Diversos | (Com informações do CPB) | 21/09/2004 12h38

Segunda-feira de ouro para o Brasil na Paraolimpíada

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Segunda-feira de ouro para o Brasil na Paraolimpíada

A delegação paraolímpica brasileira que está desde o dia 10 de setembro em solo grego deu um show na terra do berço esportivo mundial. Somente em um dia, o Brasil bateu um recorde: conquistou quatro medalhas de ouro. Isso sem falar na de prata e na de bronze. Os números entram para a história do esporte paraolímpico brasileiro e junto com eles os resultados expressivos individuais dos atletas. Com certeza os fenômenos paraolímpicos atacaram. Com os resultados de hoje, o Brasil terminou o dia em 10º lugar no quadro geral de medalhas. Se continuar nesse ritmo, o País tem tudo para ficar entre as grandes potências paraolímpicas mundiais. A tarde começou com a conquista do tricampeonato do judoca Antônio Tenório, 33 anos, no Hall Olímpico Ano Liossia, na categoria até 100 kg. Na disputa da semifinal Tenório derrotou seu principal adversário o americano Kevin Szott, campeão mundial e paraolímpico. A final foi contra o chinês Run Ming Mens por waza ari. Como o adversário de Tenório insistia na falta de combatividade, os juízes marcaram três penalizações, chamadas de shidos. O chinês, medalha de bronze nos Jogos Paraolímpicos de Sydney, não representou nenhuma dificuldade para o brasileiro. Tenório ganhou o primeiro ouro do dia. "Estou muito feliz com esta medalha. Agora eu tenho que começar a pensar em Pequim", afirmou. No atletismo, o primeiro a roubar a cena foi Antônio Delfino, que em Sydney ganhou a prata nos 400m. "Aqui deixei todo mundo para traz", disse emocionado. O velocista ganhou a prova dos 200m com o tempo de 22s41. O francês Sebastien Barc chegou em segundo com 22s62 e o australiano Heath Francis ficou com o bronze. Com o ouro, Delfino se torna um dos atletas paraolímpicos mais velozes do mundo. Nesta terça-feira ele irá correr os 400m, prova em que é o atual recordista mundial e ainda irá correr os 100m. O velocista, que hoje mora na cidade de Brasília, dedicou o título para sua mulher e seus sete filhos. Aos 18 anos, ele teve parte do braço direito cortado, após um acidente de trabalho no campo, onde era lavrador. Acostumado a uma infância difícil, Delfino começou a trabalhar aos cinco anos. Por esse motivo, o velocista tem experiência de sobra para lidar com problemas que surgem em sua vida. Para ganhar o ouro, ele se dedicou cinco horas de treinamento por dia e não se arrepende. "Treinei durante quatro anos para ganhar o ouro. Hoje minha vida é 80% dedicada para o esporte", declarou o atleta. O segundo ouro foi de um dos melhores amigos de Delfino, André Andrade. Por ironia do destino, André também foi prata em Sydney e hoje antes de correr, os dois combinaram que iriam ganhar o ouro. Funcionou. André terminou os 200m da categoria T13 (deficientes visuais) com o tempo de 22s70. O segundo lugar ficou com o americano Royal Mitchell (22s96) e o bronze foi para Nathan Meyer (23s04). "Ainda não caiu a ficha", confessou. O gaúcho, 23 anos, confessa que deixou uma vida que tinha em Porto Alegre para se dedicar exclusivamente ao atletismo. Ele foi para Presidente Prudente treinar com a equipe de revezamento olímpico. O resultado veio. O menino que tinha o sonho de ser um jogador de futebol confessa que valeu a pena ter desistido. "O ouro é a realização", afirmou. O sonho de conquistar o ouro já foi realizado, mas agora André quer abaixar o tempo, abaixar, abaixar. "Sonho em correr uma Olimpíada", completa. André ainda irá correr os 100m e o revezamento 4x100m. A terceira medalha da tarde no atletismo foi conquistada pela cearense Maria José, a "Zezé. Ela terminou a prova dos 200m da categoria T12 (deficiente visual) com o tempo de 26s20. "Ganhei o bronze que me tiraram em Sydney. Essa medalha tem gosto de ouro. Em algum lugar está escrito que iria ganhar essa medalha e sei que em algum lugar também está escrito que irei ganhar o ouro" disse Zezé. A atleta dividiu a sua vitória com seu guia Gerson Knittel. "Ele é o melhor do mundo", elogiou. Na frente da Zezé ficaram a francesa Assia Hannouni (25s12) e biellorussia Volha Zinkevich (25s87). Aqui em Atenas a atleta ainda irá disputar as provas dos 100m e 400m. Para fechar o dia do atletismo com chave de ouro, Ádria Santos, 30, tornou-se a primeira brasileira a ser tricampeã paraolímpica. Ela correu a prova dos 100m, na qual é a atual recordista mundial, e conquistou o último ouro do dia. O fenômeno paraolímpico terminou a prova com 12s55. Chocolate, seu guia, a elogia disse: "Você é a melhor do mundo". A chinesa Chun Miao (12s94) ficou com a prata e a grega Paraskevi Kantza (13s34) levou o bronze. A estrela dedicou a medalha para sua filha Bábara, 14 anos. A velocista ainda irá enfrentar as provas dos 200 e 400m. Muito bem acompanhada pelo seu guia, ela diz que ele é os seus olhos dentro da prova. Na natação a estreante Edênia Garcia, com apenas 17 anos, ganhou medalha de prata nos 50m costas, prova em que foi campeã mundial em Stoke Mandeville-2003. A adolescente já havia prometido no dia anterior que iria levar para Natal, cidade onde reside, uma vitória: "minha terra pode esperar que terça-feira mostrarei resultados". Promessa cumprida. A jovem que adora desenhar e curtir uma boa música foi confiante para a final e não deixou os natalenses na mão. Com a prata (51s51 - classe S4), a menina que possui distrofia muscular progressiva fez questão de apontar a real ganhadora da competição: dona Maria das Graças, sua mãe. "Estou de alma lavada e com a sensação de dever cumprido. Há quatro anos atrás, eu não imaginava que estaria em uma Paraolimpíada, quanto mais ganhar uma medalha nesta competição", afirmou emocionada a nadadora. A japonesa Mayumi Narita ficou com o ouro (49s54), batendo o recorde paraolímpico, que era de 50s38. A medalha de bronze foi para a francesa Anne Cecile Lequien. No judô, o Comitê Paraolímpico Brasileiro investiu na inclusão da modalidade na Paraolimpíada. O grupo que está em Atenas é composto por sete atletas e a modalidade conquistou, em dois dias de competição, uma marca inédita: um ouro, duas pratas e um bronze. Pela primeira vez o judô feminino participa de uma edição dos Jogos e o Brasil já conseguiu trazer para a Grécia três judocas.

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