Pan-americano | UOL | 01/03/2007 10h49

Critério de seleção dificulta ida de voluntários "forasteiros"

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Rio de Janeiro (RJ) - O sentimento de ajudar e a boa vontade para ser voluntário durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro existem em todo o Brasil. A possibilidade de concretizar esse desejo, porém, é um pouco mais restrita.

Devido aos critérios de seleção dos voluntários adotados pelo Comitê Organizador dos Jogos (CO-Rio), apenas quem mora no Rio de Janeiro ou tem dinheiro para pagar por pelo menos duas viagens à cidade poderão trabalhar no Pan.

Para ser confirmado como voluntário do Rio 2007, os interessados devem preencher um formulário pela Internet e se inscrever para uma dinâmica de grupo, obrigatória. A dinâmica, porém, só é realizada no Rio de Janeiro, fato que acaba afastando voluntários com medo de bancar por uma viagem sem ter a certeza de que o investimento será recompensado.

Pelo sistema de seleção, além dos custos de transporte e moradia na cidade sede do Pan durante as competições, o candidato a voluntário tem de viajar pelo menos mais uma vez ao Rio, por conta própria, antes do período de competições.

"Trabalhei como voluntária nos Jogos de Inverno de Turim, no ano passado, e o processo de seleção foi todo no Brasil, por telefone. Já ouvi várias críticas sobre esse processo de seleção, presencial. Eu moro em São Paulo, que nem é tão longe, mas e quem mora em cidades mais distantes? Eu entendo o lado da organização e as razões para isso, mas também tenho que pensar no meu lado", diz Ligia Prado, estudante de educação física, que se inscreveu no processo de seleção, mas ainda não participou da dinâmica.

"Quando soube que iria ter de ir para o Rio de Janeiro para a dinâmica, fiquei pensando se valeria a pena. Marília é a 900 km do Rio e, com o atraso nas obras, todo mundo fica com medo de mais problemas de organização. E se eu fosse para o Rio e, quando chegasse lá, a dinâmica tivesse sido cancelada ou adiada para outro dia?", lembra Filipe Mesquita, estudante de relações internacionais em Marília, no interior de São Paulo.

Mesquita é um dos 5 mil voluntários pré-selecionados para os Jogos nas primeiras dinâmicas de grupo, entre dezembro e janeiro. A partir deste mês, milhares de novos candidatos irão passar pelos testes e a organização vai escolher mais 10 mil pessoas para trabalhar em junho no Rio 2007.

Coordenadora de voluntários do Pan, Paula Hernandez admite a dificuldade, mas explica o motivo da adoção do sistema de seleção. "O meu planejamento inicial era fazer entrevistas em cada uma das capitais, mas não temos orçamento para isso. Se pudesse, pagaria passagem, daria alojamento para os voluntários. Mas no Pan-Americano, para 15 mil pessoas, isso é impossível", explica. "Obrigando os candidatos a vir para a dinâmica, perdemos algumas pessoas, mas já fazemos uma pré-seleção. Quem veio, mostra que está comprometido", completa.

A primeira viagem, porém, não é a mais crítica para os voluntários. Quem não mora no Rio de Janeiro tem também de enfrentar a dificuldade de conseguir um lugar para ficar na cidade durante os Jogos. O grande problema é a explosão dos preços de estadia no período.

"Um albergue, por exemplo, custa normalmente R$ 25. Mas durante o Pan, a maioria dos que eu pesquisei vai aumentar a diária para mais de R$ 100. Quando me inscrevi para ser voluntário, pensei em gastar até R$ 500 em estadia. Hoje, não sei quanto vou ter de desembolsar", afirma Bruno Moreira, estudante de gestão em eventos esportivos, também de São Paulo.

Para resolver o problema, Bruno já falou com voluntários de todo o Brasil para montar repúblicas no Rio de Janeiro. "Já estamos pensando também em fazer contatos para tentar ficar em escolas ou universidades, como é feito em outros eventos", sugere. Paula Hernandez diz que o Comitê Organizador dos Jogos tentou um acordo com o Exército para abrigar voluntários em quartéis, mas sem sucesso.

"No segundo processo de seleção, que vai ser on-line, já vamos perguntar se cada voluntário tem onde ficar e vamos tentar colocá-lo nas sedes mais próximas. A dinâmica de grupo também ajuda nesse sentido. Recebi alguns e-mails de pessoas dizendo que conheceram pessoas durante o processo e já conseguiram onde ficar durante o Pan. É uma saída", sugere Paula.

Outro obstáculo apontado por voluntários é a demora na confirmação de sua seleção. "Eu fiz a dinâmica em dezembro e só agora eu fui confirmado. Mas tem gente que está fazendo a entrevista agora, que ainda vai demorar para ser chamada. Eu já estou guardando dinheiro todo mês para o Pan. Mas e quem só vai ser confirmado depois? É muito em cima da hora", opina Bruno Moreira.

Segundo o CO-Rio, a seleção dos voluntários termina em março. "O processo começou em 2002, mas muita gente só está se dando conta do Pan-Americano agora. Para podermos aproveitar isso é que o processo está próximo do Pan. Além disso, quem foi candidato em 2005, não é necessariamente candidato hoje", diz Paula.

Bruno Doro, do Rio de Janeiro

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