Hipismo | GE.net | 03/12/2007 19h53

Com o cavalo doente, aos 49 anos Pia sonha com Londres-2012

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São Paulo (SP) - Durante seis anos, a sueca naturalizada brasileira Pia Aragão acalentou um sonho: representar o Brasil nos Jogos Pan-americanos do Rio-2007 e nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Para isso, superou obstáculos, falta de patrocínio e conseguiu a vaga na equipe pan-americana de adestramento, primeiro passo do projeto. Mas menos de quinze dias antes do início da competição, uma inesperada colite bacteriana no puro sangue lusitano Nirvana Interagro pôs fim a todos os planos.

"Concorrente" do tacuruense Rogério Clementino, Pia teve de ser cortada do Pan e, ainda com o cavalo convalescente, está fora da briga por uma vaga na equipe olímpica de adestramento. "É péssimo lidar com isso", confessa a atleta, que está com 49 anos e monta desde os 10 anos. O desejo de se tornar amazona olímpica a fez adotar a cidadania brasileira em 2002. No ano seguinte, defendeu o país nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, pensando na vaga para Atenas. Como o Brasil não se classificou, o projeto foi adiado para Pequim.

A colite de Nirvana, descoberta dois dias após a convocação para o Pan, levou a montaria a passar sete dias na UTI e, até hoje, sua situação é incerta. "Ele ainda está na cocheira e não tem previsão de retorno. O futuro dele como reprodutor é garantido, mas será preciso meio ano para saber se poderá voltar à pista", explica Pia. Além da colite, o quadro de Nirvana foi agravado por outras doenças oportunistas.

Sem um substituto à altura, ela não teve alternativa. "Ele é um dos melhores cavalos do país. Tenho outros, mas que ainda são muito jovens. Eu tenho capacidade, mas são necessários cinco anos de preparação para ir a uma Olimpíada. Com o tempo que resta é impossível".

Frustração é tudo que Pia confessa sentir pelo que aconteceu. "Já tinha planejado tudo para Pequim", desabafa. "O Brasil competiu (no Pan) praticamente com uma seleção B (além de Pia, Jorge Ferreira da Rocha foi cortado dias antes da estréia por causa de intoxicação alimentar), que honrou muito com o bronze. Eu tinha chances individuais, mas não deu. Agora, faço planos para 2012".

Apesar do pensamento de longo prazo, Pia segue enfrentando as mesmas dificuldades. Em quase 40 anos de competição, ela nunca contou com patrocínio. Treinadora em um haras, além do salário, o máximo de ajuda que tem é não precisar gastar com a manutenção de suas montarias, que são bancadas pelo proprietário.

Os obstáculos, porém, não diminuem sua determinação. "Esporte é minha paixão e isso fala mais alto que a parte econômica. Mas rica nunca vou ser". "Defeito" grave para quem compete em uma modalidade na qual os cavalos custam, em média, meio milhão de euros.

A alternativa seria fazer um leasing (empréstimo do cavalo com pagamento de aluguel), o que também é descartado pela atleta. "Teria de ir para a Europa correr atrás de um sonho". Para piorar, o regulamento da seletiva estipula 29 de dezembro como data máxima para que cavaleiro e montaria compartilhem da mesma cidadania para disputar a seletiva.

"Minha meta agora é 2010, o Mundial de Kentucky, o Pan de 2011 e a Olimpíada de 2012. Sou uma pessoa muito focada e já estou colocando meus objetivos, mas quando você chega no fundo do poço é difícil pensar em outros cinco anos para frente. Mas eu não reclamo, é um fato para os esportistas. Nós, cavaleiros, até temos uma grande vantagem porque não há limite de idade. Pior seria para um ginasta porque uma Olimpíada é praticamente tudo para ele. Depois, a idade pesa, o corpo estraga...".

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