Em busca do sonho, jovens de Nova Andradina percorrem quilômetros para 'peneiradas' de futebol
O sonho de calçar a chuteira e quem sabe um dia vestir o uniforme de um grande clube de futebol do Brasil e do mundo é comum a milhares de crianças e jovens. Em Nova Andradina, isso não é diferente. Mas viver esse sonho vai muito além do simples fato de brincar de jogar futebol nos campinhos do bairro, nas escolinhas esportivas ou até mesmo nas escolas e praças esportivas.
De cara, é preciso passar pelas famosas "peneiras" para que possam começar a pensar em trilhar os caminhos do futebol profissional. Mas, não é só isso. Muitas dificuldades acontecem neste percurso, especialmente no Estado de Mato Grosso do Sul, que está fora do circuito do esporte bretão.
O Jornal da Nova fez um bate-papo com Carlos (mais conhecido como Sossó) e Mateus Macena, dois craques mirins que estão correndo atrás em busca desse sonho. Também conversou com os pais desses atletas, que investem e dão o maior incentivo aos filhos para vê-los brilhando nos grandes times nacionais e internacionais.
Para completar a matéria especial, o Jornal da Nova entrevistou professores de escolinhas de futebol, que auxiliam na formação e até observam atletas potenciais num núcleo de captação de talentos para as equipes profissionais. Eles deram dicas importantes para ajuda-los nesta jornada em busca de uma carreira promissora nos gramados.
De peneira em peneira – os pequenos jogadores percorrem quilômetros nas estradas
Para tornar esse desejo possível, muitas dificuldades precisam de ser enfrentadas pelas famílias dos pequenos jogadores.
Morando no Estado de MS, onde o futebol está em segundo plano e os investimentos são pífios, quem sonha com a carreira num grande time, via de regra, encontra obstáculos como a necessidade de percorrer grandes distâncias para mostrar seu futebol e o dinheiro, por exemplo, fatores que sempre atrapalham. Porém, isso jamais pode ser motivo para desistir.
Diante dessa realidade, já se tornou corriqueiro para eles, pegarem a estrada e percorrer quilômetros nos finas de semana para participar seletivas e jogos preparatórios. Foi o que fez Matheus Macena, que saiu de Nova Andradina para participar de testes em três clubes de ponta – Fluminense, Corinthians e Grêmio.
Para estar nos dias e horários combinados, Maceninha (como é conhecido pelos amigos e companheiros de futebol) e o seu pai Francisco viajam com recursos próprios até os centros de treinamento geralmente instalados nas capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Tanto pai como filho sacrificam suas vidas para estar nas avaliações. “Sacrifico o fim de semana com os amigos e a família para jogar futebol. “Futebol é a minha vida, meu sonho!”, disse o garoto de 13 anos, que descobriu o talento com a bola nas aulas de educação física no primeiro ano do ensino fundamental.
O pai Francisco confirma: “Eu já tive que faltar no trabalho para acompanha-lo nos testes. Ele já perdeu aula, conteúdos importantes e até provas na escola. Teve que fazer reforço escolar particular para não perder o ano escolar. Mas, como pai, apoio meu filho no sonho de ser jogador e iria onde fosse preciso para vê-lo feliz”, declarou.
Indagado, sobre como lidaria caso o filho não conseguisse chegar a brilhar nos gramados, o pai de Maceninha afirmou: “Eu diria: nós tentamos e não desistimos, fomos até o fim. Ele é muito talentoso e persistente, com certeza, fará sucesso em qualquer carreira que seguir, independente de ser jogador ou não. Tem que levantar a cabeça e seguir em frente”, defende. E completa: “A nossa vida é uma caixinha de surpresas. Vejo que jogar pra ele não é uma obrigação e sim um divertimento. Então continuamos a apoiá-lo e o futuro a Deus pertence”, finaliza Francisco.
Outro atleta que vem se destacando nas categorias de base é Carlos Edvaldo, o Sossó, de 11 anos. Há dois anos vem sendo monitorado por equipes como Corinthians, Grêmio FBPA e Atlético Paranaense. O volante joga futebol desde os sete anos, mas entrou para a Escolinha do Grêmio em 2016. Não demorou muito tempo e os professores notaram o talento. Daí, até pintar a oportunidade de fazer avaliações nessas equipes de ponta não demorou muito.
“Sempre tem o Nervosismo no início das avaliações. Mas já estou acostumando, participo de várias competições com a escolinha do Grêmio e isso ajuda a diminuir a ansiedade”, diz o atleta, que não reclama das exigências e das cobranças que a carreira impõe.
Orgulhoso, o pai Edvaldo Silva é o grande incentivador do filho. “Eu apoio ele em tudo. Faço o possível para ele realizar esse sonho de se tornar jogador, até me mudar da cidade”, afirma, para logo remendar: “Sabemos que para ser um jogador de futebol é muito difícil, existe muitos obstáculos e a concorrência é enorme. Os estudos são primordiais sempre em 1° lugar. O futebol é consequência. Isso que falo para ele”, conclui Edvaldo.
Do sonho à realidade
O Professor de Educação Física Willian Moraes, treinador de futsal da categoria mamadeira da Escolinha de Futebol Camisa 10/Grêmio destaca que o garoto que sonha em ser jogador precisa se resignar e aceitar as condições nem sempre confortáveis dos alojamentos e a mudanças repentinas em seus hábitos de vida.
Para o treinador, os padrões atuais do futebol contemporâneo acabam submetendo, prematuramente, essas crianças a conceitos táticos queimando etapas do processo de formação deste indivíduo, deixando de respeitar as individualidades cronológicas especificas, que são muito importantes nessa fase de formação como aspectos do drible, finta de corpo, arrancadas em situações de jogo menos complexas minijogos 1 contra 1, 2 contra 2.
Outro fator que é importante ressaltar é a projeção do sonho dos pais na criança. “Alguns pais insistem para que os filhos façam testes e peneiras porque um dia quiseram ser jogadores. Estimule esse sonho e dê o seu apoio, desde que seja vontade da criança, e não a sua”, alerta o profissional.
O profissional relata ainda que são poucos os meninos que conseguem se tornar profissionais do futebol. E uma das preocupações da equipe técnica é ver como pais e atletas lidam com a situação negativa, ou seja, recebem um “não passou na seleção”.
“Na escolinha a gente ensina as crianças a jogar futebol, mas, além disso, nosso foco principal é formar cidadãos. Nossa equipe técnica trabalha o desempenho físico dentro do campo, mas também trabalha com o motivacional e emocional. Ela é orientada a sempre conversar e mostrar a realidade aos garotos”, declara William.
Exigência é muito alta
De acordo com o empresário Joari Martins, proprietário da escolinha de futebol Camisa 10 Nova Andradina, franquia do time do Grêmio-RS, e representante da equipe porto-alegrense no Núcleo de Captação, não existe matemática exata na hora de seleção dos jovens.
“Temos peneira oficiais nas quais os meninos passam por uma avaliação. Para serem chamados eles realmente precisam ter uma boa desenvoltura, porque o nível dessas seleções é muito alto. Neste momento, temos vários garotos com potencial que estão sendo preparados para participar das peneiras. É assim. Depende da desenvoltura do momento”, esclareceu Joari.
*As informações são do Jornal da Nova.
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