mais marcante da conquista em Paris: “É único. Além de toda a preparação para chegar até lá, quando você ganha, parece um filme passando na sua cabeça. O momento mais marcante é ver que batemos o recorde mundial”.

 

Sobre os desafios de ser um atleta-guia, Guilherme explica: “Já ser um atleta-guia é um super desafio. Muitas pessoas tentam e poucos conseguem. Você tem que mudar sua biomecânica, o que é difícil para muitos atletas. Durante a prova, você precisa ficar o tempo todo ligado, até depois de passar a linha de chegada”.

 

A sintonia entre ele e Yeltsin é resultado de muito treino: “O movimento meu e do Yeltsin é muito parecido. Todo mundo que nos vê correndo fala que parece que só tem uma pessoa, porque conseguimos espelhar a corrida com muita perfeição. Isso exige treino e tempo juntos. A comunicação é por toque, porque não dá para ficar falando muito durante a prova; se falarmos, ficamos mais fatigados. Antes da prova, montamos uma estratégia para não precisar falar muito durante a corrida”.

 

Guilherme destaca a importância da equipe e da família: “A equipe e a família são muito importantes. Temos a Janaína, esposa do Yeltsin, que está sempre acompanhando os treinos. Às vezes falamos que ela é uma das treinadoras. O Alex Lopes, nosso treinador, planeja os treinos, e a Janaína fica na beira da pista, pegando os tempos, orientando a biomecânica, dando esporro se necessário, cuidando da hidratação e acompanhando de carro em percursos de terra. Também temos outros profissionais como o Dr. Renô Dória da clínica Essen, Jefferson Luiz, nosso fisioterapeuta, Dra. Gabriella Rezende do pilates, Dra. Crislaine Soares, nossa médica, e todos os profissionais do Comitê Paralímpico Brasileiro”.

 

Ao comentar sobre o paradesporto brasileiro, Guilherme aponta avanços e desafios: “O paradesporto está em alta e é muito respeitado no mundo todo. Somos a quinta maior potência do esporte paralímpico. Aqui no estado, temos algumas melhorias, mas ainda pode melhorar muito mais para termos mais medalhistas”.

 

Mesmo com a rotina intensa, há espaço para descontração: “Temos vários episódios engraçados, porque somos muito brincalhões. Quase todo treino é uma resenha”.

 

Os próximos objetivos da dupla também já estão definidos: “Queremos chegar bem em Los Angeles 2028, ganhar ouro e bater o recorde mundial novamente. Até lá, temos algumas provas como o Campeonato Parapan de Lima 2027 e o Campeonato Mundial Paralímpico em 2027, que ainda não tem local definido”.

 

Para Guilherme, a experiência de guiar Yeltsin vai além das medalhas: “Podemos alcançar tudo que almejamos, basta acreditar no seu potencial, independente das limitações”. O atleta destaca que, mais do que técnica, dedicação e trabalho em equipe foram essenciais para o resultado conquistado.

Comentários

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos com * são obrigatórios.

Parceiros

Enquete

O Governo de MS investe o suficiente no esporte sul-mato-grossense?