Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 18/07/2008 17h41

Bate-bola: Nelson Borges

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1) Nelson Borges fazendo o fly tying (atando moscas); 2 e 3) Piraputanga capturada no fly; e 4) Gafanhoto (mosca muito efetiva). 1) Nelson Borges fazendo o fly tying (atando moscas); 2 e 3) Piraputanga capturada no fly; e 4) Gafanhoto (mosca muito efetiva). (Foto: Fotos: Arquivo de Nelson Borges)

Nelson Borges

Poucos em Campo Grande sabem, mas nos fundos de uma casa simples no centro da Capital vive um dos grandes especialistas brasileiros no esporte chamado fly fishing (ou simplesmente fly). Campo-grandense de nascença, Nelson Borges tem 72 anos, sendo 48 apenas nessa modalidade da pesca esportiva, que segundo ele tem como principal destaque o envolvimento com a natureza. "Aprendi que caçar e pescar tem diferença. Teve dia de eu engatar 37 dourados numa manhã, e devolver todos", afirma.

Dono de uma biblioteca particular com mais de 300 livros sobre o fly - sem contar inúmeras publicações especializadas de vários países -, Borges se destaca também na montagem das 'moscas', que são as iscas utilizadas nesse tipo de pesca. Suas crias - trabalhos que podem ser comparados com artesanato - são exportadas para países como Estados Unidos, Inglaterra e Itália.

Esporte Ágil - Qual a diferença entre o fly fishing e a pesca tradicional?
Nelson Borges -
Em todos os equipamentos de pesca, você pega um peso adaptado a uma linha e faz o arremesso. No fly, você arremessa o peso de uma linha, o que é uma situação distinta. E na ponta dessa linha, vai uma mosca, generalizado, é a imitação de um inseto, de um forrageiro, ou de qualquer coisa que pertença como alimento no ambiente em que vive o peixe. Tudo o que se propõe, o fim que se determina, é pescar o peixe. Todos os equipamentos que se conhece, baitcasting, spinning, linha de mão, tudo isso é valido como pesca. No fly, existe uma linha distinta, que tem um peso próprio, combinada com a adaptação equilibrada de uma determinada vara, você põe isso no ar, e através de um movimento rítmico você faz o arremesso desse peso, que é a linha. Essa é a diferença básica.

Esporte Ágil - Qual o custo do equipamento de fly fishing?
Nelson Borges -
Você pode colocar um custo de mil, mil e duzentos dólares, mas isso é uma exigência num certo estágio. Tem equipamentos mais baratos. Mas o que acontece é que a pessoa que se dedica se vê frente com a possibilidade de um equipamento melhor.

Esporte Ágil - Como é a interação do pescador de fly com o meio ambiente?
Nelson Borges -
Você compatibiliza com a natureza, o que é a grande bandeira do pescador de fly. Tem uma diferença básica entre pescar e caçar. Na caça, você tem que necessariamente matar, na pesca não há necessidade de matar, você pode fazer a devolução do peixe. O que eu já devolvi de dourado para a água, acho que ninguém nesse Brasil devolveu a quantidade de dourado que eu devolvi, só em doze anos de corredeira do sabão. Teve dia de eu engatar 37 dourados numa manhã, e devolver todos.

Esporte Ágil - O que é o fly casting e o fly tying?
Nelson Borges -
Fly casting é o processo de um lançamento de uma linha de fly. E o fly tying é a maneira de como você monta as moscas de pesca, é uma arte. Inclusive tem artistas famosos no mundo. Paul Whitlock reproduz um gafanhoto que você olha e pensa que ele vai saltar em cima de você. É perfeito.

Esporte Ágil - Como está a difusão da modalidade no Brasil? E no Mato Grosso do Sul?
Nelson Borges -
Ocorre lentamente. Primeiro que nós não temos fabricantes dessas linhas, dessas varas, aqui no Brasil. Então são todos materiais baseado na importação, o que dificulta um pouco, mas já tem um grande número de adeptos, é um começo definitivo para ficar. Aqui é um pólo interessante, pois tem muitos pescadores de fly. Além de muitos, bons pescadores. São pessoas dedicadas que se propuseram a aprender e dominam perfeitamente o equipamento, que não é nada difícil, é uma composição de timing com um certo teor de agilidade manual.

Esporte Ágil - Pensam na criação de uma associação ou federação?
Nelson Borges -
Aqui a prova é que o carregador de tijolos sempre será um. Então esse clube ou associação vai depender do dia que aparecer um que resolva carregar tudo isso. Nós não temos nenhuma associação de pescadores esportivos, o que generalizaria.

Esporte Ágil - E o mito que o fly fishing só pode ser feito em águas rasas? É verdade?
Nelson Borges -
Noventa por cento da pesca de fly no Brasil são realizadas em cima de um bote. Tradicionalmente, nos países de origem do fly, se pesca vadeando (andando) pelo rio por dentro da água. Você pode vadiar um rio na altura da canela, assim você se movimenta normalmente, como também em lugares mais fundos, que vão no máximo até a caixa torácica, já que você precisa deixar os ombros de fora para praticar o fly. Agora, os nossos rios não têm condições privilegiadas para você poder vadear. Primeiro, a limpidez da água não é aquela desejada, você precisa saber onde está botando o "pézinho" para não afundar. Então são raros os lugares onde você pesca no Brasil vadiando. Existem os rios, lá no sul tem rios nessas condições, de porte médio para pequeno, como na Argentina e no Chile, que tem condições ideais para você vadiar o rio dentro da água. Mas aqui no Brasil, muito reduzidas as chances, então são feitas em cima de um bote.

Esporte Ágil - Onde pescar aqui no Estado?
Nelson Borges -
Todos os nossos rios são pescosos com o fly. A grande parte com o bote. Agora tem as corredeiras, cuja própria característica é serem mais rasas, onde se pode pescar com sucesso dourado, piracanjuba, piraputanga, os lugares são rasos, dá para você vadiar, mas não numa extensão considerável. Na Argentina, por exemplo, você entra às quatro da manhã no rio e sai às quatro horas da tarde pescando dentro da água, mas aqui as condições são impossíveis.

Esporte Ágil - Que dica você dá para quem quiser aderir o fly fishing?
Nelson Borges -
Desde que fale o próprio nome e consiga ficar de pé pode praticar o fly. Procure uma pessoa que conheça o fly, tendo já alguns anos de prática, que ele tem condições de administrar um ensinamento para evitar que a pessoa adquira vícios que depois serão impossíveis de serem retirados.

Os interessados podem entrar em contato diretamente com Nelson Borges, pelos telefones (67) 3029-8972 ou (67) 9983-4538.

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