São Paulo (SP) - Em época de 'revolução' tecnológica, com recordes mundiais sendo superados a cada torneio, a seleção brasileira de natação prepara-se para uma verdadeira batalha nos Jogos Olímpicos de Pequim. Responsável por sete (três pratas e quatro bronzes) das 76 medalhas conquistadas pelo Brasil em Olimpíadas, a modalidade prevê a disputa mais acirrada por pódios entre todas que integram o programa olímpico. Com isso, a expectativa de medalhas torna-se velada e ganha outra dimensão.
"Hoje é muito arriscado falar em medalha. Mas mais complicado ainda é participar sem esperança de ganhar. O importante é ter a expectativa certa e a equipe preparada para o jogo", explica o o diretor técnico da modalidade na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Ricardo de Moura.
Em Atenas-2004, a natação voltou sem pódio. A última medalha olímpica nacional nas piscina foi a do revezamento 4x100m livre em Sydney-2000.
Entre as razões para o acirramento da disputa destacam-se a política de desenvolvimento adotada pela Federação Internacional de Natação (Fina), com a multiplicação de torneios de alto nível, a intensa participação das federações internacionais e, logicamente, os implementos tecnológicos que incluem, entre outras coisas, maiôs cada vez mais cientificamente desenvolvidos.
"A natação foi o esporte que mais avançou no último ciclo olímpico. Nele, todos os recordes olímpicos foram batidos em outras competições", argumenta. "É um dos esportes de maior profissionalização e visibilidade. O Mundial de Melbourne (2007) teve mais de 1 bilhão de espectadores".
Fazer frente a esta revolução é o desafio dos 19 nadadores brasileiros classificados para Pequim. "Será a Olimpíada mais difícil de todos os tempos e pode acontecer um fato inédito, com todos os recordes olímpicos quebrados", avisa De Moura.
A equipe definida após o Troféu Maria Lenk, no último final de semana, no Rio de Janeiro, perdeu seus medalhões (Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa) e aposta em uma juventude veterana.
"Tivemos a sorte de contar com eles em 2004, mas eles não são eternos e cada vez (os ídolos) serão menos eternos pela velocidade da evolução. A renovação é a sobrevivência do esporte", minimiza o desfalque De Moura. "Agora, a responsabilidade é da nova geração. De 2004 para cá, Kaio (Márcio), Thiago (Pereira) e Joanna (Maranhão) passaram de novatos a ícones".
Reforçando o grupo, há o velocista César Cielo, disputando a primeira Olimpíada. "Cielo é o mais novo e chega com bastante responsabilidade", reconhece o dirigente sem temer que a pressão abale o grupo.
No último ciclo olímpico, os brasileiros bateram dois recordes mundiais. Kaio nos 50m borboleta, em 2005, e Thiago nos 200m medley, em 2007. Ambos em piscina de 25m, com metade da dimensão olímpica. "O mais importante é você estar ciente do que conquistou e assumir a responsabilidade que você é 'O' cara".
Segundo ele, o chavão da juventude como justificativa para desempenhos fracos não tem vez na seleção. "Isto já era. A equipe está preparada para isto".
A preparação consumiu mais recursos que no ciclo anterior. Sem revelar valores, De Moura admite que o programa olímpico para Pequim teve investimentos superiores aos da edição passada. Os recursos vieram da Lei Piva e do patrocínio dos Correios, esta última uma das parcerias mais longas do esporte, com mais de dez anos de duração.
Além disso, a CBDA apostou em programação diferenciada para os atletas de pódio mais provável como Cielo, Kaio e Thiago. O trio teve liberdade para elaborar uma planilha individualizada de preparação. Kaio, por exemplo, passou dois meses treinando nos Estados Unidos.
O programa da natação para acompanhar a evolução estrangeira começou em 2002 e contou com o comprometimento das Federações e, fundamentalmente, dos clubes, que investiram pesado na modalidade. O resultado será determinado apenas no Cubo d'Água, em agosto.
"Se tudo isto vai gerar medalha? Vamos ver", diz de Moura. "Estamos fazendo de tudo para trazer e este grupo fará o máximo. Espero que (as medalhas) venham de todos os lugares".