Hipismo | Com Terra | 02/05/2008 17h27

De peão a cavaleiro olímpico, tacuruense Clementino faz história

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Clementino

São Paulo (SP) - Quando criança, o sonho do sul-mato-grossense Rogério Clementino, natural de Tacuru (MS), era ser peão de rodeio, mas após algumas provas acabou se achando em outra montaria. Aos 26 anos, ele é o primeiro cavaleiro negro na história a se classificar para os Jogos Olímpicos na prova de adestramento.

Clementino, o primeiro negro numa equipe olímpica de hipismo do Brasil, é também o único atleta do país com vaga assegurada em Pequim.

"Minha vida inteira foi dedicada a trabalhar em fazenda, por isso que tenho essa paixão por animal. Meu sonho era montar, eu queria ser peão, gostava de montar em boi", disse o cavaleiro.

Na infância no Mato Grosso do Sul, onde sua família mora até hoje, Clementino trabalhava em fazendas. Precisava ajudar a mãe, após a morte do pai.

Aos 18 anos, se mudou para o interior de São Paulo e começou a montar também em cavalos, apoiado por seu patrão, o empresário Victor Oliva, ex-marido da jogadora de basquete Hortência.

"Em 2002, fiz a primeira prova de equitação e ganhei. Aí comecei a investir em cursos e desenvolver a carreira", disse o cavaleiro, explicando que era patrocinado por Oliva.

Depois de algumas competições em rodeios no interior paulista, o sonho de virar peão famoso foi interrompido pela mulher, que achava a aventura perigosa demais.

Ele começou, então, a se dedicar somente à equitação. Montando Nilo V.O., de propriedade de Oliva, Clementino ganhou provas e há três anos percebeu que o cavalo "tinha jeito para o adestramento".

"Aí logo veio um título da categoria iniciante e fui evoluindo e hoje, com a ajuda de muitos professores, estamos conseguindo fazer um bom trabalho."

Benção - Num esporte reconhecidamente restrito, Clementino disse que nunca sofreu discriminação por sua raça ou condição social.

"Se tivesse acontecido (discriminação), só ia servir para me fortalecer... Fui abençoado por ser o primeiro (negro) e isso só me dá força para continuar representando, com muito orgulho, a raça negra", declarou o atleta.

"Tudo o que está acontecendo comigo não é por acaso, a gente trabalha muito forte. Sempre pensei em dar o meu melhor, em tudo o que faço. Nunca deixei passar as oportunidades que tive", acrescentou ele sobre as conquistas na carreira, incluindo a medalha de bronze por equipe no adestramento nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

Em Pequim, a medalha é improvável, segundo Clementino. "Lá a gente vai competir com os 50 melhores do mundo, é difícil, mas a gente tem que olhar para nosso conjunto e dar o melhor para conseguir a melhor colocação possível."

Atualmente, além dos treinos, o cavaleiro dá aulas e segue como funcionário de Oliva.

O sonho de criança não se concretizou. Foi além. O objetivo agora é competir na Europa e ter uma carreira de sucesso.

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