Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 10/11/2008 15h49

Bate-bola: Jorge Dauri de Oliveira

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"Fomos campeões no domingo e na segunda-feira já nos mataram isso aí, com a armação da FFMS". (Foto: Foto: Vitor Yoshihara/Esporte Ágil)

Jorge D. de Oliveira

Ele não costuma aparecer muito na imprensa, ao contrário de seu time, ganhador de vários títulos de base nas últimas temporadas. Jorge Dauri de Olveira é o presidente do Vila Nova Esporte Clube, que desta vez teve que mudar esse conceito de ser invisível à mídia. Tudo por causa da última polêmica no futebol sul-mato-grossense: a transferência da vaga para a Copa São Paulo de Juniores, que pertencia ao Vila Nova Esporte Clube, por ter sido campeão da Copa MS Sub-18, para o Misto de Três Lagoas, terceiro lugar na mesma competição. Numa conversa exclusiva com o site Esporte Ágil, o dirigente criticou abertamente a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul e principalmente seu presidente, Francisco Cezário. Sem medo de represálias, Dauri parece que entrou nessa disputa pela sonhada vaga na Copa SP assim como seu time: para vencer.

Esporte Ágil - Como iniciaram os trabalhos do clube?
Jorge Dauri -
O Vila Nova começou em 1982 como uma forma social até, pela comunidade onde nós trabalhamos, que é a vila Moreninhas. Nessa época havia um índice grande de violência, ainda há inclusive, mas com nosso trabalho, além dos presidentes de associação, conseguimos reduzir um pouco isso aí, porque nós damos oportunidade para as crianças. Nossa escolinha tem 250 delas sem pagar nada, todas bancadas pelo clube mesmo, e essas crianças tem um momento de atividade, de lazer, que é treinar no Vila Nova. Treinam três vezes na semana, fora do período de aula. Quem estuda de manhã treina no período da tarde e vice-versa, com a obrigatoriedade de estar estudando. Isso contribuiu para a melhora da onda de criminalidade, já que você dá um sonho para o guri. Hoje o Vila é uma realidade até no Estado.

Esporte Ágil - Qual a estrutura do Vila Nova?
Jorge Dauri -
O bairro Moreninhas é dotado de uma infra-estrutura com estádio, ginásio e os campos da associação, que é onde nós trabalhamos, como o campo das Moreninhas III e do Parque Jacques da Luz.  O estádio a gente quase não usou [na Copa MS Sub-18] porque não houve um acerto político com a prefeitura para que a gente pudesse mandar esses jogos do Vila Nova lá nas Moreninhas, que era até uma obrigatoriedade de quem organizou a competição [FFMS], para que o Vila jogasse diante de seu público. A estrutura é muito pouca, nós contamos com colaboração dos comerciantes locais que acreditam em nosso trabalho. Se tem uma coisa que a gente tem é a credibilidade, então todo mundo colabora, tira dinheiro do bolso. Hoje temos oito pessoas trabalhando, entre técnico, massagista, preparador, lavadeira... tudo isso para que o clube possa de desenvolver.

Esporte Ágil - Já revelaram muitos jogadores?
Jorge Dauri -
Nós já temos alguns espalhados. Nossa esperança é que um dia possa vir alguma coisa desses meninos que estão fora para que o Vila Nova tenha seu CT, não dependa mais de prefeitura ou de Estado para poder treinar ou jogar. Temos alguns meninos no Grêmio, hoje o camisa 10 da equipe juvenil é o Sandro, que inclusive "bancou" um atleta da seleção brasileira de base, o Morano. Tem o Jhonatan, que é jogador do tricolor gaúcho, mas está emprestado para o Juventude, e que também jogou no time sub-18 do Brasil ano passado no Japão, além de atletas em outros clubes de menor expressão.

Esporte Ágil - Como foi a preparação para a Copa MS Sub-18?
Jorge Dauri -
Como nós tínhamos certeza que iríamos disputar a Copa SP, essa preparação começou em fevereiro. Em março, jogamos o Campeonato Brasileiro na cidade de Capitão Leônidas Marques, no Paraná, onde enfrentamos Internacional, Figueirense, Pão de Açúcar, Grêmio. Foi uma preparação muito forte. Retornando de lá, jogamos a Liga Juvenil para atletas 91 e fomos campeões. Jogamos a Liga 90 para atletas de 18 anos e fomos campeões. Jogamos a Ligas Clubes e fomos campeões. Jogamos a Mercosul e fomos campeões invictos. Fomos campeões recentemente da Copa Moreninhas Amadora e fomos campeões estaduais, tudo isso sempre com a mesma equipe. Quer dizer, houve uma preparação já voltada para a Copinha, e é isso que nos magoa, que nos chateia, os meninos a maioria estão estressados, entrando em depressão, porque esse era o sonho de todos eles, era uma oportunidade quem sabe de mudarem a vida de familiares, pais, inclusive por serem todos garotos pobres.

