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Shihan Nelson Lima compartilha aprendizados de uma vida no tatame

da redação - 9 de mai de 2025 às 14:24 37 Views 0 Comentários
Shihan Nelson Lima compartilha aprendizados de uma vida no tatame Da Redação

Iniciado por influência familiar, motivado pela prática e guiado pelos princípios da arte marcial, o Shihan Nelson Lima é um dos nomes mais antigos e respeitados do karatê em Mato Grosso do Sul. Com uma trajetória que começou na década de 1980, em Iguatemi, ele construiu sua história a partir de experiências vividas dentro e fora do tatame. Hoje, compartilha lições, valores e perspectivas que moldam sua atuação como líder e professor.

“Naquela época, comecei no karatê por imposição dos meus pais, já que os meus irmãos mais velhos, Nilson e Whylmonis, praticavam, e meus pais acreditavam que isso seria bom para mim também”, relembra. O que começou como uma obrigação se transformou em escolha. “A prática deixou de ser uma obrigação a partir do momento em que comecei a competir e ter a modalidade como um modo de vida, e assim segue até hoje.”

A prática do karatê se desenvolveu em Mato Grosso do Sul ao longo das décadas, acompanhando transformações sociais e estruturais. Nelson viu essa evolução de perto. “Quando eu competia, não existia tatame. Os eventos eram realizados de uma forma precária, onde era feito um quadro de 8 por 8 metros demarcado por fita crepe, e lutávamos com segurança zero. Hoje, vejo boa vontade de todos em fazer a modalidade crescer, e isso é possível pela união que os Shihans aqui do estado demonstram ter.”

Mesmo com avanços em estrutura e organização, obstáculos persistem. O apoio financeiro é apontado por ele como o maior desafio enfrentado atualmente pelos praticantes da modalidade em Campo Grande e no estado. “Parece clichê o que vou dizer, mas é uma grande realidade. A falta de apoio financeiro trava o planejamento de competição do esporte e, no karatê, não é diferente.” Segundo ele, convites para competir fora do país são frequentes, mas raramente se tornam realidade por falta de recursos. “Muitas vezes planejamos ter voos mais altos para aqueles alunos que se destacam, mas não conseguimos avançar.”

O karatê, para Nelson, se diferencia por aspectos que vão além do físico. “Acredito que a disciplina e o poder de concentração é o que diferencia, e isso é fascinante”, afirma. São essas qualidades que ele busca transmitir no dojo. “Posso afirmar que são três qualidades que marcam o karatê: a primeira é a humildade, a segunda é a gratidão e a terceira é a inclusão.” Ele reforça que todos têm seu lugar dentro do espaço de treino. “Humildade pra saber e entender que todos são importantes para o dojo — desde o faixa branca até o faixa preta. Respeitar os mais graduados sempre. E na inclusão, é nunca criticar, zombar ou menosprezar as limitações dos seus praticantes.”

Na visão do Shihan, o impacto do karatê vai além da técnica. Ele vê a prática como ferramenta de transformação pessoal e social, especialmente entre os jovens. “Costumo dizer que o karatê abre portas que muitos não acreditam. Falo no sentido em que aqueles que verdadeiramente querem vivenciar essa experiência têm uma vida serena em suas atitudes.”

A trajetória de Nelson também é marcada por momentos difíceis. Ele relembra um episódio em 1999, na cidade de Ivaté (PR), quando um atleta faleceu durante uma competição. “Naquele momento pensei em largar tudo, mas a certeza de que fizemos tudo o que poderia ser feito para salvá-lo e o amor que eu sinto por este esporte me mantém aqui por tanto tempo.” O episódio, superado com o tempo, se tornou também parte do caminho trilhado por ele na modalidade.

Quanto ao cenário internacional, Nelson destaca a importância da inserção do karatê em eventos fora do país. “A evolução do karatê é visível pelo mundo afora, mas a necessidade de apoio é fundamental.” Ele acredita que esse movimento pode impulsionar ainda mais o esporte em Mato Grosso do Sul, desde que haja condições para que os atletas possam representar o estado com dignidade e preparo.

Com décadas de atuação, o olhar do Shihan também se volta ao futuro. Seu principal objetivo atual é a formação de novos líderes no karatê. “O meu projeto é formar faixas pretas com qualidade e, com isso, garantir o futuro do esporte. Afinal de contas, não ficarei aqui para sempre.” A transmissão do conhecimento, para ele, é a maneira de manter viva a essência do karatê e assegurar sua continuidade.

Aos jovens que iniciam ou pensam em ingressar no karatê, o conselho de Nelson é direto: “Procure sempre uma academia que respeite o karatê como ele merece. Pratique com responsabilidade, lembrando que o tatame é a extensão de sua casa. Respeite seu sensei e, acima de tudo, honre seu pai e sua mãe.”

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