Costa do Sauípe (BA) - "Hoje em dia está mais fácil escrever em blog do que entrar em quadra", declarou Larri Passos, técnico do vitorioso Gustavo Kuerten. O tenista, tricampeão de Roland Garros e ex-número um do mundo, deixa as quadras em 2008 e levanta o questionamento sobre sucessores.
A irritação de Larri recai justamente sobre este assunto. Para ele, jogadores e ex-tenistas têm usado a retórica mais do que a ação para ajudar na retomada do tênis brasileiro. A diferença do técnico para as análises feitas por Fernando Meligeni e Flávio Saretta em seu blogs é o otimismo na geração pós-Guga.
"O tênis brasileiro vai aproveitar a Era Guga agora, com a molecada de 15, 16, 17 anos. Eu trabalho com isso e vejo", explicou o treinador em sua passagem pelo Aberto do Brasil, onde trouxe dois juvenis para treinar. Um deles, André Baran, de 17 anos, jogou ao lado de Kuerten nas duplas.
"Tenho visto um negativismo muito grande. Eu vejo essa garotada jogando. Se nós abaixarmos a cabeça agora, não vamos ter um tênis de alto nível", continuou. "No Brasil, a gente dá oportunidade muito tarde. É bom agora colocar para jogar [sobre André Baran] para tirar a tremedeira", emendou.
O próprio Guga, que voltou a treinar com Larri no final de 2006 depois de um ano e meio separados, concorda com o técnico e pede paciência.
"Tem que ir com calma. É um trabalho a médio, longo prazo. O que não dá é pressionar a molecada nova agora cobrando quem será o novo Guga", afirmou o tenista, que começou a sua turnê de despedida na Bahia.
Larri rebate também a idéia da falta de estrutura no Brasil, uma das maiores reclamações de Meligeni e Saretta, que cobram um centro de treinamento da Confederação Brasileira de Tênis.
Sem um tenista entre os top 100 do mundo atualmente, Larri não enxerga que há um problema geral, mas específico de cada atleta da geração que veio logo atrás de Guga.
"Em 1997, quando foi o primeiro título de Roland Garos, levamos o Saretta para treinar. Depois, levamos o Ricardinho Mello. Todos tiveram suas oportunidades. Se não aproveitaram, foi um problema específico de cada um", esclareceu.
Da mesma época de Saretta, Mello, Marcos Daniel, que agora é o novo pupilo de Larri, segue a mesma linha otimista do seu treinador. "Não estava acompanhando o juvenil. Agora eu estou vendo e fiquei impressionado", contou.
O tenista gaúcho, atual número um do país no posto de 108 da ATP, colocou outro argumento para a falta de oportunidades de sua geração.
"Antes, também, o ranking era aberto. Agora, se você cancela, leva multa. É mais difícil de entrar nos torneios. Então, antes se você estava na lista de espera, você entrava. Agora, ninguém desiste. É bem mais difícil", completou.
Na faixa de idade citada por Larri, alguns sul-mato-grossenses aparecem com destaque, como Liz Bogarin, Lucas Melgarejo e Gabriela Silva.