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Entre sacrifícios e oportunidades, Riquelme Ortega constrói sua carreira

da redação - 22 de dez de 2025 às 11:10 31 Views 0 Comentários
Entre sacrifícios e oportunidades, Riquelme Ortega constrói sua carreira Da Redação

Nascido em 6 de fevereiro de 2007, em Rio Verde de Mato Grosso do Sul, Mateus Riquelme Mota Ortega construiu sua trajetória no futebol a partir de um contexto familiar já ligado ao esporte e de uma realidade marcada por dificuldades, deslocamentos e decisões tomadas ainda muito cedo. Criado pelos avós, com o apoio constante dos pais, ele iniciou no futsal e, aos poucos, encontrou no futebol de campo um caminho possível para transformar sua própria realidade.

 

“O meu contato com o futebol sempre foi desde pequeno, por conta dos meus pais, que conseguiram chegar ao profissional, no caso do meu pai”, contou o atleta. Ainda criança, aos 10 anos, ele passou a frequentar a escolinha Nova Geração, em Rio Verde, treinando futsal sob orientação do treinador Marcelo de Paula. Segundo Riquelme, o início foi marcado por incentivo, mas também por cobranças. “Ele foi uma das pessoas que acreditava que eu poderia seguir em frente, só que eu tinha que melhorar muito”, relatou.

 

A falta de recursos não foi um obstáculo pequeno nesse período. O atleta lembra que, muitas vezes, dependia da ajuda de amigos para seguir treinando. “Eu tinha um amigo que emprestava todos os materiais possíveis para jogar futsal”, afirmou. A transição para o futebol de campo veio aos 13 anos, quando passou a atuar como zagueiro. No entanto, o processo não foi imediato nem simples. “Eu ficava sempre de canto nos times, por não conseguir desenvolver o suficiente”, relembrou.

 

Mesmo diante das dificuldades técnicas e emocionais, o apoio familiar foi determinante para a continuidade no esporte. “Sempre tive o apoio da família também. Fui criado pelo meu vô e minha avó, e eles gostavam da ideia de eu continuar jogando por conta do histórico familiar”, disse. Ao mesmo tempo, ele reconhece que precisou lidar com conflitos pessoais e familiares ao longo do caminho. “Tive muitas lutas por trás disso tudo, em questão familiar, que tive que passar”, afirmou.

 

Um dos momentos decisivos da trajetória ocorreu aos 15 anos, durante o Campeonato Estadual de Futsal Sub-16, disputado em Corumbá. Para estar na competição, Riquelme precisou buscar apoio financeiro por conta própria. “Para eu ir para Corumbá, tive que ir atrás de patrocínio para conseguir pagar a passagem, e foi muito difícil”, contou. No torneio, enfrentou o Instituto Ismaily, equipe tradicional no cenário estadual. “Consegui sair bem na partida e, no final do jogo, eles falaram que iriam me chamar”, lembrou.

 

A desconfiança inicial deu lugar à surpresa quando o contato realmente aconteceu após o fim da competição. “Eu nem acreditei, porque muitas pessoas falavam que iam me dar oportunidade e nunca deram”, relatou. Ainda assim, novos obstáculos surgiram. A mudança exigia sair de casa, e a decisão não foi imediata. “Minha mãe não queria deixar, porque não conhecia eles. Foi muito difícil, mas ela deixou”, disse.

 

O primeiro passo com o Instituto Ismaily foi um amistoso em Dourados. “Foi ali que tudo começou a mudar na minha vida”, afirmou. A partir daí, Riquelme passou a disputar competições oficiais pela equipe, conquistando o título estadual sub-17 e o vice-artilharia do campeonato em 2023. “Tudo foi muito rápido”, resumiu.

 

Apesar das conquistas, o processo de adaptação trouxe desafios emocionais importantes. “Meus primeiros desafios foram me adaptar com tudo que estava acontecendo”, explicou. O convívio com atletas de alto nível gerou insegurança. “Eu sempre tive a insegurança se o que eu estava fazendo era suficiente”, contou. Segundo ele, os momentos de baixo rendimento nos treinos afetavam diretamente sua confiança. “Quando eu ia mal nos treinos, ficava muito triste, mas sei que isso é normal, faz parte”, afirmou.

 

Outro episódio marcante na formação do atleta foi a experiência de treinar com profissionais do futebol sul-mato-grossense. “Foi treinar uma temporada com os profissionais do Mato Grosso do Sul. Não joguei, mas foi muito importante para mim, porque aprendi muito como pessoa e como atleta”, relatou. Para ele, a vivência permitiu compreender melhor a realidade do esporte no estado.

 

A disciplina e a rotina rígida de treinos começaram ainda cedo. Riquelme destaca a influência do primeiro treinador como referência pessoal. “Ele mostrou que o esforço pode levar a lugares grandes”, disse. Em casa, mantinha uma rotina que chamava atenção. “Todos os dias da semana, quando estava em casa, eu corria às 4 horas da manhã. Todo mundo falava que eu era louco, que nunca ia conseguir chegar a qualquer time”, relembrou.

 

Atualmente, o atleta defende o Manchester, de Minas Gerais, onde enfrenta uma rotina intensa de preparação. “O treinamento é pesado demais, voltado para a Taça São Paulo e para o Campeonato Mineiro”, explicou. Entre os momentos mais significativos da carreira, ele destaca um feito específico. “Foi quando fiz meu primeiro gol como jogador federado e fui o primeiro jogador a fazer o primeiro gol da história do clube”, contou. “Foi marcante porque eu não esperava que seria eu.”

 

Com passagens por ABC, Ismaily, Coxim e pelo próprio Manchester, Riquelme reconhece que as oportunidades surgiram a partir de muita persistência e da ajuda de pessoas próximas. “Tenho apoio hoje dos meus pais, amigos e familiares”, afirmou. Ele também ressaltou o papel dos empresários que o acompanham. “Eles me ajudam muito e me deram oportunidade que nenhum outro faria por mim”, disse.

 

Vindo de uma cidade pequena, o atleta não esconde as dificuldades enfrentadas para seguir carreira. “De onde eu vim é muito difícil conseguir oportunidade. A cidade é pequena demais, e foi muito difícil, muito mesmo, sair de lá”, relatou. Para ele, o futebol tem sido um agente de mudança gradual. “Hoje, graças a Deus, o futebol vem mudando minha vida aos poucos”, afirmou.

 

Ao olhar para o futuro, Riquelme mantém os pés no chão, mas não esconde o desejo de avançar na carreira. “Meu objetivo é chegar longe, como qualquer atleta que está lutando agora”, disse. Ele reconhece os sacrifícios exigidos pelo esporte. “Você tem que se sacrificar muito, e eu estou na mesma luta que qualquer um, querendo a mesma coisa: mudar minha realidade e a vida da minha família.”

 

A mensagem que ele deixa para outros jovens que sonham com o futebol nasce da própria experiência. “Nunca pare. Qualquer um é capaz de conseguir chegar a qualquer lugar do mundo”, afirmou. Para Riquelme, a fé também ocupa um lugar central nesse processo. “Sempre coloque Deus na frente, que dará certo tudo na sua vida.”

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