Desportistas e incentivadores do futebol amador cobraram, durante audiência pública nesta quarta-feira (06), apoio do poder público ao futebol amador de Campo Grande. Eles participaram de um debate convocado pela Comissão Permanente de Educação e Desporto da Câmara Municipal, composta pelos vereadores José Chadid (presidente), Carla Stephanini (vice), Flávio César, Coringa e Herculano Borges.
Para o vereador José Chadid, o futebol amador na Capital “só vai para frente pela dedicação dos mais apaixonados”. “Os campos não possuem estrutura mínima, como marcação e redes. As equipes não têm equipamentos básicos, como bolas e uniformes, seja para treinar ou participar de campeonatos. Com isso, não temos como manter e fomentar as categorias de base. O objetivo desta audiência é buscar alternativas efetivas de valorização dessa prática, e elaborar um primeiro projeto especifico para o futebol amador”, disse o parlamentar.
A audiência reuniu representantes de clubes, ligas esportivas, técnicos, atletas, além de cronistas esportivos e representantes do poder público. Em regra, todos concordam que falta apoio à prática do futebol amador, apontado como principal ferramenta de integração nas comunidades e um meio de tirar os jovens das ruas.
“Dessa audiência, vamos dar um choque no nosso futebol amador e, com certeza, dar um choque no profissional. Todos os sábados e domingos, passamos pelos campeonatos e vemos que são pessoas guerreiras que fazem os campeonatos, sempre tirando recursos do bolso para proporcionar esse lazer”, disse o vereador Francisco Saci, que ainda trabalha na elaboração de um projeto de incentivo e valorização do futebol amador.
“Já temos ideias para criar um grande projeto nesse sentido. Queremos que vocês nos deem ideias para que consigamos elaborar um grande projeto, pois ninguém sabe tudo. Vamos pegar um pedacinho de cada para fazermos um projeto bem feito. Não pensamos só no amador, claro que tem as demais modalidades. Nosso pensamento é criar uma ideia para as escolinhas, e criar uma liga do futebol amador, para os clubes que forem filiados”, adiantou.
Figura conhecida nos campos de futebol amador de Campo Grande, o major Mário Ângelo Ajala lamentou a situação da modalidade. Segundo ele, o amador teve grandes momentos, porém, hoje, ‘acabou’.
“O futebol de 11 amador acabou. Conseguiram fazer isso. Antes, tinham campos do Zé Abrão, Santa Luzia, Moreninhas, Caiçara, Tiradentes. Tínhamos vários campos de 11. São campos que acabaram, essa é a realidade. Hoje temos que conviver com o amador futebol society. Tudo que vai ser feito daqui pra frente, tem que ser feito com honestidade e seriedade, além do respeito com aquele torcedor que deixa sua família em casa para acompanhar os jogos. Tem campos? Tem. Mas não temos apoio. Que isso aqui não termine hoje. Nós amamos futebol. Vamos levar a sério”, cobrou.
Já o presidente da Liga Campo-grandense de Futebol, Aristides Cordeiro, se colocou contra o poder público apoiar o futebol profissional. Segundo ele, muitos dos clubes da Capital sequer fomentam as categorias de case e, quando os torneios estaduais acabaram, ‘só ficam as dívidas’.
“Falam que gera emprego, fomenta e tudo, mas cobra 30 reais de ingresso. Onde está o social aí? Quando você pega o profissional, ainda mais hoje, quase nenhum investe nas categorias de base. O futebol profissional só vai ser forte quando o futebol amador for forte”, reforçou.
Nem uma bola - O líder comunitário e organizador de campeonatos na região das Moreninhas, Milton Emílio de Souza, foi ainda mais contundente em suas críticas. Segundo ele, o apoio do poder público, antes escasso, hoje é praticamente nulo. Na Funesp (Fundação Municipal de Esportes), exemplifica, os organizadores não conseguem sequer uma bola para fomentar a prática esportiva nos bairros. O órgão não enviou nenhum representante para a audiência pública.
“Hoje precisamos de tudo, não só para quem organiza, mas para as equipes. As equipes não têm incentivo nenhum do poder público. Antigamente, na Funesp, conseguia. Hoje não se consegue mais uma bola. Uma rede então nem se fala. Você sabe quanto custa uma bola de primeira? R$ 200. Um uniforme de ponta é R$ 2,4 mil. O futebol amador precisa de tudo isso. Por que o futebol profissional acabou? Porque o amador não existe. Não tem um poder público que dá incentivo. Só dá incentivo para o profissional ou para as federações. As federações pegam muito e fazem pouco”, criticou.
O gerente de projetos da Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul), Paulo Mansano, endossou a crítica de Miltinho e afirmou que os campos da cidade estão ‘acabados’.
“Poderia ter alguém da Funesp aqui para responder o que acontece nesses campos de futebol abandonados, os parques que acabaram, ginásios acabados, fechados, piscinas abandonadas lá da Moreninha, dá dó de ver aquilo. Não é só o futebol amador que está abandonado. As outras categorias estão abandonadas pela Prefeitura de Campo Grande”, disparou.