Bate-Bola | Estevan Oelke | 28/11/2014 10h13

Bate Bola: Angelo Mendonça de Souza

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Angelo Mendonça

Angelo Mendonça de Souza é professor da rede municipal de ensino e no Colégio Militar, formado em educação física UFMS.  Mas além de tudo é entusiasta e voluntário no clube sul-mato-grossense de xadrez, trabalhando com projetos sociais, com o ensino do xadrez para as crianças de graça. Angelo também é diretor da Liga Brasileira de Xadrez, árbitro da federação internacional e da confederação brasileira.


Em bate-bola com o Esporte Ágil, Angelo destaca os benefícios das práticas do Xadrez, além de expressar sua opinião sobre o incentivo ao esporte no estado de Mato Grosso do Sul

Esporte Ágil: Quando e como começou a sua vida no esporte?

Angelo: Com o xadrez, especificamente, foi na escola. Quando assumi concurso, assumi as aulas de um professor que era contratado e ensinava xadrez. Eu não sabia nada sobre xadrez, e nas aulas de educação física, nos períodos de chuva eu tive essa possibilidade de levar o xadrez para a sala de aula e eu achei que iria ensinar alguma coisa, mas acabei aprendendo com os alunos desse outro professor. Então eu entrei em contato com ele, descobri que ele estava ministrando cursos, comecei fazer esses cursos e estudar, não parei mais. Inclusive hoje, a parte de capacitação tanto do estado, dos professores do município sou convidado para fazer essas capacitações. Semana passada, dei uma capacitação para os professores do município e eu me apaixonei, tenho isso como um hobbie e pretendo transformar esse hobbie em trabalho, porque eu amo o que eu faço.

Esporte Ágil: Qual é a sua visão do xadrez no Mato Grosso do Sul?

Angelo: Infelizmente, nós estamos engatinhando por conta de não ter uma representatividade em termos de federação. A federação de xadrez do Mato Grosso do Sul infelizmente está nas mãos de uma pessoa que já está a quase trinta anos com esse título de "presidente", mas não faz nada. Nos últimos quinze anos, essa pessoa não faz nada. "Ah, mas já fez?" sim, já fez muito, tenho muito a agradecer sobre o que essa pessoa fez pelo xadrez, não tiro o mérito, ele merece o prestígio, merece o respeito pelo trabalho que fez. Porém hoje não faz e "trava" quem quer fazer. E por isso nós precisávamos de uma entidade que representasse o xadrez. Em um grupo de amigos que jogavam informalmente, nos organizamos juridicamente, hoje nós temos um clube que é uma pessoa jurídica, para que a gente pudesse de alguma forma participar de convênios, procurar empresas como apoio. Enfim, transformar o que era sem profissionalismo em algo profissional, com recursos, com espaços, e estamos quase alcançando esses nossos objetivos.

Esporte Ágil: O governo incentiva o xadrez? 

Angelo: Sem contar as praças, tanto a prefeitura quanto o governo, incentivam muito o xadrez nas escolas. Hoje, praticamente 90% das escolas tem o xadrez como opção. Então tem um professor de treinamento ou de projeto que fica na escola atendendo as crianças no contra turno, assim como a modalidade de basquete, futebol, voleibol, atletismo, o xadrez é uma realidade. Então, tanto a prefeitura quanto o estado, investem e muito nesse xadrez.

Esporte Ágil: Nos campeonatos de xadrez que o clube organiza, costumam ter muita gente?

Angelo: Costumamos fazer uma comparação assim: hoje o xadrez é o segundo esporte mais praticado no mundo, é a segunda maior federação de esporte do mundo, só perde para a FIFA. Então assim, onde estão esses jogadores? Normalmente eles estão virtualmente, você entra em qualquer site de jogo de xadrez e encontra milhares de pessoas "logadas" jogando ao vivo com o mundo inteiro, inclusive eu, e também propiciamos alguns espaços. 


