Personalidade | Lucas Castro | 03/06/2019 15h05

Especialista no nado costas, Letícia Cirilo está entre as melhores nadadoras do país

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Atleta faturou, recentemente, a medalha de ouro na prova dos 100 metros costas na categoria infantil do Brasileiro Infantil de Clubes de Inverno.

A paixão de Letícia Mapeli Cirilo, de 13 anos, é a natação, mas a modalidade não foi sua primeira opção. Antes de descobrir as piscinas, a atleta fazia ginástica artística. De acordo com seu pai, Nivaldo Cirilo, a influência veio do irmão Lucas, que iniciou no esporte aquático por ajudar a reduzir sintomas de problemas respiratórios. O garoto competia e ganhava inúmeras medalhas em competições de natação. Assim, Letícia interessou-se e deixou a ginástica.

A atleta começou a nadar sob orientação do treinador Celso Henrique Ferreira, na Escola de Natação Pé de Pato, projeto localizado no bairro União, em Campo Grande-MS. Nivaldo conta que Letícia entrou para a natação com seis anos de idade. “Pegou gosto pelo esporte, despontou, começou a competir com sete anos e está até hoje”.

Atualmente, a nadadora faz parte da equipe Associação Atlética Banco do Brasil/Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (AABB/Uniderp), um dos clubes mais tradicionais da capital sul-mato-grossense. A transferência de Letícia foi feita após se destacar no projeto Pé de Pato, que tem parceria com a AABB e funciona como uma escola de base, responsável por revelar número significativo de nadadores.

Seu pai revela que, aos 10 anos de idade, Letícia atingiu um bom nível de desempenho e competitividade, motivo da mudança para um clube com melhor estrutura. “A piscina do projeto é de, aproximadamente, 16 metros e ela precisava de uma piscina maior para treinar, de 25 ou 50 metros”, diz Nivaldo Cirilo.

Letícia espelhou-se no irmão para começar a nadar (Foto: Arquivo pessoal)

Na AABB/Uniderp, Letícia é treinada por Caroline Ribeiro e Cássio Castro. Para a técnica, a atleta já se destacava desde o projeto. “Ela sempre foi, em sua categoria de idade, uma das melhores. A evolução dela foi bem precoce, já dava para ver que levava jeito para a coisa. Esse é o terceiro ano que está conosco na AABB”, destaca Caroline.

Especialidades

Letícia Cirilo faturou a medalha de ouro na prova dos 100 metros costas (Infantil 1 - nascidos em 2006) do Campeonato Brasileiro Infantil de Clubes de Inverno, realizado de 22 a 25 de maio deste ano, no Minas Tênis, em Belo Horizonte-MG. Seu tempo foi de 1:10:04. A segunda colocada terminou a prova em 01:10.52.

Além do primeiro lugar, a campo-grandense ficou na quinta colocação nos 100 metros livre, obtendo a marca de 01:02.50. A treinadora da AABB/Uniderp, Caroline Ribeiro, afirma que este foi o primeiro Campeonato Brasileiro da atleta, enquadrada numa categoria em específico. Na competição nacional, a sul-mato-grossense ainda participou das provas de 50 metros livre e 200 metros costas.

Letícia é especialista no nado costas (Foto: Arquivo pessoal)

Para Caroline Ribeiro, as especialidades de Letícia são os nados costas e livre. Ela afirma que a atleta destaca-se em provas que exigem velocidade, como os 50 ou 100 metros. “Pelo ranking nacional, ela já esteve entre as cinco melhores atletas do país no nado costas de 100 metros”.

De acordo com números da base de dados da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Letícia Cirilo tem 158 participações em campeonatos estaduais, nos quais conquistou 146 medalhas de ouro e sete de prata. A atleta já esteve também em nove competições a nível nacional, entre elas o Torneio Centro-Oeste de Natação. Além do ouro na capital mineira, pelo Brasileiro Infantil de Clubes de Inverno, Letícia possui uma medalha de prata em torneios nacionais.

Rotina

Letícia acorda cedo, vai para a escola e retorna por volta das 11h30. Ao chegar em casa, ela almoça, faz os deveres de casa e, em alguns dias da semana, tem fisioterapia. “Quando dá 16h00 por aí, tenho de levar ela ao treino. Ela entra 17h e vai até 19h30. Tem a parte física, academia e a parte de nado”, relata Nivaldo Cirilo, a respeito da rotina de sua filha. A atleta treina de segunda a sábado e, conforme a técnica Caroline, em véspera de competições importantes, os treinamentos são estendidos aos domingos ou acontecem duas vezes ao dia.

“Ela é bastante focada, muito responsável, dedicada, não gosta de perder treino. Quando está no treino, leva os fundamentos e conselhos a sério, não brinca. Tem atleta que vai e começa a brincar. Até desmarcamos alguns compromissos, porque ela nunca quer deixar de ir ao treino”, revela o pai, ao Esporte Ágil.

