Terça-feira, 18 de novembro de 2025, 18:35

Entre o acidente e o Mundial: a reconstrução de João “Capivara”

da redação - 18 de nov de 2025 às 14:58 26 Views 0 Comentários
Entre o acidente e o Mundial: a reconstrução de João “Capivara” Da Redação

“Quem teme perder já está vencido.” A frase, comum no judô, acompanha João Pedro de Souza Machini, conhecido nas competições como João Capivara, atleta de Dourados que encontrou no tatame o caminho para reconstruir a própria vida. Ele sempre leva consigo uma pequena capivara de pelúcia, símbolo que escolheu para representar Mato Grosso do Sul nas competições de judô e jiu-jitsu.

 

João Pedro começou no judô ainda criança, em um projeto do programa Mais Educação. Depois, passou a treinar na ACJ (Academia Cano de Judô), onde teve suas primeiras referências técnicas e de disciplina sob orientação do sensei Alexandre Cano. “Iniciei de fato minha trajetória ali”, afirma. O jiu-jitsu só entraria em sua rotina anos depois, em 2021, mas o papel das artes marciais na formação pessoal do atleta começou bem antes — e ganharia outro significado após um episódio decisivo.

 

Em 2019, um grave acidente interrompeu sua rotina escolar e esportiva. João ficou 13 dias internado na UTI, 22 dias hospitalizado e sofreu fraturas e traumatismo craniano. Segundo ele, as expectativas médicas eram de uma longa recuperação, com incertezas sobre possíveis sequelas. “A previsão era de anos de recuperação, talvez sem voltar ao normal”, lembra. Porém, o retorno ao judô e a entrada no jiu-jitsu contribuíram diretamente para sua reabilitação. “Graças ao judô e ao jiu-jitsu, em poucos meses eu já estava andando novamente.”

 

A partir de 2022, ele passou a competir no jiu-jitsu. O início foi rápido e marcante. Mesmo com apenas três meses de treinamento, recebeu um convite do sensei João Henrique para participar de um campeonato estadual. João venceu. “Conquistei minha primeira medalha, e foi de ouro.” O resultado abriu uma sequência de 13 competições, entre torneios municipais, estaduais, brasileiros e mundiais, todas encerradas com medalhas de ouro. “Esse foi um dos momentos mais marcantes da minha vida”, resume.

 

Entre os desafios enfrentados na carreira, João cita principalmente as questões financeiras, comuns na trajetória de atletas em formação. “Até hoje conto com o apoio de pessoas, empresas e amigos que acreditam em mim.” Outro ponto é a rotina acadêmica. Ele cursa simultaneamente Direito na UNIFRON e Ciência de Dados na UFMS. A conciliação com treinos diários exige organização e constância. “Meu sensei sempre lembra que o estudo é algo que levamos para a vida”, comenta. “Busco me fortalecer como atleta e como estudante.”

 

Os treinos incluem sessões de judô, jiu-jitsu e musculação. João afirma que a rotina é intensa, mas necessária para manter o nível competitivo. “Sempre busco ser melhor do que ontem. Persistência e dedicação são a chave para qualquer conquista.”

 

A rede de apoio inclui família, treinadores e espaços onde se desenvolveu tecnicamente. Ele cita o sensei João Henrique, o sensei Daniel, o sensei Alexandre Cano e toda a família Cano, além da Academia CFC, onde realiza parte dos treinos. João também menciona a orientação que recebe desde a infância na igreja. “Agradeço ao Pastor Sergio Nogueira, que sempre acreditou em mim. Essas pessoas foram pilares na minha trajetória.”

 

A representação de Dourados, de Mato Grosso do Sul e do Brasil aparece como ponto central em sua fala ao relembrar o título mundial de jiu-jitsu. A viagem e o contato com outros atletas reforçaram para ele a dimensão da conquista. “Foi uma realização enorme, que mostrou que todo o esforço estava valendo a pena.”

 

João também participa do projeto Embaixadores do Rei, na igreja que frequenta, voltado para meninos de 8 a 17 anos. Ele afirma que ainda não atua diretamente em projetos esportivos, mas tem essa intenção para o futuro. “Sei o quanto isso pode transformar vidas. Eu mesmo comecei em um projeto social.”

 

Ao falar sobre metas e planos, João mantém uma linha direta com a realidade que construiu nos últimos anos. “O céu é o limite”, afirma. Ele pretende seguir competindo, ampliando resultados e mantendo o vínculo com a própria história, que se confunde com a recuperação e evolução no tatame. “Onde eu puder estar, e se Deus permitir, seguirei com determinação e persistência para conquistar mais títulos.”

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