Aos 12 anos, Edduarda Grego viu o skate se tornar parte da sua vida. Moradora de Campo Grande, ela não tinha um skate próprio e dependia da boa vontade dos amigos para conseguir alguns minutos de prática. "Pedia o skate deles emprestado pra tentar andar, mas tinha que ficar dividindo. Eu ficava super ansiosa pra andar de novo e ia lá bater na janela do meu amigo pra pedir pra ele deixar eu andar um pouquinho", relembra. Foi assim, com perseverança, que Edduarda conseguiu juntar dinheiro para comprar seu primeiro skate usado. “Na época paguei R$70 de um vizinho que não queria mais andar. Daí em diante evoluí e não parei mais”, conta. Hoje, são 12 anos dedicados ao skate.
A prática levou Edduarda para as pistas, onde aprendeu a maioria das manobras. Mesmo sendo uma das poucas meninas naquele ambiente, encontrou apoio nos skatistas que dividiam espaço com ela. “Aprendi a andar de skate com os meninos, tinha só uma menina comigo, mas logo parou. Em 2013 comecei a frequentar as pistas, era muito tímida então não socializava tanto, sempre andando nos cantinhos da pista. [...] Não senti preconceito dos skatistas, na verdade eles sempre me incentivavam.”
Essa trajetória serviu de base para o surgimento de uma nova missão: fortalecer o skate entre as mulheres. Em Campo Grande, o número de skatistas mulheres ainda era pequeno e, mesmo assim, a conexão entre elas era rara. "Cada uma era de um canto", diz Edduarda. Foi a partir dessa percepção que nasceu o coletivo Pantaneiras. A inspiração veio de fora. “A Ana, que também é uma das fundadoras do coletivo, fez uma viagem pra São Paulo e mandou um áudio pra gente no grupo sobre uma noite de Halloween só para mulheres skatistas que um coletivo chamado Batateiras Skate Girls tinha realizado. Todas ficamos muito fascinadas com aquilo.” A partir desse momento, as Pantaneiras começaram a construir ações e eventos com o objetivo de reunir e fortalecer as mulheres no skate, tanto em Campo Grande quanto em todo o estado.
A movimentação tem refletido nas pistas. “Antes a gente contava no dedo as meninas que andavam em toda a cidade, agora a maioria dos pais não tem preconceito e levam suas filhas pra andar de skate”, observa. Para Edduarda, o crescimento da presença feminina no esporte está diretamente ligado à criação de ambientes de acolhimento e incentivo.
Além do coletivo, ela também atua como professora de skate na Rema, uma iniciativa que surgiu durante sua formação em Educação Física. As primeiras aulas foram oferecidas a domicílio, em 2020, e, após a estreia do skate nas Olimpíadas, houve um aumento significativo no interesse pelo esporte. "Com o incentivo da equipe Rema, abrimos oficialmente a Rema Aulas de Skate em 2021. Me formei em Educação Física em 2022 e seguimos firmes sendo referência em aulas de skate da região Centro-Oeste.”
O público é variado. “Nosso maior público são crianças que não sabem andar de skate, mas também atendemos adolescentes, adultos, idosos e pessoas que já têm experiência e querem melhorar o rolê.” O conhecimento acadêmico também tem sido um diferencial para ela como professora. “A faculdade me deu outra visão sobre o movimento, o corpo humano e a aprendizagem motora. Hoje consigo ajudar melhor as pessoas que querem aprender a andar de skate.”
Para Edduarda, o skate é mais que uma atividade física. É uma ferramenta de inclusão e transformação. “Dentro da nossa cultura valorizamos muito a humildade, a parceria, as amizades. Gosto muito da frase ‘o skate é o esporte individual mais coletivo que existe’. Podemos ser denominados como uma tribo: temos nosso jeito de falar, de vestir, de se expressar, uma cultura própria.”
Mesmo com os avanços, ela reconhece que ainda há desafios, especialmente para as mulheres que estão começando. “As meninas que estão começando têm receio de estar na pista. Minha luta é que as mulheres parem de começar andando tímidas no cantinho da pista e passem a ocupar o centro, não tenham vergonha de começar, não tenham vergonha de ser iniciantes e de caírem.”
As conquistas ao longo da sua trajetória são motivo de orgulho. “Guardo no coração meu primeiro campeonato, o primeiro que venci, quando fui pro brasileiro, vencer o estadual de MT… E também abrir a escola de skate, que é a realização de um sonho que sempre tive: viver do skate.”
Olhando para o futuro, Edduarda tem expectativas claras para o cenário local. “Espero que continue aumentando o número de mulheres praticantes e que sejam sempre unidas. Carecemos de infraestrutura adequada, todas as pistas públicas estão precisando de manutenção, então espero que a gente tenha pistas adequadas pra um bom treinamento e consequentemente futuro tenhamos boas atletas para representar nosso estado Brasil afora”, completou.