Esporte Ágil - Como vocês receberam a notícia da revogação da vaga do Vila Nova?
Jorge Dauri -
Não adianta o [Francisco] Cezário estar dizendo por aí que foi Federação Paulista [de Futebol], porque isso é um monte de inverdade. Isso advém da corrupção que já existe há muito tempo na nossa federação, no nosso futebol. Tanto é que hoje o futebol sul-mato-grossense não tem nenhum time na Série C do Brasileiro, e nós vamos ter no ano que vem apenas um clube na Série D. Esse é o legado que ele vai deixar para os clubes. Taveirópolis acabou, Comercial não existe mais, perdeu sede, Operário não existe... [A revogação da vaga] é uma coisa que entristeceu. Eu estava em Três Lagoas jogando contra o time dele, do Cezário, que é o Misto. Ganhamos de 2 a 0 e de lá recebi uma ligação dizendo que ele estava nos programas de rádio falando que o Vila Nova não poderia jogar [a Copa SP], porque não se enquadrava em algumas coisas... Só que antes, ele já havia mandado o vice dele, o [Aristides] Cordeiro, me fazer proposta indecente. Tenho até testemunhas, acho que até o Washington [Kaku], fotógrafo, estava junto, escutou tudo, e ele não se preocupou porque acho que talvez achou que eu ia ceder. Chegou no meu escritório e disse que eu não teria como recuar. Teria que jogar a Copa SP com o nome e uniforme do Misto, trazer oito jogadores do time três-lagoense e eu teria que levar o Miro, que é o, como que eu vou dizer isso, eles [Cezário e Miro] tem uma amizade de pai para filho, de marido para esposa. Essa amizade que ninguém consegue explicar deveria ser o chefe da delegação. O Vila Nova não apareceria em lugar nenhum e eu não aceitei. A partir do momento que ele saiu, protocolei na federação que eu queria já a vaga e que definisse logo que o Vila já era um dos clubes que teria a vaga na Copinha, e isso revoltou eles. Aí começaram essas coisas nos bastidores, o Miro e o Cezário entrando em contato com a Federação Paulista. O mesmo ouvidor que me respondeu 15 dias antes que a taça era competição amadora, o Miro conseguiu que esse mesmo ouvidor dissesse que o torneio era para equipes profissionais. Foi uma armação, de presidente de federação para outro, isso existe, tanto é que a corrupção não é só no nosso Estado. Foi com tristeza que recebemos essa notícia, porque foi um trabalho voltado para isso aí. Mas que o senhor Cezário não se engane, o Vila Nova vai jogar a Copa São Paulo sim. Estamos entrando com advocacia, a família Trad está trabalhando com a gente, já entregamos um pedido para que a federação indique o time como representante de MS. Caso contrário vamos tomar as medidas cabíveis, e se possível vamos pedir o ressarcimento das nossas perdas morais, físicas e psicológicas. Tudo o que pudermos fazer contra essa pessoa de nome Cezário nós vamos fazer.

Esporte Ágil - O que aconteceu com os garotos após essa confusão?
Jorge Dauri -
Tivemos que liberar os meninos, pois estamos com essa briga jurídica agora e isso poderia afetar ainda mais os garotos. Mas eles estão todos cientes que nós vamos brigar por isso a todo o instante. Se não conseguirmos vamos denunciar, fazer isso chegar à nível de Brasil. Essa era a oportunidade da vida deles. O próprio comentarista Marco Antonio Silvestre, do Bom Dia MS da Rede Globo, falou que desse time do Vila Nova praticamente não voltaria nenhum jogador, praticamente seriam todos negociados, pelo nível da equipe. É um time que na fase final, quando ficaram quatro equipes, de 18 pontos conquistou 16, sendo cinco vitórias e um empate. Desbancamos Águia Negra, Sete de Setembro, Misto, Cene e Comercial. Por ser um clube de periferia, isso é uma coisa que entrou para a história.

Esporte Ágil - Quais seriam os destaques desse time na competição?
Jorge Dauri -
Não dá para citar individualmente, mas o grupo foi muito forte. Tanto é que durante a competição nós já andamos sofrendo algumas represálias da federação em relação à arbitragem, sempre tinha gente expulsa, mas quem entrava sempre mantinha o padrão da equipe. Então individualmente não vou citar ninguém, e o Chaveirinho que conseguiu fazer a "mulecada" entender que a Copinha era tudo na nossa vida, era uma oportunidade de ouro para todo mundo. Mas infelizmente nós fomos campeões no domingo, e na segunda-feira já nos mataram isso aí, com a armação da FFMS.

Esporte Ágil - Você está brigando de vez com a federação. Caso não tenha sucesso nessa empreitada, qual será o futuro do Vila Nova?
Jorge Dauri -
Eu acredito que por vivemos num país democrático, acredito nas leis. Assim como nós precisamos respeitar as leis, acredito que o Cezário não pode ser imponente nesse ponto. Ele não é Deus. Mas se por ventura, eu não sei o que que tem atrás disso aí, nós não conseguirmos, vamos entrar na justiça comum, pedir todo ressarcimento de nossos prejuízos, porque quem garante que não ia negociar pelo menos quatro ou cinco jogadores desses aí. Então vamos estipular preço nesses atletas, vamos ver o que é possível fazer. Não sei daonde ele vai tirar esse dinheiro, mas ele vai ter que nos indenizar. E para futuro, o que a gente pode esperar? Por ser um clube de periferia, um clube novo e pequeno, nós estamos brigando com o presidente da Liga de Futebol, Aristides Cordeiro, e com o presidente da Federação de Futebol. Então você não vê muita expectativa, mas eles não vão matar o Vila Nova, que é um clube que existe desde 1982, não nasceu ontem para ele. Se não pudermos jogar campeonato deles, vamos continuar nosso trabalho de base, trabalho social, voltar pro início, vamos retornar e seguir ajudando a meninada que sempre foi nosso objetivo.

O Esporte Ágil deixa aberto o direito de resposta dos citados na entrevista no espaço bate-bola.

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