Dourados (MS) - Percorrer longas distâncias para realizar os sonhos e vencer os desafios. Seja nas piscinas ou nas estradas, essa é a sina do jovem Lucas Kanieski, de 21 anos, especialista nas provas de 1.500m. Nascido e criado até os 16 anos em Dourados, em Mato Grosso do Sul, o atleta arrumou as malas atrás do objetivo de ser um grande nadador.
No itinerário, o aperfeiçoamento na capital Campo Grande e, a 1.449Km de casa, a realização de nadar no Minas Tênis Clube. Em Belo Horizonte, o fundista se projetou para o país e se tornou frequentador assíduo da seleção brasileira nas principais competições da modalidade. Agora, ele se prepara para seguir rumo a um destino especial: Londres.
Ambientado depois de três temporadas em Belo Horizonte, Lucas tem no currículo a medalha de prata no revezamento dos 4x200m livre e os recordes sul-americano e brasileiro dos 1.500m livre em piscina curta (14m45s). Credenciado por essas conquistas, seu próximo desafio é alcançar o índice de 15m10s16 na sua especialidade para se garantir nos Jogos Olímpicos.
"Isso é possível e meu planejamento está todo voltado para conseguir a marca no Troféu Maria Lenk, em abril. Sei que é viável, pois o tempo que eu tenho em piscina curta, se for transferido para a longa, dá esse índice", explicou.
Vindo de um centro em que a natação não é muito praticada, Kanieski começou no esporte devido a uma indicação médica. Aos cinco anos, o menino sentia fortes dores na perna, atribuídas ao crescimento. Assim, a mãe Ivonete foi obrigada a colocá-lo na água para amenizar o problema. O que poderia se tornar um sacrifício virou uma paixão. A partir dos 11 anos, as braçadas se intensificaram e, em 2006, o seu técnico José Geílson recebeu um convite para trabalhar na capital sul-mato-grossense. Sem pestanejar, o nadador saiu de casa para acompanhar o comandante.
"Foram dois anos longe de casa. Porém, não senti muito a distância, já apenas 200Km me separava de casa. Dava para passar o fim de semana com meus pais. Foi uma boa experiência, mas tive que deixar a cidade por causa da falta de estrutura", contou o atleta.
Apesar de estar distante de regiões mais desenvolvidas na modalidade, o talento do jovem já era observado pelos treinadores das principais equipes do Brasil. Tanto que, quando ainda estava em Mato Grosso do Sul, o nadador defendeu as cores do Corinthians e da Unisanta nas competições nacionais. No entanto, foi o Minas que resolveu levar o garoto para as dependências do clube e ajudá-lo a se transformar na aposta brasileira para a prova menos tradicional do país (1.500m). Para a equipe mineira, um investimento. Para o atleta, o preço alto era a saudade.
"Foi difícil, pois fiquei dois anos e meio morando em uma república e sem poder ir a Dourados para ver meus pais. Isso me fez crescer muito, não só na natação como também no lado pessoal. Mas agora melhorou porque estou morando sozinho e consigo recebê-los na minha própria casa. Inclusive, um mês antes das principais competições, minha mãe vem para cá e fica me dando um suporte. Ela faz comida e vira quase que uma nutricionista", declarou Kanieski, que também nada os 400m livre.
Com os pratos feitos por Dona Ivonete e esse desejo na cabeça, o nadador sabe o que precisa fazer para realizar a viagem mais sonhada da carreira. Na luta por um lugar no maior evento esportivo do mundo, Lucas Kanieski terá mais três chances: o Sul-Americano de Belém, em março, o Maria Lenk, no mês seguinte, e o torneio seletivo criado pela CBDA, em maio. Para quem está acostumado a preparar a bagagem e partir rumo a longos percursos, Londres é logo ali.