Adilson Higa, treinador e atleta de jiu-jitsu, viveu uma trajetória de superação, onde os desafios impostos por um grave acidente de moto em 2009 não foram capazes de interromper sua paixão pelo esporte. Iniciado no judô em 1977, Higa sempre teve o esporte como uma parte essencial de sua vida. "Minha trajetória nas artes marciais começou em 1977, quando iniciei no judô ainda criança. Esse primeiro contato com as lutas foi fundamental para minha base técnica, disciplina e compreensão dos princípios da arte marcial", compartilhou.
Aos 16 anos, conheceu o jiu-jitsu, no qual se apaixonou. “Em 1988, conheci o jiu-jitsu e me apaixonei pela arte suave. Desde então, venho me dedicando ao aprendizado e à prática, sempre buscando evolução técnica e filosófica dentro do jiu-jitsu", afirmou. Com uma carreira sólida e muitas conquistas, Higa sempre foi movido pela busca incessante de crescimento, até que, em 2010, um acidente de moto alterou sua trajetória.
O acidente foi um divisor de águas para Higa. Ele sofreu sequelas graves, passou por um longo período de recuperação e precisou se reinventar. "O acidente de moto em 2009 foi um divisor de águas na minha vida e na minha trajetória no jiu-jitsu. Sofri sequelas e fraturas graves, passei por um período longo de recuperação e precisei reaprender a lidar com meu corpo", disse Higa sobre o impacto do evento em sua vida.
Com dificuldades em realizar tarefas simples, como caminhar e se vestir, Higa viu o esporte como uma forma de recuperação. "Ter que reaprender coisas simples como andar, comer, tomar banho sozinho, me vestir, foi um grande desafio, tanto físico quanto emocional." Ao invés de sucumbir à adversidade, ele se agarrou à sua paixão pelo jiu-jitsu e recomeçou sua carreira com um novo foco: ajudar os outros. Começou a dar aulas na varanda de casa com apenas seis alunos e 20 placas de tatame, um recomeço humilde, mas determinante para o crescimento de seu projeto.
A adaptação de Higa para continuar treinando e competindo sem um dos braços foi uma jornada de paciência e mudanças. "O processo de adaptação para treinar e competir após o acidente foi longo e desafiador. A recuperação exigiu paciência, e precisei reaprender a me movimentar dentro das limitações impostas pelas lesões", contou. Ele ajustou sua técnica, priorizando o uso de inteligência tática e eficiência, ao invés de força física excessiva. Isso resultou em bons resultados, como as medalhas conquistadas no Panamericano e no Campeonato Brasileiro.
Ainda assim, as dificuldades continuaram. "Os desafios foram muitos, tanto dentro quanto fora dos tatames", afirmou Higa. Não apenas as limitações físicas, mas também os desafios financeiros e a luta para estabelecer um centro de treinamento estruturado. “Eu não tinha uma academia estruturada e comecei dando aulas na varanda de casa”, explicou. Ele enfrentou o capacitismo e o preconceito, mas, com determinação, conseguiu dar a volta por cima, tanto no aspecto físico quanto na construção de sua nova carreira. Além de ser atleta, Higa se formou em Educação Física e completou diversas pós-graduações.
Hoje, Higa é um exemplo de dedicação ao esporte e de como ele vai além das competições. Como treinador, ele transmite aos seus alunos muito mais que técnicas de luta. “Acredito que a arte suave deve ser um meio de formação de caráter, disciplina e resiliência, tanto dentro quanto fora dos tatames", disse ele, destacando a importância da disciplina e do respeito como parte fundamental da formação. Higa orienta seus alunos a se tornarem pessoas mais fortes mentalmente, mais disciplinadas e mais preparadas para os desafios da vida.
Sua filosofia inclui ensinamentos sobre constância e superação: "A evolução no jiu-jitsu não acontece de um dia para o outro. É preciso treinar regularmente, manter o foco e respeitar o processo." E ele mesmo é um exemplo claro disso. Mesmo com as limitações impostas pelas lesões e pela idade, Higa continua treinando e competindo. "Hoje, sigo competindo no Master 5, e, embora as competições se tornem mais desafiadoras com o tempo, sempre busco evolução contínua."
Olhando para o futuro - Embora tenha alcançado grande sucesso, Higa vê o jiu-jitsu como um processo contínuo. “Vejo o jiu-jitsu como um processo contínuo de aprendizado e evolução”, afirmou. Seus planos para o futuro incluem a continuidade nas competições, especialmente no cenário internacional, e a expansão do CT Higa Jiu-Jitsu Clube, com o objetivo de formar mais atletas de alto nível. “Quero que o CT Higa Jiu-Jitsu Clube continue a crescer e formar mais atletas de alto nível, tanto no aspecto técnico quanto no pessoal”, destacou.
Além disso, Higa está trabalhando na segunda edição de seu livro biográfico "Alma de Campeão", onde compartilha suas experiências e lições de vida. “O retorno dos leitores foi muito positivo, e muitos se identificaram com minha história”, afirmou. Higa continua sendo uma referência não apenas como atleta, mas também como mentor, buscando transmitir sua filosofia de vida e esportiva a todos aqueles que cruzam seu caminho.