Pela primeira vez desde a sua demissão da Seleção Brasileira, o técnico Carlos Alberto Parreira falou sobre a Copa da Alemanha. Em entrevista ao jornal O Globo, ele disse que "faltou química" aos jogadores, que "foram a um banquete sem fome". Além disso, o treinador se mostrou irritado com o fato de alguns atletas terem chegado fora de forma ao aquecimento para o Mundial e afirmou que ter perdido esta competição não foi uma "tragédia nacional".
"Nós tínhamos como dar mais e não demos. Faltou química. A química está no ar... é um estalo. Se você vai para um banquete saciado, pode ter caviar, faisão, e você vai comer como? Você está de barriga cheia. Agora, quando se vai com fome, você come até pão com manteiga. Não estou justificando. É um monte de ilações", avaliou Parreira.
Após o fracasso na Alemanha, o comandante campeão da Copa de 94 nos EUA foi muito criticado pela forma displicente como conduzia os treinamentos, e o fato de a Seleção não ter primeiro treinado no País, levando os jogadores europeus direto para a concentração em Weggis, também não foi perdoado pelos brasileiros.
"O grupo precisaria ter se reunido aqui para sentir o calor da torcida brasileira. Perceber a esperança e a confiança que a nação depositava no time. Para se ter uma idéia, nossa equipe não tem foto oficial", reconheceu o treinador.
Uma das maiores críticas ao técnico foi o fato de ele ter insistido na permanência do atacante Ronaldo, que se apresentou com muitos kilos a mais, na equipe titular. Na terceira rodada, no entanto, o atacante do Real Madrid desencantou ao fazer uma ótima apresentação e dois gols pela Seleção.
Parreira, então, durante o jogo contra a equipe de Zico, desabafou que ele tinha sua razão e pediu de forma irônica que chamassem o jogador de "gordo" novamente. Agora, no entanto, de forma implícita, o treinador se mostrou chateado com a forma de Ronaldo na época do Mundial da Alemanha.
"Tivemos 15 dias para preparar o time. (...) Se o cara chega com cinco quilos, com dez quilos a mais e fora de forma, não interessa para a Fifa. Só se pode cortar e convocar outro por contusão. Conversamos com o departamento médico sobre o excesso de peso de alguns jogadores. Os próprios preparadores físicos diziam que o índice de massa muscular estava em nível aceitável", contou.
Para concluir, o treinador não retirou sua parcela de culpa pelo fracasso na Copa, mas se mostrou irritado por acreditar que só ele foi o protagonista da má campanha.
"A gente ganha e perde em grupo. Não dá para entender esse negócio de quando se ganha foram os jogadores e quando se perde a culpa é do treinador. Tem Ronaldo, Adriano, Ronaldinho, Kaká e tantos outros e quem perde é o técnico?".