Bate-Bola | Da redação | 15/12/2017 11h00

‘Mulher pode estar onde ela quiser’, diz árbitra de MS que integra quadro da Fifa

Compartilhe:
“Por ser mulher, precisamos ter uma mentalidade um pouco mais blindada”, afirma. “Por ser mulher, precisamos ter uma mentalidade um pouco mais blindada”, afirma. (Foto: Divulgação)

As mulheres estão cada vez mais presentes na arbitragem brasileira e, em Mato Grosso do Sul, esse quadro não é diferente. Prova disso é a assistente Daiane Muniz Santos, de 29 anos, que este mês passou a integrar o quadro da Fifa, entidade máxima do futebol mundial.

Profissional de educação física, ela mora em Três Lagoas há seis anos, mas atua na arbitragem desde os 21. A notícia que passaria a integrar o quadro Fifa, conta, era a mais esperada de sua carreira. “É algo que tenho lutado, trabalhando muito. Quando soube, deu até tremedeira”, brinca.

Em entrevista ao Esporte Ágil, a assistente fala sobre sua trajetória, dificuldades e, ainda, sobre as dificuldades da inserção em um universo historicamente masculino.

“Por ser mulher, precisamos ter uma mentalidade um pouco mais blindada por tudo que escutamos e vemos. Mas gosto de dizer que a mulher pode estar onde ela quiser. Minha vontade fez com que eu chegasse, passando por cima de muitos obstáculos e preconceitos que existem”, crava.

Confira a o Bate-bola com Daiane:

Como surgiu seu interesse pelo futebol?
Desde criança. Aos 5 anos, gostava muito de jogar futebol. São as lembranças mais fortes que tenho e, quando não jogava, assistia. Cresci assim. Jogando, depois assistindo e entendendo mais sobre as regras, como funcionava um campeonato, pontuação. Sempre acompanhei e o esporte da minha vida sempre foi o futebol.

Por que decidiu seguir na arbitragem?
Eu não decidi seguir na arbitragem. Na verdade, gosto de dizer que a arbitragem me seduziu, de certa forma. Depois de algumas tentativas de ser jogadora profissional, em vão, encontrei na arbitragem uma maneira de estar no esporte. Depois de um tempo, pude ver que tinha talento para aquilo, e que aquilo poderia me deixar ainda mais próxima, como nunca estive, desse esporte.

Quais as principais dificuldades da profissão?
Acredito que a gente vai crescendo e evoluindo conforme alguns erros, algumas experiências. E algumas dificuldades na carreira foram os testes físicos, que, apesar de ter um bom pilar físico, no início tive alguma dificuldade em realizar, principalmente os tempos masculinos. Mas hoje isso é superado.

Por ser mulher, é mais difícil?
Não acredito que, por ser mulher, seja mais difícil. Por ser mulher, precisamos ter uma mentalidade um pouco mais blindada por tudo que escutamos e vemos. Mas gosto de dizer que a mulher pode estar onde ela quiser. Minha vontade fez com que eu chegasse, passando por cima de muitos obstáculos e preconceitos que existem.

É mais fácil auxiliar um jogo masculino ou feminino? Tem diferença?
Tem muita diferença. Primeiro, é a força, explosão muscular, a velocidade do jogo. Tecnicamente também é muito diferente. Masculino tem mais passe, mais lançamentos. A bola não fica no mesmo lugar. No feminino, é mais lento, têm jogadas mais confusas. O masculino exige mais, e é desse que eu gosto.

Os homens respeitam uma assistente mulher?
Respeitam sim. Claro que o respeito vem da pessoa também, como você age, de quanta abertura você dá. Comigo nunca teve problema nenhum. Os jogadores sempre muito profissionais, principalmente em jogos profissionais, série A e série B do Brasileiro. As mulheres já quebraram alguns tabus e os homens já aceitaram nossa inserção no cenário futebolístico.

E a torcida? Você ouve muitos comentários indiscretos? Como lidar com isso?
Ouço muitos comentários indiscretos, discretos, loucos, engraçados (rissos). Já me acostumei na verdade. Torcedor é muito criativo. Sai cada coisa de lá que, quando eu conto, depois dou risada. Mas somos preparados psicologicamente pra isso. O jogo exige uma concentração e esses comentários acabam passando.

Qual seu principal momento na carreira?
Tenho muitos momentos únicos, na verdade. Lembro que passar no teste físico pela primeira vez foi um sonho realizado. Ganhar o escudo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) foi maravilhoso, ser escalada na Série A também. Mas esse momento que estou vivendo agora é especial. Acabei de receber a notícia do escudo internacional. É algo que tenho lutado, trabalhando muito. Quando soube, deu até tremedeira. Esse momento tem sido muito especial e estou me preparando bem pra ele.

Você consegue viver apenas da arbitragem?
Até gostaria, mas infelizmente não. Nós recebemos a escala de cada jogo praticamente na mesma semana quando ele acontece. Se for tudo ok, sem problemas, ótimo. Mas se não for ficamos de fora por um tempo, e sem jogo, sem taxa. Hoje, tenho uma empresa de Gestão Esportiva, onde ministro palestras, cursos e eventos na área esportiva e atuo como coach também.

O que projeta para seu futuro?
Uma experiência mundial. Quero um torneio mundial. A responsabilidade, a visibilidade, tudo aumenta. O trabalho, com certeza, triplica. Mas a palavra da arbitragem é resiliência. A gente vai nos blindando com tudo que possa vir acontecer. Agora é estudo, trabalho, treino e família. Essa, para mim, sempre será minha base.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS