Londrina (PR) - Para a atual campeã mundial de taekwondo, a paranaense Natália Falavigna, 2007 prometia ser um ano muito atribulado. No calendário da lutadora, que não tem rivais à altura no país, estavam programados cerca de três torneios na Europa, que serviriam de preparação para o Campeonato Mundial, além dos Jogos Pan-Americanos. Mas a um mês de embarcar para a China, onde defenderá seu título, Natália não fez nenhuma luta e suas viagens foram cortadas por falta de verbas.
"Vamos chamar os meninos com quem ela treina um sábado aqui em Londrina mesmo, montar uma chave e fazer um torneio de mentira, para Natália poder lutar", conta seu técnico, Fernando Madureira, autor do `plano B´.
A falta de recursos fez a CBTKD (Confederação Brasileira de Taekwondo) apertar o cinto e cortar as viagens ao exterior, item `menos essencial´ para a seleção brasileira. Azar para Natália, principal nome da modalidade do país.
"Fui avisada da mudança de planos em cima da hora. Reclamei com os dirigentes, mas eles me disseram que não têm verba. Achei que esse ano, por ser o do Pan, teríamos um planejamento melhor. É muito frustrante", diz a atleta, que considera a situação atual pior do que a de 2005, como, ainda pouco conhecida, levou o título na Espanha.
"É muito pior. Estou indo para defender um título e todo mundo vai vir pra cima de mim. Tenho muito mais responsabilidade, as pessoas já esperam que eu ganhe", afirmou a lutadora. "Tive que ir atrás de fitas de adversárias para estudar, para ao menos vê-las lutando, mas isso espalhou a notícia, e agora as meninas já sabem que não estou competindo. É o tipo de coisa que faz o adversário crescer."
Para Natália, a sensação é de déjà-vu. "Já provei o meu valor, mas ainda me vejo passando pelas mesmas dificuldades que enfrentava quando não tinha nada", lamenta.
O vice-presidente da CBTKD, Marcelino Soares, reconhece a gravidade da situação, mas ainda aposta em um bom resultado da brasileira lá fora. "Não posso comparar com 2005, hoje a Natália tem mais bagagem internacional, é mais experiente; ainda que não tenha disputado torneios lá fora, é uma grande lutadora", contrapõe o dirigente.
No caixa da entidade estão aproximadamente `apenas´ R$ 548.000, segundo o próprio vice-presidente. "Parece muito, mas comece a pôr no papel as passagens, hospedagens, tudo isso para uma delegação inteira - são 16 atletas, além de técnico, manager, fisioterapeuta, delegado", enumera.
Para salvar as contas da entidade, a solução foi limitar os gastos às seletivas para as Olimpíadas de Pequim-08, ambas no exterior. "Tive que escolher, e não pude abrir mão das seletivas para Pequim, então tive que desistir de todo o resto", diz Soares.
Segundo a CBTKD, no entanto, Natália teria condições para viajar "por conta", assim como Diogo Souza, que fez uso de sua bolsa-olímpica, e Marcel Wenceslau, que viajou com dinheiro do próprio bolso.
A própria lutadora reconhece que poderia. Se a notícia tivesse sido dada a tempo. "Ainda estou meio perdida, não sei o que vai acontecer até o Pan, mas acho que vou seguir treinando com os meninos..."
Sobre Pan, Natália prefere não fazer prognósticos. "A dificuldade é menor, mas é a mesma: falta de ritmo. Por mais que esteja acostumada a treinar com meninos, mulher raciocina diferente. Ainda tem muito tempo até os Jogos, vamos ver o que acontece até lá", limita-se a dizer.