Bate-Bola | Jeozadaque Garcia/Da redação | 15/10/2010 15h17

Bate-bola: Paulo Nonato de Souza

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Feijão em frente ao estádio do Chelsea-ING: jornalista já cobriu diversos eventos pelo mundo. Feijão em frente ao estádio do Chelsea-ING: jornalista já cobriu diversos eventos pelo mundo. (Foto: Foto: Acervo Pessoal)

Paulo Nonato

O interesse pelos esportes veio desde criança. Apesar de mostrar conhecimento no futebol, garante que nunca pensou em ser jogador. "Quando criança, no máximo eu queria ser treinador do Palmeiras ou presidente", afirma.

Palestrino fanático, Paulo Nonato de Souza, ou simplesmente "Feijão", tem um currículo bastante extenso no jornalismo esportivo. Já trabalhou na Rádio Record, SBT, e ainda escreveu algumas matérias para a Gazeta Esportiva.

No Bate-bola, o "jornalista-atleta" conta como se relaciona hoje com os esportes, algumas experiências de sua carreira e garante: os dirigentes são os principais culpados pela queda do futebol sul-mato-grossense. "Com o amadorismo de hoje não será possível chegar a lugar algum", decreta.

Esporte Ágil - Como e quando surgiu seu interesse pelos esportes?
Paulo Nonato
- Sempre fui ligado em esportes. Não apenas em futebol. Quando o Brasil ainda não tinha uma cultura esportiva e prevalecida apenas o futebol, minha preferência já era bastante diversificada: basquete, voleibol, boxe, fórmula 1, golf, enfim, tenho uma vida toda de paixão pelo esporte, porque entendo que esporte é saúde, é vida. Apesar de gostar muito do esporte, nunca sonhei seguir carreira em nenhuma modalidade. Quando criança no máximo eu queria ser treinador do Palmeiras ou presidente do Palmeiras. Quando fui trabalhar em São Paulo, tive a minha estréia em um jogo do Palmeiras diante do Bahia, em Salvador, e na seqüência acompanhei o Palmeiras em um torneio em Lima no Peru. Nem acreditava no que estava acontecendo. Nas minhas folgas na Rádio Record eu passava o dia inteiro no Palestra Itália. Cheguei a participar de reuniões do Departamento de Futebol e até fui candidato a membro do Conselho Deliberativo. Isso foi nos anos 80, mas até hoje tenho uma relação muito próxima com a direção do clube. Vou sempre a São Paulo assistir aos jogos do Verdão. O Palmeiras faz parte da minha vida. É como um membro da minha família.

EA - Praticava ou ainda pratica algum?
PN
- Ah sim. Ontem, hoje e sempre. Esporte para mim é tudo. É meu único vício. Não fumo e não bebo nem refrigerante. Atualmente gosto de correr e até participo de corridas. Treino todos os dias e faço parte de um grupo que treina as segundas, quartas e sextas às 18h30 no Parque dos Poderes. Os meus treinos são de 8, 10 e 12 Km. Quando está chovendo, faço esteira em casa. Não sou muito chegado em jogar futebol. Nunca gostei muito. Gosto mesmo é de tática de futebol, mas participo de algumas peladinhas sempre que é possível.

EA - Você foi correspondente da Gazeta Esportiva em MS na fase áurea do futebol local. Quais lembranças você guarda daquela época?
PN
- Não considero que eu tenha sido correspondente do jornal Gazeta Esportiva, mas fiz várias matérias do futebol local nos anos 80, especialmente sobre o atacante Lima, que estava arrebentando como artilheiro do Operário. Teve uma dessas matérias que foi capa do jornal com foto rasgada de meia página. A matéria foi decisiva para a contratação do Lima pelo Corinthians. Saiu num dia e no outro o Lima estava sendo apresentado à imprensa no Parque São Jorge. Tenho boas lembranças do futebol sul-mato-grossense daquela época. Não tínhamos clubes fortes, mas tínhamos times fortes e competitivos. Operário e Comercial davam show. Infelizmente os dirigentes não conseguiram enxergar o futuro. Quando a CBF anunciava a tabela do Campeonato Brasileiro, a primeira atitude do treinador Carlos Castilho era avaliar quantos pontos o Operário poderia conquistar ao longo da competição. Na época eram dois pontos. Jogos em casa ele sempre somava dois pontos. Fora de casa, contra Botafogo ou Fluminense, no Maracanã, era um ponto que ele somava. Contra Flamengo e Vasco, dois times fortes no jogo dos bastidores, ele colocava um ponto de interrogação. Contra times como Coritiba, Atlético Paranaense, Goiás, enfim, era vitória certa em Campo Grande ou na casa do adversário.