Então nós temos hoje um clube de xadrez que funciona aos sábados, em uma sede localizada no sindicato dos professores, na Rua 7 de setembro, 793, centro, e funciona das 14 às 18 horas. Nesse clube, uma vez ao mês nós organizamos campeonatos. Comparando com o futebol, num campeonato brasileiro temos 20 clubes, esses clubes eu consigo comparar como se fossem 20 pessoas. Se você comparar com o número de pessoas, cada time tem 22 jogadores, é muita gente. Só que como o xadrez é um esporte individual, no último campeonato tivemos 44 jogadores que eu considero como se fosse um campeonato com 44 times, e na minha opinião, é muita gente. Há muito tempo não temos o reconhecimento da confederação brasileira, o xadrez passa despercebido aqui. Mas nosso trabalho vem sendo reconhecido e com isso eu fico muito feliz. Estamos também despertando outras pessoas que estavam "adormecidas", como por exemplo, antigos parceiros da antiga federação brasileira de xadrez do MS.

Esporte Ágil: Como vê seu papel em frente ao clube, quais são seus planos e maiores desafios?

Angelo: Eu tenho um projeto pessoal, através de um convênio público e de uma parceria privada, estamos elaborando um projeto de um centro de excelência de xadrez aqui em Campo Grande. As crianças atendidas nas escolas, em projetos sociais tem um acesso limitado ao conhecimento sobre xadrez. As que vão se destacando são indicadas pelos professores e diretores a frequentar esse centro de excelência de graça. Existem verbas públicas para bancar isso. Temos professores altamente capacitados para oferecer pra essas crianças, um nível um pouco maior do que aquele que ela conhece na escola, então ela vai conhecer o que é realmente o xadrez, com cálculos, variantes, com conhecimento mais apurado sobre aberturas, conhecimento sobre finais, com capacidade de disputar um campeonato brasileiro, ou até mesmo um sul-americano. 

O meu sonho é que o xadrez da escola não fique só naquela coisa básica, o xadrez é uma coisa infinita, ele tem muito mais a oferecer, como o raciocínio lógico, a capacidade matemática, o cognitivo. Como clube, eu tenho o sonho de que possamos oferecer suporte nas cidades do interior, fornecer material, dar suporte pedagógico e técnico para esses professores desempenharem também um papel mais a altura. Tem professores que não tem o apoio da prefeitura, não tem tabuleiros, ele faz por gostar, pois não ganha dinheiro, muitas vezes ele é limitado de conhecimento, tem a boa vontade de ensinar, mas nós poderíamos melhorar isso pra ele. Oferecer uma oficina, dar material, conseguir um convênio para que esse professor possa ser remunerado por esse trabalho. São sonhos, mas queremos chegar lá.

Esporte Ágil: Como as pessoas interessadas na prática ou nos campeonatos podem participar do clube?

Angelo: O clube é filantrópico, não tem finalidades lucrativas, é aberto ao público, qualquer pessoa que queira comparecer aos sábados no sindicato dos professores, é gratuito. Nos torneios temos taxas simbólicas para a manutenção do clube, para cobrir os custos com peças, relógios, tabuleiros, impressão de material, na verdade é apenas para subsistir, não dá pra ganhar dinheiro.  

Esporte Ágil: Como praticante, o que o xadrez já acrescentou na sua vida?

Angelo: A memória é algo treinável, assim como treinar um músculo, se você treinar muito, ele vai hipertrofiar e de alguma forma você vai ficar "musculoso" naquela região que você treina mais. A mesma coisa acontece com o cérebro, no xadrez, ele te ensina o tempo todo a pensar, a progredir no raciocínio, e isso indiretamente auxilia em diversas áreas. Auxilia no administrativo, nas suas coisas do dia-a-dia, ajuda a não esquecer, você consegue lembrar de mais coisas do que uma pessoa que não tenha uma prática lógica. O xadrez me ajuda muito, na parte de concentração, por exemplo, antigamente eu começava a ler um livro e na primeira página já divagava, se me perguntassem o que eu tinha lido 5 minutos atrás, eu não saberia responder. Agora, eu consigo ler 5 páginas e o que você me perguntar eu lembro. No xadrez, quando você faz um lance, acaba envolvendo estratégias que você não pode esquecer, pois se você esquece, está fadado à tomar um vareio de seu adversário. Eu dou um exemplo para os meus alunos assim: quando você sai de casa para ir à escola, você não pode no meio do caminho esquecer aonde vai. Você tem que ter um objetivo, ter um plano e um percurso do que você vai percorrer até o final do seu objetivo.

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