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Transformar vidas através da capoeira: Jamylle Damasceno vive a missão no MS

da redação - 30 de jul de 2025 às 15:41 37 Views 0 Comentários
Transformar vidas através da capoeira: Jamylle Damasceno vive a missão no MS Da Redação

A capoeira entrou na vida de Jamylle Damasceno ainda na adolescência. Natural de Guarulhos (SP), ela conheceu o esporte em 2004 e, anos depois, após uma pausa, reencontrou seu caminho com a arte afro-brasileira em Campo Grande. Desde 2019, se dedica intensamente à prática e ao ensino da capoeira, e hoje vive dela. Aos 33 anos, mãe da Isabella, formada em Educação Física, Jamylle é educadora, capoeirista e agente de transformação social por meio do Projeto Capoeira Salva, liderado pelo Contramestre Jardel.

 

"Minha motivação para me envolver com o Capoeira Salva vem desse desejo profundo de transformar vidas por meio da capoeira, especialmente de crianças e jovens que enfrentam desafios na periferia", explica. No projeto, ela atua como estagiária e é responsável pela parte administrativa da associação. Além disso, leva a capoeira para escolas públicas e particulares, comunidades quilombolas e demais espaços educativos, ampliando o alcance de uma arte que, para ela, vai muito além dos movimentos corporais.

 

Jamylle descreve a capoeira como uma ferramenta de transformação social, cultural e pessoal. “É ver a capoeira como caminho de inclusão, respeito e oportunidade que me motiva todos os dias.” Sua atuação está diretamente ligada a esse propósito: utilizar a capoeira como instrumento de educação e empoderamento, especialmente para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

 

A trajetória como mulher preta, mãe e capoeirista não foi isenta de obstáculos. Ela reconhece os desafios enfrentados por mulheres dentro de uma prática historicamente dominada por homens. “Desde o olhar desconfiado, o espaço conquistado com dificuldade, até o equilíbrio entre a rotina exaustiva de mulher e mãe com o compromisso que a capoeira exige.” No entanto, vê avanços significativos na presença e no protagonismo feminino na roda. “As mulheres vêm conquistando cada vez mais o seu espaço na capoeira, tanto aqui em Mato Grosso do Sul quanto pelo mundo afora.”

 

Uma das experiências mais marcantes de sua caminhada é com um aluno autista, o primeiro com quem teve contato direto. “Eu não tinha experiência nem as ferramentas necessárias para lidar com a situação. Mas, graças ao meu mestre que entende muito bem do assunto e à busca incessante por conhecimento, consegui adaptar a capoeira para que ele pudesse se desenvolver no seu tempo e do jeito dele.” Hoje, ela se emociona ao vê-lo se comunicando, jogando e se desenvolvendo dentro de suas possibilidades. “Essa etapa me ensinou que a capoeira é realmente para todos, independente das dificuldades.”

 

O equilíbrio entre técnica e valores humanos é um dos pilares do Projeto Capoeira Salva. A proposta pedagógica vai além da prática física. “A técnica é ensinada com dedicação para que os alunos desenvolvam a ginga, o jogo e a musicalidade da capoeira. Mas, ao mesmo tempo, há um cuidado especial em trabalhar a disciplina, o respeito e a identidade cultural”, destaca. Para ela, esse equilíbrio transforma o projeto em um ambiente de “crescimento integral, onde cada aluno é estimulado a ser protagonista da sua história, com consciência, ética e amor pela capoeira e pela sua comunidade”.

 

Sobre o futuro do projeto, Jamylle tem planos otimistas. “Quero ver o projeto crescer ainda mais, alcançando cada vez mais crianças, jovens e famílias, principalmente nas comunidades periféricas e quilombolas do Mato Grosso do Sul.” Ela sonha com a ampliação da atuação do Capoeira Salva, levando capacitação, cultura e oportunidades para mais regiões do estado. A ideia é fortalecer ainda mais a rede de apoio entre mestres, professores e alunos.

 

A presença feminina na capoeira também é um tema recorrente em suas reflexões. Ela acredita que o momento atual é de crescimento e reconhecimento das mulheres nesse espaço. “Vejo as mulheres conquistando cada vez mais espaço, respeito e protagonismo — tanto dentro das rodas quanto na liderança dos projetos e eventos.” E completa: “Essa visibilidade é fruto da luta das mulheres que vieram antes de nós e do apoio das que caminham ao nosso lado hoje.”

 

Vivendo exclusivamente da capoeira, Jamylle defende a regulamentação e a valorização da profissão de capoeirista. “A capoeira vai muito além de uma prática física ou cultural — ela envolve ensino, produção cultural, organização de eventos, pesquisa e muito mais.” Para ela, a regulamentação traria direitos e melhores condições de trabalho, além de fortalecer o reconhecimento social da prática. “É importante que essa discussão seja feita com respeito às raízes da capoeira e às diferentes formas como ela é vivida pelo Brasil e pelo mundo.”

 

Jamylle acredita que o reconhecimento profissional é essencial para garantir a continuidade da capoeira e sua força como ferramenta social. “Só assim podemos garantir a continuidade e a força da capoeira para as próximas gerações.”

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