Aos quase 60 anos, Claudionor Cardoso ainda sobe nos tatames como competidor, técnico e referência no jiu-jitsu de Mato Grosso do Sul. Figura conhecida em Campo Grande, ele carrega nas costas uma trajetória de décadas dedicadas à arte suave. Começou aos 18 anos, influenciado pelo pai, que também era atleta da luta. Desde então, não parou mais.
“Meu pai sempre me incentivou a treinar visando a defesa pessoal e competição”, conta Claudionor. Mas foi nas vivências como competidor que surgiu o desejo de compartilhar conhecimento. “Sempre tive prazer em compartilhar minhas experiências com meus alunos, para que eles também vivam essa adrenalina prazerosa e, quem sabe, trilhem uma rotina de competição que possa mudar sua vida em todos os âmbitos”.
A paixão declarada pelo jiu-jitsu está presente em todos os aspectos de sua fala e da sua rotina. Claudionor é um dos nomes mais respeitados da arte marcial na capital sul-mato-grossense, e atribui esse reconhecimento à forma como se entrega ao que faz. “Sou completamente apaixonado por jiu-jitsu, e quem convive ou conviveu comigo sabe que levo a sério a filosofia da arte marcial. Quando você trata com seriedade e competência aquilo que se comprometeu a fazer, o reconhecimento das pessoas é inevitável”.
Além das conquistas e aprendizados técnicos, Claudionor carrega também marcas pessoais profundas ao longo da caminhada. “A perda do meu irmão é um fato triste que me marca profundamente”. Por outro lado, nas lembranças felizes, destaca um episódio marcante em sua carreira internacional: “Ter sido reconhecido e elogiado em um seminário fora do Brasil pelo meu ídolo Renzo Gracie”.
Apesar da imagem consolidada como treinador e competidor, ele divide sua rotina entre diferentes atividades para garantir renda e manter os treinos. “Não exerço a função de treinador como única profissão. Administro minha academia, dou aula de musculação, jiu-jitsu, e faço corrida por aplicativo. E entre esses afazeres tenho que achar tempo pra correr, treinar e malhar”.
A rotina diária começa cedo e vai até altas horas da noite. “Dou aulas das 6h às 9h. No momento, como estou me preparando para o Campeonato Brasileiro, faço musculação após a aula e sigo para o treino de jiu-jitsu na hora do almoço. Até às 21h fico em função da academia e treino de alunos, e faço corrida até, aproximadamente, às 23h30”.
Claudionor acompanha de perto a evolução da modalidade em Campo Grande e no estado. “Hoje temos inúmeras academias que oferecem a prática, projetos sociais... Campeonatos de altíssimo nível que servem para que nossos atletas cheguem nas competições nacionais e internacionais e batam de frente com atletas de grandes cidades”. Com orgulho, observa que muitos professores e atletas de destaque na cidade já passaram por suas aulas. “A quase totalidade dos nomes que hoje são grandes professores de equipe ou atletas foi meu aluno um dia. É um prazer imenso saber que se apaixonaram pela arte e seguiram no caminho”.
Mesmo com todas as dificuldades estruturais e financeiras enfrentadas pelos atletas, Claudionor continua acreditando no poder transformador do jiu-jitsu, especialmente entre os jovens. “Sem dúvida nenhuma a filosofia do jiu-jitsu é uma grande ferramenta de educação, por isso ele adentrou as escolas e está mudando vidas. Algumas dessas filosofias dizem estar ‘fora de moda’, porém no meu tatame cobro e procuro passar a importância de manter a disciplina. Busco sempre frisar que a lealdade e o respeito ao outro devem ser seu guia fora e dentro dos tatames”.
Ele critica a ausência de apoio público para o esporte. “A arte marcial ainda não tem seu reconhecimento merecido. Precisamos de mais programas, mais verbas destinadas à manutenção do atleta, para que ele não precise se desdobrar em mil para sobreviver e competir”.
As dificuldades de gerenciar uma equipe também fazem parte do cotidiano. “Na verdade, não consigo. Os desafios surgem a todo momento, e não é fácil atender às necessidades e anseios de todos. Mas sigo tentando”.
Mesmo diante de tantas adversidades, Claudionor não pensa em parar. Ele continua treinando e competindo, e mantém viva uma meta ousada: ser campeão mundial na categoria master. “Estou hoje com quase sessenta e simplesmente não entendo como tem meninos aí de 30, 40 se dizendo velhos pra competir. Minha meta é continuar competindo. Meu grande sonho seria poder participar de todos os campeonatos possíveis. Infelizmente meu corpo físico não me permite mais, mas ouso dizer que desejo um dia ser Campeão Mundial, nem que seja no Master 7, aos 70, 80 anos”.