Editorial | Da redação | 12/11/2006 19h29

Novembro: A realidade está a nossa volta

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Algumas vezes olhamos para o centro de Campo Grande e ficamos com aquela sensação de que tudo está bem. Ruas arborizadas, pessoas ordeiras, sentadas nas varandas, tomando tereré enquanto colocam a conversa "em dia" com os amigos. Mantém-se, em geral, uma rotina que vai do trabalho para a casa, passando em alguns casos, pela escola, mas quase não paramos para olhar com um mínimo de atenção à nossa volta. Vivemos em um mundo globalizado e individualizado, onde as relações estão cada dia mais fragilizadas, distorcendo o verdadeiro sentido de sociedade e cidadania.

Predomina em nossa sociedade a idéia do "ter" e não do "ser", onde você vale o que tem. Quanto mais linhas na declaração patrimonial do Imposto de Renda melhor; quanto mais moderno o celular, mais status; quanto mais potente o automóvel, mais sucesso você supostamente tem, e assim por diante. A atitude de nossos jovens é reflexo da cobrança excessiva dos pais, dos colegas e da mídia em busca por sucesso e beleza. O narcisismo, o individualismo e a busca pelo prazer a qualquer custo, são necessidades para reafirmar sua identidade e ser aceito pelas jovens tribos urbanas. Supervalorizam a roupa, os cosméticos, o perfume, a boa forma física, as jóias, o silicone, o celular, o carro do ano, a aparência, a vaidade. E como deuses se entregam ao individualismo e a vaidade, não percebendo os problemas dos outros, ficando focados apenas em si mesmos.

Estamos diante de um contexto de desigualdades sociais, com alto grau de necessidades, nas áreas de saúde, segurança, empregos e educação, que se acentuam quando os que sofrem são as crianças e adolescentes. Faltam para elas, entre tantas outras coisas, espaços físicos para a prática de esportes e brincadeiras e, em conseqüência disso, as crianças ficam soltas nas ruas, vulneráveis a quaisquer adversidades comumente presentes nos bairros.
Mas, o que o esporte tem a ver com tudo isso? Analisando uma sociedade de classes, onde poucos têm dinheiro e muitos não e, onde existe uma busca exacerbada por dinheiro e beleza, concluímos que existe uma grande maioria que está à margem, esmagados por uma cultura consumista e imediatista. O esporte configura aqui um facilitador para que os membros das comunidades, os participantes, possam vivenciar ativamente, a construção de sua cidadania, tornando-se então sujeitos de sua própria história, contribuindo com o desenvolvimento pessoal e social de crianças e adolescentes socialmente excluídos, utilizando-se do esporte para o sucesso na escola e na vida.
Entendemos hoje, que o esporte tem em seu aspecto global todas as possibilidades de formação do cidadão pleno, resgatando sua auto-estima, seus valores pessoais e comunitários e principalmente conduzindo este cidadão ao processo de realização no ambiente escolar, familiar e comunitário; facilitando assim o aperfeiçoamento das competências sociais, produtivas, pessoais e cognitivas.

Nos esportes individuais, o sujeito luta contra seus próprios limites; no coletivo, é preciso que ele aprenda a trabalhar em grupo e fortalecer suas relações com seus companheiros, para que os resultados apareçam. Assim, mostra-se ao jovem que existem vários caminhos para serem seguidos, não apenas os do individualismo egoísta e da concorrência e competitividade sem limites morais e éticos.

Por isso, a importância do esporte na educação. A prática esportiva como instrumento educacional visa o desenvolvimento integral das crianças, jovens e adolescentes, capacita o sujeito a lidar com suas necessidades, desejos e expectativas, bem como, com as necessidades, expectativas e desejos dos outros, de forma que o mesmo possa desenvolver as competências técnicas, sociais e comunicativas, essenciais para o seu processo de desenvolvimento individual e social.

O esporte, como instrumento pedagógico, precisa se integrar às finalidades gerais da educação, de desenvolvimento das individualidades, de formação para a cidadania e de orientação para a prática social. O campo pedagógico do Esporte é um campo aberto para a exploração de novos sentidos/significados, ou seja, permite que sejam explorados pela ação dos educandos envolvidos nas diferentes situações. Além de ampliar o campo experimental do indivíduo, cria obrigações, estimula a personalidade intelectual e física e oferece chances reais de integração social.

Acreditamos que o esporte possa ser protagonista neste processo de inclusão social e, ainda mais, quando se trata de seu viés educacional. Estimular a prática esportiva nas escolas, e também contribuir com a manutenção das escolinhas que oferecem a prática esportiva gratuita significa um esforço rumo a uma sociedade um pouco menos injusta, oportunizando a elas, principalmente, um desenvolvimento social, educacional e de formação de caráter. Entendemos acima de tudo, que o esporte tem em seu aspecto global todas as possibilidades de formação do cidadão pleno, resgatando sua auto-estima, seus valores pessoais e comunitários e principalmente conduzindo a criança ou adolescente ao processo de realização pessoal, familiar, escolar e comunitário.

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