Paradesporto | Dourados News | 18/06/2007 15h34

Equipe paradesportiva de tiro de MS é exemplo de superação

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Dourados (MS) - As sete medalhas conquistadas no 19° Campeonato de Tiro Esportivo Tenente Guilherme Paraense são o mais recente orgulho da Equipe de Tiro Adaptado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. O torneio aconteceu em abril, na cidade de Resende (RJ). A equipe de quatro atletas portadores de deficiência trouxe duas medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze. A premiação é mais uma das muitas que o grupo já conquistou desde 2002, quando foi fundada a Associação de Reabilitação e Paradesporto Pantanal. Já no ano seguinte, o desempenho dos novos atletas começou a ser premiado.

A Associação nasceu do esforço da terapeuta ocupacional Joelma Vieira, aliado à força de vontade de um grupo de policiais militares que tiveram que deixar o serviço na ativa depois de sofrerem ferimentos graves. Hoje, reúne em torno de 30 militares, e conta também com associados não portadores de deficiência. A dedicação à prática do tiro esportivo fez dos militares atletas. A Associação funciona com apoio do governo estadual, por meio da Secretaria de Segurança Pública. A colaboração direta de colegas da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros também tem sido fundamental para que os atletas consigam participar das competições fora do Estado.

Durante toda a semana, eles têm um ritmo intenso de condicionamento físico, treinamento em estande de tiros e apoio psicológico. As conquistas de medalhas em torneios nacionais são motivos de orgulho para o grupo. "Passamos a ser outras pessoas, com mais auto-estima, com qualidade de vida", conta Benedito Santana, 52 anos, um dos fundadores da associação e colecionador de medalhas. Somente no último torneio ele ganhou duas de ouro, nas categorias "carabina olímpica" e "carabina de ar - mira aberta". Santana diz que muitos dos colegas deixaram de fumar ou de beber, outros voltaram a estudar. "O esporte fez com que muitos erguessem a cabeça e saíssem do fundo do poço", relata.

Benedito Ozinaga, 57 anos, se locomove em cadeira de rodas, assim como Santana. Vice-campeão nas duas categorias vencidas pelo colega no último campeonato, ele se emociona ao contar como se sente feliz em ser reconhecido e admirado. "Antigamente eu era um anônimo numa cadeira de rodas, hoje vamos aos quartéis [da PM] e todo mundo sabe quem sou", conta, com orgulho.

A satisfação por ter encontrado no esporte uma nova razão de vida tem sido fundamental para o trabalho de reabilitação dos antigos policiais. "Hoje em dia eles têm um objetivo e lutam por ele", diz a jovem terapeuta Lourdes Mara Lopes, atualmente responsável pelo projeto.

Exemplo e novos desafios - Os atletas da Associação de Reabilitação e Paradesporto Pantanal estão de olho agora nas medalhas que vão ser disputadas durante a 3ª Copa Ninho das Águias, daqui a dois meses em Pirassununga (SP). Condições técnicas eles têm. Os índices de Benedito Santana, por exemplo, seriam suficientes até mesmo para participar de competições como os Jogos Paraolímpicos. Um dos grandes desafios a cada novo torneio é conseguir patrocínio para as despesas com viagem, alimentação, hospedagem, material. Mesmo as armas próprias de competição, fabricadas na Alemanha, só recentemente os atletas conseguiram. Dependendo da modalidade, equipamentos como pistola e carabina podem custar entre R$ 3 mil e R$ 12 mil. Mas o grupo tem esperança de conseguir apoio junto a empresas, que podem abater o patrocínio do imposto de renda a pagar.

A batalha por recursos não desanima quem já se considera vencedor. Depois de ter reencontrado motivação na prática esportiva, Benedito Santana, que há 28 anos perdeu o movimento das pernas ao ser ferido por caçadores de jacaré durante uma operação policial no Pantanal, pensa em ir cada vez mais longe. Ele vai tentar representar o Brasil numa competição na cidade alemã de Munique, em dezembro, e, em 2008, quem sabe até nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, na China.

Santana, Ozinaga e outros membros recém premiados da equipe, como João Almir Moraes (prata), Paulo Campozano (bronze) e Maurílio Andrade, servem de exemplo para o mais jovem integrante da associação. Com 19 anos, William Paes já treina e tenta seguir o caminho que vem fazendo dos policiais vencedores. O jovem, que não é militar, estuda o primeiro ano do ensino médio e começou a praticar tiro esportivo adaptado a convite de Benedito Santana. Com uma leve deficiência na perna direita desde a infância, William acredita que tem muito mais em comum com os colegas do que uma dificuldade física. "Eles são o meu espelho", garante o jovem.

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