Com apenas 15 anos, a atleta campo-grandense Duda Marruá já soma conquistas que muitos lutadores levam décadas para alcançar. São quatro títulos brasileiros e quatro títulos mundiais de jiu-jitsu, além de participações em eventos internacionais, como o Pan Kids, nos Estados Unidos. 

A trajetória começou cedo, aos seis anos de idade, por acaso, quando Duda viu outras crianças praticando jiu-jitsu próximo à loja do pai. A curiosidade virou paixão. “No terceiro dia em que o projeto social de jiu-jitsu do Brunão havia se mudado para as proximidades, decidi ir ver do que se tratava e estou lá até hoje.”

A dedicação à arte suave virou rotina. Estudar, treinar e manter o equilíbrio entre todas as áreas da vida exige foco. Duda mantém uma agenda apertada: “Tenho meu compromisso com os estudos, minhas responsabilidades em casa, meu inglês, também faço musculação e finalizo com os treinos de jiu-jitsu das 16h às 20h, de segunda a sexta-feira.”

A primeira grande vitória veio cedo. Aos oito anos, conquistou seu primeiro título nacional e também o primeiro mundial. “Para mim, foi espetacular! São dois eventos de grande porte, com adversários excelentes, e quando você consegue superar esses atletas, mas, acima de tudo, se superar, é algo maravilhoso.” A jovem define essas vitórias como o marco inicial de sua carreira no esporte.

Além do Brasil, Duda levou o nome de Campo Grande para o cenário internacional. Em 2024, participou do Pan Kids nos Estados Unidos, um dos campeonatos mais importantes da categoria de base no jiu-jitsu mundial. “Fiquei em 2º lugar, por decisão do juiz. Este ano, estarei lá marcando presença para competir novamente e meu objetivo é ser campeã, porque é meu último ano competindo na categoria KIDS.”

A busca por evolução é constante. Em 2025, a atleta planeja subir de graduação e conquistar a faixa azul. Além disso, se prepara para viver uma nova fase: passará uma temporada no Canadá, na academia do filho de seu mestre, Breno Damieri. “Quero viver do jiu-jitsu, sei que é possível”, afirma. Duda também já traçou metas ambiciosas para os próximos anos, como a conquista do Grand Slam da modalidade — o World Jiu-Jitsu, o Europeu, o Pan e o Brasileiro, nas categorias peso e absoluto. “Esses títulos são para poucos, e vou conquistá-los no próximo ano.”

Apesar da pouca idade, Duda tem clareza sobre os desafios enfrentados por mulheres no esporte. “O fato de sermos mulheres já exige muito de nós, em várias áreas da nossa vida. Em qualquer área que escolhemos atuar, será um desafio.” Para ela, a chave é manter o foco e o comprometimento. “No jiu-jitsu, resolvemos os preconceitos no tatame. Procuro considerar as opiniões apenas de pessoas que realmente querem o meu bem e o meu desenvolvimento.”

O apoio da família é um pilar em sua trajetória. A jovem não economiza nas palavras ao falar da mãe: “Ela abriu mão de muitas coisas para que eu estivesse aqui, podendo desfrutar de tudo o que vivi até agora. Mãe não só dá tudo de si, ela vai além.” As conquistas, segundo Duda, não são apenas pessoais. “Sempre penso em quantas pessoas vencem se eu vencer! Não é uma conquista só minha.”

Entre treinos, competições e metas, há espaço para a leveza do cotidiano. Gosta de ouvir música, assistir séries, fazer compras e, como ela mesma brinca, “gastar com maquiagens e, é claro, kimonos.” Também destaca a importância de manter a autoestima e a feminilidade, mesmo em um esporte de combate. “Essa história de que fazer jiu-jitsu faz você perder a feminilidade é totalmente equivocada! Pelo contrário, nos fortalece como mulheres! Eu mesma adoro me arrumar e depois, deixar a maquiagem nos kimonos dos meus parceiros de treino.”

Como referência para outras meninas que desejam começar no jiu-jitsu, Duda reforça que a modalidade não é apenas para quem busca competir. “Ele é fundamental para a vida de qualquer mulher, pois além de ser uma ótima forma de treinamento de defesa pessoal, nos torna mais confiantes, com a autoestima elevada e mais seguras de quem somos.”

Além de seu crescimento pessoal, Duda observa o cenário local e acredita no potencial do jiu-jitsu campo-grandense, embora destaque a dificuldade de acesso a incentivos. “Infelizmente, muitos não dão sequência por falta de incentivo, tanto familiar em alguns casos, quanto principalmente o incentivo fiscal por parte do governo. O município e o estado têm recursos para apoiar nossos atletas, mas conseguir uma ajuda de custo exige muito sacrifício.” 

Para ilustrar a dificuldade, usa uma metáfora bem-humorada: “Quando há uma seletiva para ganhar uma bolsa, é como se estivéssemos tentando entrar na NASA.”