Não era pra ser assim. Pior que sempre ver a vinculação de jogos importantes a problemas com violência, é achar isso normal, como se as duas coisas se completassem. Ônibus recebido a pedradas no Paraná, briga de torcidas em Pernambuco e a utilização de entulhos no confronto, ou até a operação de guerra para controlar a paz no clássico paulista. Por incrível que pareça no pacato Campeonato Estadual de Mato Grosso do Sul também teve partida que virou caso de polícia.
O interessante dos lamentáveis fatos deste domingo, 03 de março de 2013, é que a violência não foi protagonizada na maioria das vezes por torcedores organizados de clubes de massa. Outro fator alarmante diz respeito aos problemas ocorridos em Garanhuns-PE e Londrina-PR, distantes das capitais de seus respectivos Estados. Quando é no interior a estrutura para controlar problemas de segurança relacionadas a futebol não tem o mesmo aporte do que no grande centro. A população sofre mais, inclusive por não ter intimidade junto a barbárie.
A decisão do 1º Turno do Campeonato Paranaense – 2013 serve de lição para regiões onde o futebol ainda não massificou. Estados da região Norte e Centro-Oeste, que tentam valorizar o futebol e captar público para as arquibancadas, precisam entender que quanto maior a escala do espetáculo, maiores os problemas com Segurança. A profilaxia de problemas ligados a violência devem o quanto antes ser conduzida em paralelo as ações de atratividade dos campeonatos.
Paraná retrocede após episódio no Couto Pereira em 2009
O jogo entre Londrina e Coritiba no Estádio do Café teve problemas policiais de diversas escalas. Antes do evento, a torcida do atual campeão paranaense precisou vir escoltada da capital. Mesmo assim, ônibus de torcedores, e o veículo que transportava os atletas receberam pedradas que quebraram diversos vidros. Durante a partida três lances polêmicos foram o bastante para incitar a fúria alvi-celeste nas arquibancadas. Sobrou ofensas e o lançamento de objetos até para jornalistas na cabines de imprensas. O policiamento reforçado nas dependências do estádio não impediu o lançamento de um sinalizador no campo durante a briga de jogadores do Londrina com o árbitro da partida.
Sobretudo o maior ensinamento para Mato Grosso do Sul do que aconteceu no Paraná é referente ao próprio Londrina Esporte Clube (LEC). O time sofre uma carência de títulos importantes (não ganha o Estadual desde 1992) e vive uma recuperação, visto que recentemente retornou a elite do futebol em seu estado. Nessa cenário, a euforia do torcedor quanto a jogos decisivos é perigosa, principalmente em razão do peso de um insucesso ser mais doloroso. Para o Coritiba perder o primeiro turno não diminuiria as suas chances de chegar a final, dada a estrutura de seu elenco, enquanto para o LEC existia na partida a pressão por 21 anos de escassez. O resultado disso foi o triste cenário de combate entre policiais e torcedores do Londrina na Avenida Henrique Mansano, no qual famílias ficaram acuadas e carros sofreram depredações.
Operação de Guerra
O problemas com torcedores não foram graves no clássico entre Santos e Corinthians realizado no Morumbi, assim como na decisão do 1º Turno do Paraense disputado com Remo e Paysandu. Em Belém, para garantir a ordem mais de 1000 homens das Polícias Civil e Militar atuaram dentro e fora do Estádio Olímpico do Pará. Jogadores, dirigentes e Comissões Técnica foram orientados pelo policiamento na semana anterior a não motivar a violência nas arquibancadas, principalmente evitando gestos relacionados a organizadas. No primeiro jogo da final do turno, ocorrido em 24 de fevereiro, ônibus de torcidas, e também dos atletas das duas equipes, foram atacados por objetos na chegada do estádio.
Em São Paulo, o Disque Denúncia (181) impediu o acontecimento de uma tragédia no sonolento clássico entre Santos e Corinthians pela 12ª Rodada do Paulistão. Graças a informação dada por um anônimo, a Polícia Militar interceptou um torcedor santista que conduzia junto ao ingresso do evento, 20 barras de ferro, pedaços de madeira e rojões que seriam utilizados em um confronto de torcidas. A punição foi apenas a assinatura de um Termo Circunstanciado. Caso fosse penalizado na pena máxima, indicada pelo Estatuto de Defesa do torcedor, Art. 41-B (promover tumulto, praticar ou incitar a violência), os dois anos de reclusão teriam a chance de serem revertidos na prestação de serviços comunitários.
No Pernambuco, despreparado para o caos, o interior do Estado assistiu a um filme de terror nas proximidades do acanhado Estádio Luiz Lacerda. Membros da Torcida Jovem do Sport Recife e do Comando Alvinegro, do Central de Caruaru guerriaram armados por pedras, tijolos e barras de ferro de uma construção. A falta de registro por filmagens e o policiamento em pequeno número colaborou para que ninguém relacionado ao conflito fosse detido Casas, comércios e carros da rua sofreram depredação. Menos de um mês atrás, um torcedor foi baleado em Recife, pouco antes de um jogo pelo Estadual entre Náutico e o Central.
Veículo para o preço da fúria em Chapadão
A partida entre Serc e Maracajú pela 10ª Rodada do Estadual em Mato Grosso do Sul foi uma decisão às avessas, pois valia a lanterna do Grupo A. Se em campo o jogo foi atrativo e teve quatro gols no empate entre as equipes, fora dele o evento chegou à delegacia. O veículo de um dos integrantes do quarteto de arbitragem foi danificado por pedradas e os pneus ficaram murchos por ação de torcedores.
O Tribunal de Justiça Desportiva de Mato Grosso do Sul (TJD-MS) apura já informações do incidente e pode punir a Serc. O quarteto de arbitragem precisou de apoio da Polícia após receber ameaças da torcida local. O incidente serve de reflexão para o Estado que tem agora o seu campeonato televisionado. O futebol local estaria preparado para crescer ?