EA - Na sua opinião, por que o futebol de MS caiu tanto?
PN
- Caiu porque não houve visão de futuro. Eu culpo os dirigentes. Não houve planejamento. O que havia era apenas para o consumo rápido. Quando surgiu o movimento do Clube dos 13 pela implantação do sistema de divisões no futebol brasileiro não houve aqui quem levasse a sério. Na época eu trabalhava na Rádio Record e cobri uma reunião de dirigentes dos grandes clubes, liderada pelo presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, que encerrou a reunião afirmando que aquele era o futuro, que o Campeonato Brasileiro com a participação de representantes de todos os estados estava com os dias contatos. Corri no telefone e liguei para o presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul para contar a novidade. Nem vem ao caso dizer o nome do dirigente, até porque ele já faleceu, mas a resposta foi que a proposta do Clube dos 13 não iria vingar, que não seria aceita pela CBF e que haveria "virada de mesa". O fato é que o Aidar estava certo. Hoje não se imagina o futebol brasileiro disputado de outra maneira se não com as divisões.

EA - O que poderia ser feito para melhorar?
PN
- Essa resposta é fácil. Profissionalização e planejamento. Com o amadorismo de hoje não será possível chegar a lugar algum. A mudança de mentalidade terá que começar pela FFMS.

EA - E quanto as outras modalidades, quais você acha que mais se destacam?
PN
- Eu diria que o nosso futebol está em coma. Não está morto. Havendo a profissionalização, caso haja interesse de alguém com visão profissional e disposição de assumir, certamente será possível sair do coma. Fora o futebol, creio que outras modalidades como o voleibol e o basquete se destacam com grande potencial para evoluir no cenário esportivo sul-mato-grossense e brasileiro.

EA - Você acha que os clubes não dão o devido valor à uma assessoria de imprensa?
PN
- Creio que o grande problema seja a falta de recurso financeiro. Talvez até haja interesse deste ou daquele dirigente e até a compreensão da importância da comunicação, mas falta dinheiro para investir na contratação de uma boa assessoria. De qualquer forma, assessoria de comunicação se encaixa mesmo é em esquemas profissionais.

EA - Quais eventos marcantes você já cobriu?
PN
- Foram muitos anos trabalhando na imprensa esportiva. Nem consigo imaginar qual ou quais teriam sido marcantes. Estive numa Copa do Mundo, duas Copas América, uma Olimpíada, vários jogos da Seleção Brasileira, dos principais clubes brasileiros, jogos na Europa, enfim, todos igualmente marcantes. Lembro que nos Jogos Olímpicos de Seul eu ficava o dia inteiro dentro de um estúdio acompanhando todas as competições em monitores de TV. Eu estava a serviço do SBT e minha missão era acompanhar todos os jogos e produzir texto para os boletins que iam ao ar de hora em hora.

EA - Em sua opinião, o esporte é bem tratado pelo poder público em MS?
PN
- Penso que o poder público falha ao não proporcionar condições para que os nossos atletas de competições olímpicas possam treinar e se preparar adequadamente para as competições. Não há estrutura e por isso o atleta brasileiro se contenta quando chega numa Olimpíada, por exemplo, e comemora com um terceiro, quarto ou quinto lugar, enquanto um atleta americano chora e até se recusa a receber uma medalha de segundo lugar.

EA -Gostaria de deixar alguma consideração final?
PN
- Apenas a minha torcida para que haja uma revolução no nosso futebol. Louvo os dirigentes que fazem o impossível para manter viva a tradição do futebol local, mesmo sem nenhuma condição.

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