O tatame dos Jogos de Atenas volta a tremer. A primeira medalha do Brasil na Paraolimpíada veio da judoca Karla Cardoso. A menina, de 22 anos, conquistou a prata. Com o feito, a atleta entra para a história por ser a primeira brasileira a conquistar uma medalha nesta modalidade,
entre olímpicos e paraolímpicos. Para conseguir a prata, Karla teve que enfrentar suas principais adversárias. Às 14h foi a vez de lutar contra a alemã Astrid Arndt. As
duas atletas levaram advertência por causa da falta de combatividade; depois empataram no koka e a luta foi para o golden score (desempate). Karla fez o waza ari e conquistou a vaga para disputar a final. Numa difícil luta decisiva na final, a brasileira perdeu o ouro para a francesa Karima Mejeded. "O meu objetivo era levar o ouro para o Brasil, mas acho que não estava no meu dia, mesmo assim sei da importância da conquista do segundo lugar", afirmou emocionada ao final da luta. Aos
4m14s a adversária da brasileira foi advertida e Karla ganhou um koka. Depois disso, a francesa resolveu atacar e ganhou dez pontos com o yuko e finalizou o combate com ippon. "A conquista deste título comprova mais uma vez a força do judô no Brasil. O País é forte no judô olímpico, no paraolímpico, no militar e no universitário. Devemos essa conquista essencialmente ao processo de
inclusão. Hoje, a equipe realiza atividades com os olímpicos e participa de diversos intercâmbios", afirma Walter Russo, coordenador do judô paraolímpico no Brasil.
Karla Cardoso é fruto de um trabalho iniciado em 2001 e que já demonstra
uma significativa evolução. No ano seguinte, a equipe de judô feminino
participou de um Mundial em Roma. Já em 2003, as meninas arrasaram no
Mundial de Quebec, onde conquistaram três vagas.
A jovialidade e a maturidade são as primeiras coisas que impressionam na
judoca Karla Cardoso, esta carioca de 22 anos. A atleta, da classe B3,
possui hipermetropia e astigmatismo de nascença, que aos poucos vêm
tirando a visão da jovem. Karla ingressou na modalidade por acaso, no
início da adolescência, para acompanhar o irmão, recomendado na época a
praticar o esporte por causa da bronquite. Apelidada de "Pimenta" na
infância, pela mãe, a judoca encontra nos livros, filmes e na praia os
seus poucos momentos de descanso, pois, treina pelo menos duas horas por
dia e cursa Educação Física na Universidade Estácio de Sá, na Cidade
Maravilhosa. Sempre impressionou a todos com o talento para o judô,
principalmente pela força. A jovem, de temperamento forte, admira e
segue os exemplos de raça e técnica dos judocas Flávio Canto e Sebastian
Pereira. Ídolos que parecem trilhar brilhantemente a vida da garota,
campeã individual na categoria (-48kg) e vice-campeã por equipe no
Mundial da Federação Internacional de Esportes para Cegos-IBSA, em
agosto de 2003, no Canadá. A meta agora, aos poucos dias de Atenas, é
apenas uma: a medalha. "Estou treinando muito para isso e tenho tudo
para conseguir", afirma confiante a deusa paraolímpica.
Judô paraolímpico: Atletas cegos ou deficientes visuais lutam pelo ouro segundo as mesmas
regras de competição da Federação Internacional de Judô-IJF. A deficiência faz com que os judocas agucem sua sensibilidade, instinto,
tato e senso de equilíbrio. Poucos aspectos diferem as competições do
judô paraolímpico dos outros eventos de alto nível da modalidade.