Voar com os pés no chão: paixão por aeromodelismo em Campo Grande
George Corpa, advogado, voa há 55 anos. Hoje, com 66 , é o único membro ativo da primeira diretoria de aeromodelismo de Campo Grande. Sua paixão começou quando o seu tio comprou um aeromodelo para o filho mas ele não gostou, então o presente foi repassado para Corpa, que teve um amor ao primeiro voo (primeira vista, quis dizer). O avião era preso a um cabo de aço, com aproximadamente 15 metros, e ficava voando em movimentos circulares em volta do piloto. Em 1972, Corpa passou do cabo para o rádio. Hoje, ele tem quatro aviões e está construindo um dos maiores do Brasil, com 5 metros de corpo por 5 metros de asa, motor com 275 cilindradas à gasolina. O primeiro voo do aeromodelo em construção terá que ser em um local grande e sem habitação, como o Pantanal.
Antigamente o avião não tinha qualidade no material, e há 20 anos, era pintado com tinta automotiva, por exemplo, e não existiam madeiras leves para a fabricação. Segundo Corpa, hoje, ficou mais rápido você construir o aeromodelo, já existem tintas especiais que deixam o avião mais leve e materiais que possibilitam uma melhor construção.
Campo Grande não possui uma área regulamentada para a prática do hobby e não existe interesse do Estado em criá-la. Recentemente, a pista que era utilizada pelos pilotos foi interditada por motivos de segurança. Uma normativa, com diversas regras novas, proibiu que os voos continuassem a ser ali. O espaço com pista asfaltada, banheiros, churrasqueira e estrutura para receber eventos teve que ser deixado pelos pilotos.
Atualmente, a capital conta com um clube de aeromodelismo, os MANICACAS. Manicaca é uma gíria usada no meio da aviação que se refere ao piloto que está aprendendo a voar e ainda está atrapalhado ou desengonçado com a novidade. O grupo, com mais de 10 anos de existência, possui 40 associados que se reúnem todos os finais de semana, “faça chuva ou faça sol”, para voar e curtir o dia com os amigos. Os pilotos se reúnem na sede, localizado atrás do Posto América, no Rodoanel Rodoviário, na BR-163.
(Foto: Gustavo Zampieri)
Outra pista utilizada por pilotos é o “Porto Seco” (conhecido como Vale da Morte). Ali, a atividade é considerada clandestina, o piloto chega, monta o seu avião e voa sem nenhuma segurança ou regra. Não existe nenhum tipo de proteção ou acessibilidade para voar. Muito diferente de uma pista considerada profissional, onde existem regras e normas de segurança, como por exemplo, o limite máximo de pilotos voando por vez, ou a permanência, apenas, do piloto na pista, e grades e portão de proteção.
(Foto: Gustavo Zampieri)
Mordidos pelo mosquito do aeromodelismo
Marcus Carvalhal, 49 anos, Servidor Público Federal e presidente da pista, voa há 8 anos. “Um sonho de criança”, como ele diz, que foi transformado em realidade após conseguir comprar o primeiro avião. Seus dois filhos seguiram seus caminhos, porém, atualmente, o mais velho, de 22 anos, não continua voando, e o mais novo, com 17 anos, acompanha o pai em todos os finais de semana. Marcus diz que o estilo do filho é diferente do seu. Neste momento a conversa é interrompida por um comentário gritado por um outro piloto: “seu estilo é estilo de lagartixa. Só fica na parede”. A referência foi uma suposta acusação que Marcus não voa e só coleciona os aviões.
Dante Vignoli, 42 anos, formado em Análise de Sistemas, hoje é empresário, mas já foi lojista de aeromodelo e funcionário público. Está no hobby há 20 anos. Ele começou pelo automodelismo, mas não gostou, e em 1996, por intermédio de um amigo, que o levou para conhecer a pista, ficou apaixonado. “Cheguei lá e fiquei louco, quero, vou começar”. O aeromodelo era mais barato do que o automodelo, o que ajudou a consolidar a paixão. Hoje, Dante é praticante do aeromodelismo a jato, mas não se desprende dos aviões à hélice.
E para finalizar, Rogério Albano, o mais novo entre os pilotos (em anos de pilotagem e idade). Está há 4 anos no esporte. Com 38 anos, ele é considerado o “doutor em lenhas” (lenha é o termo utilizado para o avião que foi destruído ou quebrado), além de ser instrutor de voo. Diferente dos outros pilotos, o amor do Rogério está na construção e reparos dos aeromodelos. “Hoje as pessoas têm o hobby na prática do voo mas não têm na prática de montagem. Têm pessoas que não são muito a fim de montar, construir, e ai é onde encaixa minha linha profissional”. Rogério é piloto também, mas sua fascinação está na construção. “E depois de tudo isso, ter um aeromodelo de alta performance, bem construído e fazer as manobras no ar. É apaixonante”.
(Foto: Gustavo Zampieri)
Além do hobby
Para os pilotos, o fim de semana, mais especificamente o sábado, é sagrado. Eles se reúnem a partir das 14h e ficam até o último raio de sol. Ali, o importante é a amizade e a boa conversa. Algumas vezes, em tempo fechado ou chuvoso, eles vão simplesmente para encontrar os amigos.
O aeromodelismo vai muito além de um simples hobby. “É uma válvula de escape. Não é só o fato de voar e sim encontrar os amigos, conversar”, comenta Dante.
