Bate-Bola | Jeozadaque Garcia/Da redação | 16/12/2010 10h41

Bate-bola: Ben-Hur Laprano

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Ben-Hur esteve na Capital durante o Estadual de Verão, realizado no Poliesportivo Dom Bosco. Ben-Hur esteve na Capital durante o Estadual de Verão, realizado no Poliesportivo Dom Bosco. (Foto: Foto: Jeozadaque Garcia)

Ben-Hur Laprano

O técnico Ben-Hur Laprano pode ser considerado um dos grandes responsáveis pelo surgimento de jovens talentos na natação sul-mato-grossense. Entre seus "pupilos", nomes como Lucas Kanieski, do Minas Tênis, e Joarez Vedovato, tido por muitos como o melhor nadador do Estado em 2010.

Ben-Hur é paulista de São José do Rio Preto, mas fez de Dourados sua casa. Lá, dá aulas de natação na Aquacenter, e afirma que sua cidade é um dos principais celeiros de atletas no Estado.

"Eu acho que nós teríamos que fazer uma pesquisa mais a fundo, pois Dourados tem uma qualidade de atleta muito grande em todas as modalidades", comenta.

No Bate-bola, ele fala sobre sua carreira, a dificuldade de apoio aos atletas e afirma que já sugeriu implantar o sistema campo-grandense de apoio ao desporto em Dourados, mas não conseguiu.

"O pessoal falou: 'Pelo amor de Deus, não copia de Campo Grande'", brinca.

Esporte Ágil - Como e quando começou seu interesse pela natação?
Ben-Hur
- O interesse começou aos 6 anos, fui atleta e nadei até os 18 anos. Antes de eu terminar minha carreira de atleta, eu já trabalhava, pois desde os 14 anos eu já trabalhava como auxiliar técnico de natação. Trabalhava com escolinhas, aperfeiçoamento, e com 18 anos e já dirigia equipe, por isso parei de nadar competitivamente.

EA - Você pode enumerar alguns títulos que ganhou quando competia?
BH
- Eu já fui campeão universitário em São Paulo, fui campeão paulista. Hoje a tecnologia permite que atletas tenham tempos e condições de treinamentos muito melhores do que na minha época. Nós não tínhamos piscina cobertura e aquecida, não tínhamos musculação, toda essa tecnologia.

EA - E por que você veio para Dourados?
BH
- Eu fui convidado na verdade para vir para Campo Grande há 26 anos. Eu deixei de vir para Campo Grande, trabalhar no Rádio Clube, e indiquei um amigo meu para vir no meu lugar, que é o Luis Naime, que está aí até hoje. No ano seguinte, apareceu um convite muito bom para ir para Dourados, treinar uma equipe que era a segunda do Estado.

EA - Quais atletas você já revelou para o Estado?
BH
- A natação de Dourados é muito rica e farta. Nós tivemos atletas que despontaram no Estado, como a Fernanda Moraes, Lucas Kanieski, Cândido Júnior, Bernardo Nunes, Joarez Vedovato. São todos atletas de Dourados que "medalharam". E outros atletas que muitos não conhece. A primeira vice-campeã brasileira é lá de Dourados, a Solange Sakaguti. E outros tantos atletas, meu próprio filho, Ben-Hur, já foi primeiro do Brasil. Mas isso faz um tempinho, o pessoal parou faz tempo.

EA - Por que você considera Dourados como uma referência na natação do Estado?
BH
- Eu acho que nós teríamos que fazer uma pesquisa mais a fundo, pois Dourados tem uma qualidade de atleta muito grande em todas as modalidades. Eu sou professor universitário e até sugeri a alguns alunos que fizessem uma pesquisa. Mas como é uma pesquisa que você tem que mexer com genética, fica um pouco mais dificil. Mas eu acho que seria necessário.

EA - Como você avalia a natação hoje em Mato Grosso do Sul?
BH
- Nós já tivemos grandes momentos. Um momento recente foi quando o Kanieski nadava aqui, o Cândido, a Elizana... Esse momento foi um dos melhores que a natação de Mato Grosso do Sul já teve. Foram expoentes da natação que acabaram indo para outros grandes centros. Hoje seria um segundo momento sim tão importante quanto aquele.

EA - Mato Grosso do Sul pode se orgulhar por "exportar" tantos atletas?
BH
- Não deveríamos perder. Perdemos pois os órgãos competentes, aquelas pessoas que deveriam fomentar o esporte, não olham para esses atletas. Só por conta disso a gente perde atleta. Nós temos bons atletas e excelentes técnicos, e nós temos boas praças esportivas. Por que esses atletas vão embora? Simplesmente para procurar condições de competição. Eu sei que a Prefeitura de Campo Grande tem um programa de incentivo ao esporte, mas não chega ao atleta pelo que eu estou sabendo. Infelizmente "apadrinhados" acabam recebendo esses recursos e os verdadeiros atletas, aqueles que precisam, não recebem. Posso estar até sendo injusto com essas pessoas, mas o que eu escutei foi isso. Eu já disse até que esse programa deveria ter sido copiado em Dourados, e o pessoal falou: 'Pelo amor de Deus, não copia de Campo Grande'. O vereador indica, o deputado indica, o senador indica... Não deve ser isso aí. Quem deve indicar é o rendimento do atleta.

EA - Você já falou sobre o uso de anabolizantes em jovens atletas. Você tem conhecimento dessa prática aqui no Estado?
BH
- O uso de anabolizantes é uma prática constante, tanto é que a Confederação Brasileira estabeleceu a partir desse ano que toda competição nacional vai ter anti-doping, pois as crianças estão tendo muito acesso. E infelizmente é indiscriminado, tem acesso em academia. Já escutei pré-adolescente falando para a mãe ir buscar na farmácia, e a mãe não se preocupou em saber se aquilo era lícito.

EA - Você tem conhecimento de atletas aqui no Estado que fazem uso dessas substâncias?
BH
- Eu já vi alguns atletas fazendo uso, mas nós não podemos tomar nenhuma atitude, pois não temos como solicitar que ele faça um exame anti-doping.

EA - E esses atletas se beneficiaram com o uso? Foram campeões?
BH
- Em todas as competições que não teve anti-doping, sim.

EA - E o que fazer para mudar essa mentalidade do jovem atleta?
BH
- A primeira coisa é fazer isso que você está fazendo, que é colocar às claras. Mostrar que existe, que os pais não podem se afastar. Isso vai causar comprometimentos graves, como câncer e impotência. É um beneficio rápido que a pessoa tem, mas que causa um comprometimento eterno. E as confederações fazerem o uso do anti-doping para prevenir, pois se o atleta sabe que vai ter, ele não pode usar, pois a substância demora pra sair da circulação.

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