Entre a correria do trabalho, os compromissos acadêmicos e o amor pelo esporte, o time feminino de handebol da Unigran Capital, de Campo Grande (MS), tem superado barreiras e se destacado no cenário universitário nacional. Formada por atletas que conciliam suas jornadas duplas ou triplas com treinos intensos e competições, a equipe mostra que persistência e união são forças indispensáveis para quem sonha com grandes conquistas, mesmo em um esporte com pouca visibilidade no Brasil.
A rotina não é simples. Todas as atletas trabalham durante o dia e estudam à noite. Os treinos acontecem nos intervalos apertados entre um turno e outro. “Para falar a verdade, é bem cansativa, damos o nosso melhor. Nesse meio tempo entre serviço e faculdade é onde nos encontramos para treinar. Acaba sendo corrido, mas vem dado certo há algum tempo e assim mantemos”, conta a capitã do time, Endy Ortega.
Mesmo com pouco tempo disponível, o grupo consegue manter uma preparação constante. Isso é essencial para encarar os campeonatos locais e, principalmente, os nacionais, como os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), onde a equipe se sagrou campeã em 2024. O título representou um marco na história da Unigran Capital e um reconhecimento pelo esforço coletivo das atletas. “Com toda certeza, o JUBs de 2024, no qual nos sagramos campeãs, foi o momento mais marcante para mim e para todas nós”, relembra Endy.
A identidade do time vai além das vitórias. O espírito coletivo e a alegria de jogar juntas são marcas da equipe, que tem como lema “ser feliz dentro de quadra”. Segundo a capitã, essa mentalidade é um diferencial importante. “Nosso lema é jogar com felicidade. Isso muda nosso jogo, nos torna mais fortes e capazes.”
Por trás desse bom desempenho há uma estrutura que, embora ainda limitada, dá suporte mínimo à continuidade da equipe. A universidade oferece bolsas de incentivo e uma boa quadra de treinos. Recentemente, novas bolas foram adquiridas, o que trouxe novo ânimo ao grupo. Serviços de fisioterapia e apoio psicológico são acessados por meio das escolas clínicas da instituição. “Há uma bolsa de incentivo, mas está longe do ideal. Ainda exige muito amor envolvido para manter o time. Mas temos estrutura de quadra e acesso a fisioterapia e psicologia, o que ajuda muito.”
Apesar dos avanços, o handebol universitário em Mato Grosso do Sul ainda carece de incentivos e mais competições regulares, principalmente para atletas adultas. Isso dificulta a manutenção do ritmo de jogo e a preparação para disputas maiores. “A categoria adulta no estado ainda está escassa de campeonatos, o que nos dificulta no ritmo para campeonatos nacionais. E falando de Brasil, acredito que o JUBs seja o foco do ano para essa categoria”, afirma Endy.
Neste ano, a equipe está novamente focada nos Jogos Universitários de Mato Grosso do Sul (JUMS), porta de entrada para o JUBs. O objetivo é conquistar a classificação estadual e repetir, ou até superar, o feito de 2024. “Estamos nos preparando mais uma vez para encarar os JUMS almejando a vitória e logo indo ao JUBs buscar mais um pódio e elevar mais ainda o nome do handebol do estado.”
O papel da capitã vai além da função técnica dentro de quadra. Endy destaca a importância da escuta, da empatia e da convivência com as colegas. “Tento ser o mais companheira possível na vida das gurias dentro e fora de quadra. Tento entender ao máximo o jeito de falar com cada uma para saber como ajudá-las em todas as situações e isso faz total diferença dentro de quadra.”
Essa liderança compartilhada reflete a dinâmica da equipe, que se apoia mutuamente para enfrentar os desafios do cotidiano. A rotina exaustiva é compensada pela parceria construída entre as atletas, que compartilham o mesmo sonho: manter o handebol universitário vivo e competitivo.
A mensagem que o grupo transmite é clara: apesar das dificuldades enfrentadas por equipes universitárias em modalidades de menor expressão, como o handebol, é possível conquistar espaço com organização, união e muita dedicação. Para Endy, esse exemplo também serve de inspiração para outras jovens atletas que buscam um caminho no esporte universitário. “Temos aí várias gurias que estão no ensino médio, e universidades e times prontos para abraçá-las, inclusive nós. Seu sonho e amor ao esporte têm que ser maiores que qualquer opinião contrária.”