Esporte Ágil | Lucas Castro | 24/05/2019 13h26

OPINIÃO: Funesp capricha na cerimônia de abertura, mas esquece dos materiais esportivos nos Jogos Abertos

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Abertura teve até o tradicional ritual da pira olímpica, mas "na hora do vamos ver" faltou bola para partida de futsal.

Tudo muito lindo, tudo muito chique. A abertura da 41ª edição dos Jogos Abertos de Campo Grande, na última quinta-feira (16), no ginásio esportivo do Centro Municipal de Treinamento Esportivo (Cemte), foi um espetáculo para ficar boquiaberto. Até o tradicional ritual da pira olímpica teve. Todo ano tem. Parecia coisa de outro mundo.

Inclusive, o prefeito da capital, Marcos Marcello Trad e o diretor-presidente da Fundação Municipal de Esportes (Funesp), Rodrigo Terra vangloriaram-se de tal feito inaugural, que encheu os olhos do público e dos milhares de atletas presentes. Realmente demasiado extasiante, estrutura "para inglês ver".

De fato, parecia que estávamos diante de um campeonato com nível exemplar de organização. Ora, não podia se esperar menos, haja vista que não foi a primeira, nem a segunda, a terceira ou quarta, mas sim a quadragésima primeira edição do torneio.

Todavia, na primeira rodada da modalidade futebol de salão, em partida válida pelo Grupo K do certame, nesta quinta-feira (23) à noite, entre Chapecoleicester e Juventus Futsal, o principal elemento do jogo faltou: a bola. Este foi o primeiro recado dado pelo árbitro do confronto às equipes, assim que chegaram ao ginásio do Colégio ABC. De certo modo envergonhado pela circunstância e despreparo da entidade responsável, ele disse: "Vocês têm bola? Porque aqui não tem, não trouxeram". Não deu para deixar de reparar os cochilos de quem estava na arquibancada. "Nossa, como assim não tem bola? Meu deus".

Um rapaz, que tinha estampado a escrita F-U-N-E-S-P na parte frontal de sua camiseta, provavelmente um supervisor ou fiscal da rodada enviado pelo órgão, fingiu que não era com ele. Deu uma de "sonso", fez de conta que não sabia nada sobre o que se passava a sua volta.

Por sorte, a equipe da Chapecoleicester estava com uma pelota sobrando, para aquecimento dos atletas. Foi com ela mesmo que a partida teve início. Se não fosse por esta, os jogadores ficariam "chupando dedo". Que vergonha, não é?

Uma semana após o vislumbro exuberante da cerimônia de abertura, uma situação destas acontece. Isto porque estamos em ano pré-eleitoral, os mínimos detalhes contam muito, principalmente quando se organiza uma competição com mais de 2,3 mil atletas e 214 equipes, divididas em 14 modalidades.

De olho na reeleição

Não sejamos ingênuos de pensar que a administração municipal, num todo, não está a "mexer os pauzinhos" para as eleições de 2020. Por que você acha que a Copa Campo Grande de Futebol Amador e os Jogos Universitários Campo-Grandense Interatléticas foram lançados neste ano e não em 2018? Marquinhos, que é visto frequentemente em campos do amadorzão, nos bairros periféricos da capital, e até vestiu a “amarelinha” da seleção brasileira na abertura da Copa Campo Grande, quer se reeleger.

O esporte mexe com as emoções das pessoas e atrai votos, meu amigo. Dou-lhe um campeonato aqui, para se divertir (e faturar uma graninha com a premiação) com os amigos e amigas, e lhe peço, encarecidamente, um votinho em mim no ano que vem. Este é o pensamento.

Sentimos uma satisfação, euforia e descontração diante de eventos esportivos. Figuras políticas aproveitam-se deste momento aprazível da mente dos aficionados por esporte para fortalecerem suas imagens, por meio de uma campanha disfarçada e silenciosa.

Diante disso, muitos verão aquele político como um indivíduo que valoriza e apoia o esporte. Muitas vezes, este mesmo político pega uma bola de basquete e faz uma cesta ou dá o pontapé inicial numa partida de futebol para levantar a galera, que vai à loucura. “Este é o meu prefeito! Este gosta de esporte, viu?”.

Quase certeza que você vai pensar: “qual o problema disso? É ótimo ter políticos que se interessam pelo esporte”. Está bem, compreendo e concordo. Entretanto, o buraco é mais embaixo. Os atletas amadores, por exemplo, não são incentivados. Não são os R$ 17 mil, total, em premiação, além das medalhas e troféus da Copa Campo Grande de Futebol Amador, que valorizarão o esporte a longo prazo. Além do mais, este torneio pode nem existir nos anos posteriores.

Não vejo problema algum na promoção de eventos esportivos, até porque este veículo pauta-se de esporte. Porém, é imprescindível saber separas as coisas. O esporte não é o vilão. O oportunismo político, implícito, agarrado às práticas esportivas, em véspera de campanha eleitoral, sim.

Mas qual a explicação destes torneios, que vieram à tona, em 2019, em período que já se prepara o terreno para as eleições?

Bom, acompanhemos como serão os próximos capítulos dos Jogos Abertos de Campo Grande. Espero que estejam lá as bolas, bolinhas, tatames, peças e tabuleiros de xadrez, redes, pistas e quadras demarcadas, apitos, estas "coisinhas básicas" para o esporte se desenvolver. Nada como uma pira olímpica imponente, de respeito, magnífica.

*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não correspondem, necessariamente, ao ponto de vista do Esporte Ágil.

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