Depois de anos longe das competições e do convívio social, o campo-grandense Thiago Augusto Amaral reencontrou no esporte uma nova forma de viver. Amputado, ex-jogador de futebol americano e hoje paratleta do arremesso de peso, ele reencontrou no atletismo a motivação que havia perdido. “O esporte mudou a minha vida completamente, pois antes eu não tinha uma expectativa de vida, não tinha objetivos. As pessoas só me diziam que eu deveria me aposentar. Hoje em dia eu trabalho, treino, faço academia, tudo normal”, afirma.
A relação de Thiago com o esporte começou em 2010, logo após ele deixar de fumar. Foi através do primo, Pedro Henrique, que conheceu o futebol americano. A mudança de hábito virou também uma nova rotina. “Comecei a jogar em 2010, logo após largar o cigarro. Meu primo me convidou para conhecer o esporte e fui. Era uma novidade”, lembra.
A trajetória como paratleta começou mais tarde, após um período difícil. Por três anos, Thiago ficou recluso, sem sair de casa. O retorno ao esporte aconteceu de forma inesperada, quando resolveu acompanhar um treino do antigo time de futebol americano. “Fui assistir ao treino e lá conheci o professor Carlos Igino, que me convidou para conhecer o arremesso de peso”, explica.
O convite foi o ponto de partida. Thiago começou a treinar e redescobriu a competitividade e o prazer da prática esportiva. Com o tempo, vieram também os obstáculos, muitos deles fora da pista. Um dos maiores desafios, segundo ele, ainda é a falta de estrutura adequada para o paradesporto em Campo Grande. “A distância para treinar é um problema. Tenho que atravessar a cidade e ainda achar alguém para me levar. Sendo que, na esquina da minha casa, tem um poliesportivo, mas não tem o esporte adaptado”, denuncia.
Apesar das dificuldades, ele construiu uma rotina de treino e disciplina. Hoje, faz academia diariamente e treina arremesso de peso uma vez por semana no Parque Ayrton Senna, na região do Aero Rancho. “É longe, mas é o que temos. Então eu vou, treino e depois sigo para o trabalho”, resume.
As conquistas começaram a aparecer após anos de insistência. Em 2020, em Londrina (PR), veio a primeira medalha de ouro. “Foi uma das minhas maiores conquistas. Treinei por três anos e só vinha conquistando prata e bronze. Em 2020, consegui meu primeiro ouro”, comemora. No ano seguinte, Thiago chegou à quinta colocação no ranking brasileiro de sua categoria, feito que ele considera o mais importante da carreira até agora.
As metas, no entanto, continuam ambiciosas. “Meu maior objetivo é ficar entre os três primeiros do ranking brasileiro e, futuramente, ir para um campeonato mundial ou uma Paralimpíada”, projeta.
Para além das competições e das medalhas, Thiago acredita que o paradesporto tem um papel fundamental na inclusão de pessoas com deficiência. Ele defende que o atleta paralímpico deve ser visto não apenas pela performance, mas também como um agente de transformação social. “Os paratletas são exemplos de superação. Não se deve se diminuir por causa da sua deficiência. Todos são capazes de conquistar os seus objetivos”, reforça.
Essa visão se reflete também na mensagem que ele deixa para outras pessoas com deficiência que ainda não encontraram no esporte uma motivação. Para Thiago, o início pode ser difícil, mas a recompensa vem com o tempo. “Não pode desistir. Todo recomeço é difícil, mas com persistência, perseverança e no tempo de Deus, tudo vai se encaixando. Com o tempo, a pessoa vai colher os frutos de todo o esforço e reconhecer que não foi em vão.”
Hoje, mesmo com a rotina apertada entre trabalho, academia e treinos, ele segue com os olhos voltados para o futuro e os pés firmes no presente. A história de Thiago é um retrato das barreiras que ainda existem, mas também da força de quem escolhe não parar. Ele continua treinando, crescendo e construindo caminhos — dentro e fora da pista.