Foco é uma particularidade de Letícia Cirilo (Foto: Arquivo pessoal)

O sonho de Letícia é disputar uma competição internacional, como o Pan-Americano, Mundial de Esportes Aquáticos e, quem sabe um dia, os Jogos Olímpicos de Verão. A campo-grandense tem como ídolo a nadadora Etiene Pires de Medeiros, primeira mulher do país a conquistar uma medalha de ouro em um Campeonato Mundial de Natação e em Jogos Pan-Americanos. Além disso, é recordista mundial dos 50 metros costas em piscina curta, ao alcançar a marca em Doha, em 2014.

Para a técnica Caroline Ribeiro, o que a natação mais ensina, assim como outras modalidades, é disciplina. Ela afirma que Letícia adquiriu essa virtude e tem grandes chances de despontar ainda mais nacional e mundialmente. “Ela deve continuar se dedicando aos treinos no dia a dia, não se deslumbrar por uma medalha de campeã brasileira. No final do ano tem outro Brasileiro, tem sempre que focar no próximo. É mais difícil se manter campeão do que ser campeão, tentamos ensinar isso. Agora, os olhos dos adversários estarão nela”.

“Temos de cuidar mais da parte física da Letícia. Agora, começaremos um treinamento fora da água, para aumentar a sua força física. Ela tem tudo para dar certo. Além do mais, tem que ter cuidado com as lesões, porque é muito grave nessa idade, por causa do exagero e desejo momentâneo de ganhar mais títulos”, acrescenta a treinadora da AABB/Uniderp.

Desafios

Em Mato Grosso do Sul, não há nenhuma piscina olímpica, oficial, que mede 50 metros de comprimento e 25 de largura. Todas as competições nacionais são disputadas em piscinas com estas dimensões. Segundo Caroline Ribeiro, esta é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos nadadores sul-mato-grossenses.

“É difícil segurar nossos atletas quando chegam a um nível mais alto. Aqui, a nossa limitação é a estrutura para treinamentos e incentivos financeiros. Eles chegam na categoria júnior, por exemplo, para atletas de 16/17 anos, e são convidados para nadar fora, recebendo salário. Na verdade, temos de levá-los para fora, porque chega um momento em que eles precisam de uma estrutura melhor e aqui no estado inteiro não temos”, confessa Caroline.

Atleta coleciona medalhas desde pequena (Foto: Arquivo pessoal)

Caroline Ribeiro afirma que treinar em uma piscina com dimensões inferiores é um quesito desfavorável em relação a atletas de outras unidades federativas. “Eles sentem dificuldade no momento da competição. Quem é acostumado a treinar e competir numa oficina de 50 metros, fica mais fácil. O desgaste é maior numa piscina olímpica, por causa das viradas, da parede. Já chegamos com uma desvantagem em relação a esses atletas que treinam na de 50”.

A parceria realizada entre AABB e Uniderp foi firmada como alternativa de local para treinamentos. Os atletas da agremiação treinam na piscina cedida pela universidade privada da capital, enquanto a AABB lida com o custeio de inscrições e mensalidades à federação responsável pela administração da modalidade no estado e, em determinadas ocasiões, aos órgãos nacionais.

Outro problema evidente é a falta de apoio financeiro, tanto do poder público, quanto da iniciativa privada local. Na natação, nada diferente das outras modalidades, os atletas dependem do “paitrocínio”, no qual os pais e familiares têm de arcar com a maior parte das despesas. No caso da natação, estes custos são elevados, principalmente no que se refere à aquisição dos trajes necessários, como maiô, óculos e touca.

Nadadora destaca-se com as cores da AABB/Uniderp (Foto: Arquivo pessoal)

“Ela tem 13 anos, já pratica natação há um bom tempo e, até agora, não conseguiu nenhum apoio. Nesse ano, conseguimos fazer a inscrição do Bolsa Atleta, da Fundesporte. Ela foi selecionada, mas não começou a receber. Enquanto isso, fazemos rifas, almoços beneficentes, os parentes ajudam com o que podem e eu tenho alguns colegas que me auxiliam também”, discorre o pai da atleta.

No Campeonato Brasileiro Infantil de Clubes de Inverno, recentemente, Letícia teve de usar um traje emprestado. É o que afirma a técnica Caroline. “Por causa da condição financeira da família, não consegue adquirir. É bem caro. O valor de um traje feminino, hoje, custa de 3 a 3,5 mil reais e dura um ano de competições, fora os óculos, que custam quase 300 reais cada um”.

Caroline Ribeiro evidencia que, em Mato Grosso do Sul, a maioria dos atletas de natação desistem por dificuldade financeira e pela distância de deslocamento para os locais de treinamentos. “Muitas crianças carentes se interessam pela natação, mas chegam num determinado ponto que não têm como continuarem”, finaliza.

Ajude a atleta - Para um(a) atleta, toda ajuda é bem-vinda, seja financeiramente, em qualquer quantia, ou por meio de doação de materiais esportivos e outros utensílios/equipamentos para rifa, por exemplo. Caso queira ajudar com doação em dinheiro, os dados da conta bancária de Letícia Mapeli Cirilo são:

Banco do Brasil

Agência: 2951-3

Conta corrente (C/C): 45327-7

Em casa de dúvidas ou outras informações, entre em contato com Nivaldo Cirilo, pai de Letícia, pelo telefone: (67) 9 9224-4796.

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