Para Marcus, “O aeromodelismo é a união, essa bagunça que a gente faz aqui, a amizade, um ajudando o outro, momento de desestressar, de tirar toda a tensão da semana. E você vem pra cá e esquece tudo que é problema, se diverte, dá gargalhada, fica batendo papo o dia todo. Para mim o aeromodelismo é para você desestressar mesmo. Esquecer os problemas que você tem”.
Além disso, o aeromodelismo é a possibilidade de realização de um sonho. Para Dante, ele encontrou a “satisfação de poder voar com os pés no chão”. Voar um avião real foi uma questão que ele não teve condições, e achou no aeromodelismo esta oportunidade. Os comportamentos (comandos) do avião real são os mesmos que no aeromodelo. “Se eu entrar dentro de um avião eu piloto o avião real, só que o piloto de avião real não consegue pilotar o aeromodelo. Chega a ser engraçado, mas é verdade”.
(Foto: Gustavo Zampieri)
Custos
O esporte é considerado de ricos, pelo alto custo dos equipamentos e manutenção. Mas os praticantes desmentiram essa suposta tese. Segundo Rogério, é possível começar com R$ 3 mil, incluindo todo o equipamento novo mais as aulas para a aprendizagem (média para um avião comum). Em primeiro momento pode ser um valor alto, mas os pilotos garantem que o material dura bastante e é possível brincar por um bom tempo. A garantia do aeromodelo, como se costuma dizer é de, “10 anos ou 10 metros”. O gasto mensal, em média, é de R$250,00, incluindo deslocamento, mensalidade da pista e galão de combustível.
Em 20 anos de aeromodelismo, Dante já gastou mais de R$300 mil em equipamentos (carretas para o transporte e aviões e seus materiais). E ele ainda afirma que esse valor não é nada comparado com outros pilotos. O Rogério, em seu pouco tempo, conta que já gastou a quantidade de um preço de carro popular. A mesma quantia foi divulgada por Marcus, em seus 8 anos de aeromodelismo.
E Dante ainda brinca: “Quando vamos comprar um brinquedo, geralmente a gente tira o 0 a direita. Custou R$10.000,00? Tira um 0 ficou R$1.000,00. você nunca conta a verdade. O problema é o seguinte, sabe qual é o meu maior medo? Quando eu morrer e minha esposa for vender pelo preço que eu falei para ela”.
(Foto: Gustavo Zampieri)
Curiosidade
Ayrton Senna teve um papel extremamente importante no aeromodelismo brasileiro. Brasil e Japão não possuía um acordo de exportação de produtos. Então Senna, um aeromodelista fanático, fez a ponte entre os países e possibilitou que peças e motores japoneses chegassem ao país, melhorando as aeronaves. Corpa foi amigo pessoal de Aryton Senna e possui um de seus aeromodelos, avaliado atualmente, em uma grande quantia.
O aeromodelo é construído por três partes: a estrutural que pode ser de madeira, fibra ou metal). Mecânica e Eletrônica (é o que faz o avião voar). E por fim, o combustível, podendo ser Glow, Gasolina, Diesel ou Querosene. E a motorização elétrica, que funciona a base de bateria.
Como fazer para começar a voar?
Em três passos você pode ser um piloto de aeromodelo. Primeiro você adquire o equipamento. Depois, contrata as aulas com o instrutor para aprender a voar. E por último, você pratica muito.
Vale lembrar que o aeromodelo não possui idade, mas é recomendável que a criança tenha 14 anos para iniciar. O aeromodelismo não é brinquedo e se não possuir os cuidados e as medidas de segurança, ele pode causar acidentes sérios.
História
O aeromodelismo surgiu com o francês Alphonse Penaud. Após um reumatismo muscular, ele foi impossibilitado de seguir a desejada carreira militar, então, passou a estudar e resolver problemas relacionados à aviação. Em 1870, Penaud criou o motor a elástico com tiras retorcidas. O funcionamento era a partir de tiras elásticas que giravam a hélice e movimentavam o equipamento.
No ano seguinte, Penaud constrói o Planophore, o primeiro modelo de avião a elástico. Segundo a COBRA, Confederação Brasileira de Aeromodelismo, “esse modelo voava muito bem e estabeleceu o desenho básico dos modelos atuais”. O seu primeiro voo durou 13 segundos e percorreu uma distância de 60 metros a 20 metros de altura. Enquanto, o primeiro avião foi criado apenas em outubro de 1906, por Alberto Santos Dumont. Ou seja, o aeromodelismo surgiu muito antes do avião. Para a Sociedade Francesa de Navegação Aérea, Penaud foi quem deu a origem às máquinas de voar.
No Brasil, não existem documentos ou dados que mostrem como esse esporte se iniciou. Sabe-se que em 1936 existia uma loja em São Paulo que vendia materiais para a construção de aeromodelo. Em 1941, kits de modelos americanos eram importados pela loja Almeida e Veiga. Em 19 de julho de 1942 acontecia o primeiro campeonato Paulista de Aeromodelismo, no Campo de Marte, em São Paulo.
Serviço
Local: Manicacas Clube de Aeromodelismo
Endereço: Parque Res. Rita Vieira, Campo Grande - MS
Telefone: (67) 98401-6399
*Reportagem produzida por Gustavo Zampieri, acadêmico de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
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