Com Basquete em cadeira de rodas, atletas do Estado superam dificuldades

da redação/com gb esporte - 6 de nov de 2013 às 10:04 386 Views 0 Comentários
Com Basquete em cadeira de rodas, atletas do Estado superam dificuldades Atletas treinam três vezes por semana na Capital

Campo Grande (MS) - Sem preocupação com títulos de competições, 12 jogadores de basquete em cadeira de rodas de Campo Grande buscam outros objetivos: superação de dificuldades cotidianas – como locomoção, bem-estar, novas amizades e independência.

Os atletas treinam três vezes por semana na escola estadual Joaquim Murtinho, no Centro da cidade, e estão divididos em dois grupos: os que nasceram com deficiência, na maioria dos casos provocada pela poliomielite, e os que adquiriram a paralisia nas pernas após traumas e lesões medulares – a causa mais comum é a lesão por acidente automobilístico.

A educadora física e técnica da equipe, Belquice Falcão – chamada de Bel, conta que o time foi formado há três anos. Para ela, o esporte tem grande importância na reabilitação dos atletas, principalmente para aqueles que perderam os movimentos por algum tipo de acidente.

Bel explica que, apesar do desconhecimento por parte dos deficientes físicos em relação aos treinos de basquete em Campo Grande, quem experimenta a prática percebe que o esporte se torna fundamental porque ajuda a reconquistar a independência e a autoestima.

"O basquete em cadeira de rodas desenvolve a parte dos membros superiores e isso ajuda a eles saírem sozinho da cama, porque eles ganham mais força muscular e mais independência. Além de ser um esporte coletivo, aqui eles têm amigos e se divertem também", afirma a treinadora.

A prática do esporte aumenta a qualidade de vida e saúde, principalmente psicológica. Bel diz que os cadeirantes, por ficarem muito tempo sentados, têm tendência a ter problemas de rins e de circulação. Outro ponto ressaltado pela treinadora é a independência para fazer as atividades.

"Quando sofrem acidente, acha que não podem fazer mais nada, que a vida deles parou, mas não é assim. A família protege demais, tem horas que a família atrapalha também essa independência deles. Quando eles viajam, por exemplo, vão sozinhos e acabam ficando mais independentes. Quando vão jogar, veem pessoas que são muito mais lesadas do que eles e fazem muito mais coisas que eles. Isso acaba estimulando", relata.

Superação sobre rodas

Elizeu Casimiro e Emanuel Rogério de Oliveira fazem parte da equipe. Oliveira perdeu uma das pernas em um acidente de motocicleta, em 2001. Ele conta que ficou meses internado após o acidente e que, mesmo depois de ter alta hospitalar, evitou de sair de casa.

"Tinha receio da reação das pessoas conhecidas na rua, tinha medo de dar trabalho para os outros. A gente percebe que começa a perturbar as pessoas quando depende muito delas", afirma Oliveira, lembrando que começou a superar as dificuldades quando descobriu o esporte para deficiente físico.

"Eu tinha uma vida muito ativa e, depois do acidente, achei que tinha acabado. Mas, comecei a pensar que eu estava vivo, que Deus tinha me dado outra oportunidade de aproveitar a vida e por isso passei a enxergar as dificuldades com outros olhos. Comecei a superá-las", lembra.

Em relação aos demais atletas da equipe, Oliveira tem algumas vantagens por ter mais desenvoltura em alguns movimentos e membros. A treinadora Bel explica que isso acontece porque a pessoa que adquire a deficiência, como Oliveira que perdeu uma das pernas, continua tendo a mesma eficiência em outros membros e movimentos.

"Não tem como comparar a firmeza do tronco do Emanuel e do Elizeu. O Emanuel não ter uma perna é menos difícil de jogar do que o Elizeu que tem o tronco e o quadril paralisados desde a infância", explica a técnica, detalhando que cada atleta é classificado por pontos conforme a eficiência de cada membro e que a pontuação dos jogadores dentro de quadra não pode ultrapassar 14 pontos.

"Tenho que respeitar essa regra do regulamento quando vou escalar o time e fazer substituição. Esse critério existe para igualar as habilidades gerais dos times que disputam a partida", diz.

Mais sorridente da equipe, Casimiro perdeu os movimentos das pernas com 1 ano de idade, por conta da poliomielite. De segunda a sexta-feira, ele trabalha como vendedor de balas e chicletes em um semáforo no Centro de Campo Grande. Três vezes por semana, o vendedor encerra o expediente mais cedo e segue para o treino de basquete. Ele vai de ônibus e, no caminho, conta as experiências positivas que passou a ter desde quando começou no esporte.

"Achava que eu só podia fazer atletismo e arremesso de peso, mas descobri o basquete de rodas e minha vida mudou totalmente", afirma.

Casimiro diz que não quer ganhar campeonatos ou medalhas. O objetivo é se divertir e alongar o corpo, exercitar os músculos. Sobre as competições, ele diz que gostaria de competir mais, de ter mais times adversários, mas garante que a expectativa é que cada vez mais aumente o número de praticantes do esporte de rodas.

O esporte

Bel diz que, em Mato Grosso do Sul, existem apenas duas equipes de basquete em cadeira de rodas: a que ela treina em Campo Grande e outra em Dourados. Por conta do baixo número de atletas, não é possível ter uma regularidade de campeonatos. Sobre o incentivo ao esporte e verba para investimento, a treinadora garante que o estado e o município tentam dar suporte para os atletas, mas falta investimento de empresas.

"A mentalidade dos empresários daqui é muito pequena, eles não pensam em incentivar o esporte, os atletas. Isso dificulta a nossa vida como equipe. As cadeiras que eles usam foram compradas em 2000 e hoje eles estão em 2013 com as mesmas cadeiras. Não é só o atleta, o implemento faz parte do atleta no jogo", ressalta.

Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o basquete em cadeira de rodas começou a ser praticado nos Estados Unidos, em 1945. Os primeiros jogadores eram ex-soldados do exército norte-americano que tinham sequelas físicas da Segunda Guerra Mundial.

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