Em Campo Grande, o futebol de terrão é mais do que lazer: é rotina, pertencimento e superação. Elder Santos, jogador conhecido como Robinho nos campeonatos de bairros da capital, é um dos nomes que ajudam a manter viva essa tradição. Nascido em Mato Grosso do Sul e criado em Rondônia e Cuiabá, ele encontrou nos campos de terra batida não apenas uma forma de continuar jogando, mas também um ambiente de amizade e conquistas. “Comecei muito tempo atrás, assim que cheguei do estado de RO. Sempre gostei de futebol, e as amizades e o gosto pelo esporte sempre me motivaram a continuar.”
Elder tem uma carreira marcada por diversos títulos na várzea campo-grandense, ainda que a memória do primeiro campeonato conquistado seja um pouco nebulosa. “Já fui campeão em alguns, mas o primeiro eu não consigo me lembrar. Tenho dúvida entre Balalaika e Lava-Jato Sr. Heleno”, contou. Apesar disso, a emoção de levantar uma taça permanece viva. “Ser campeão em um campeonato que demora meses e pela primeira vez é inigualável.”
Quando questionado sobre o que representa conquistar campeonatos nos bairros, a resposta é simples, direta, e reflete a essência do futebol de terrão. “Eu nunca pensei nisso, em representatividade. Eu só queria jogar futebol e ser campeão, e graças a Deus eu consegui conquistar alguns.”
Mas a vida no terrão também envolve desafios. Segundo Elder, a organização dos campeonatos tem melhorado com o tempo. “Antigamente, as premiações não tinham um certo teto. Hoje em dia, com a criação de algumas instituições, as premiações estão normalizadas.” A mudança mostra uma evolução na estrutura dos torneios, que vêm ganhando mais organização, visibilidade e apoio.
Entre os momentos marcantes da carreira, Elder destaca dois em especial. Um jogo e um campeonato. “Uma partida que eu não esqueço foi a final do Albuquerque (livre), que meus amigos do Vó Maria fizeram uma homenagem pro meu irmão. E o campeonato com toda certeza é o antigo São Conrado, porque era o mais disputado na época.”
Diferente do futebol profissional, a preparação para os jogos do terrão não segue padrões rígidos. A regra é clara: entrar em campo e dar o melhor. “Como é um campeonato de várzea, não tem muito segredo. É entrar e jogar e fazer o que sabe fazer.”
Elder também deixa uma mensagem para os jovens que começam a se aventurar pelos campos de terra da cidade. “Pra sempre continuar em frente, aproveitar que são novos e desfrutar do que gostam, que é o futebol. Claro, sem violência e sempre respeitando o adversário.”
Apesar da força do futebol amador nos bairros, ele acredita que ainda há muito a melhorar. “Com certeza o terrão poderia receber mais apoio e visibilidade. O futebol amador está crescendo e pode crescer ainda mais, indo atrás de mais recursos, empresários e parcerias. E, claro, com a melhoria de certos campos, com banheiros químicos, vestiários e etc.”
Aos 41 anos, Elder já começa a pensar nos próximos passos. “Quero continuar mais uns dois anos e parar, mas estou pensando em entrar como diretor de esporte no bairro Taquarussu pra fazer um campeonato lá, porque tá parado e o campo tá acabando.” A fala revela um desejo de retribuir ao futebol de terrão tudo o que ele proporcionou, agora com um novo papel: o de organizador.
Mais do que troféus, para Elder o futebol de terrão representa uma rede de relações que se estende para além das quatro linhas. “Representa competitividade, união, garra e, além de tudo, muita amizade, companheirismo e família.”