O professor de Educação Física Neilson de Figueiredo Araújo, de 33 anos, tem conciliado sua atuação na escola com o desenvolvimento de equipes escolares de futsal no município de Corguinho, interior de Mato Grosso do Sul. Natural de Campo Grande, Neilson iniciou sua trajetória no esporte como atleta, ainda aos sete anos, e jogou futsal até os 28. “Fiz Educação Física e foi um caminho natural. Teve equipes em que jogava e era o técnico ao mesmo tempo”, relembra.
Concursado, ele atua prioritariamente como professor, mas voltou a se envolver com o futsal a pedido dos próprios alunos. “O futsal voltou pra minha rotina a pedido dos alunos que gostariam de participar dos Jogos Escolares. Resolvi ajudar a realizar esse sonho que em outros anos era muito distante para nossa cidade”, afirma. Desde então, desenvolve trabalho voluntário com as equipes da Escola Estadual José Alves Quito, onde trabalha.
A realidade esportiva em municípios pequenos impõe desafios que ultrapassam a quadra. A falta de investimentos e estrutura impacta diretamente o desenvolvimento técnico e a continuidade das atividades. “Os maiores desafios são os recursos limitados para o esporte. Como são cidades pequenas e com poucos investimentos e infraestrutura, as pessoas que fazem o esporte acontecer precisam gostar muito. Além de investir em tempo, precisam ir atrás de recursos, muitas vezes da própria renda”, descreve.
Neilson relata que, em Corguinho, o ginásio é antigo e carece de reformas. “O campo, a grama já foi substituída por mato. O maior desafio é investimento no alto rendimento, pois os recursos disponíveis são utilizados em projetos esportivos sociais que visam tirar as crianças da rua e incentivar aos estudos”, pontua.
Apesar das dificuldades, o esporte continua sendo uma das principais ferramentas de inclusão e transformação social. “O esporte é um fenômeno de transformação social. Muitos dos nossos jovens conhecem outros lugares e pessoas através do esporte. Surgem oportunidades de estudos, empregos e seguem jogando por outras equipes. Eu me considero um fruto do esporte. Através dele pude conseguir bolsa de estudo na universidade para jogar futsal e conhecer quase todos os municípios do nosso estado e até fora dele.”
Para ele, essa vivência como atleta e estudante contribui diretamente em sua atuação como técnico e educador. “Essa experiência me ajuda no dia a dia com os atletas e em muitas situações de jogo”, afirma. Entre os principais valores que procura transmitir estão respeito, disciplina e responsabilidade. “Procuro transmitir o que aprendi com meus treinadores e com a experiência adquirida em quadra. Respeito aos companheiros, adversários, ao jogo e à hierarquia da equipe.”
A receptividade do trabalho por parte da comunidade local tem sido positiva. “A comunidade local sempre incentiva e valoriza o trabalho com jovens, tanto no masculino quanto no feminino. Quando vamos viajar, a comunidade não mede esforços para dar suporte financeiro necessário. A Prefeitura ajuda no transporte e no que é possível, e a Câmara de Vereadores sempre apoia destinando recursos”, conta.
Mesmo com as limitações, alguns atletas que passaram por seus projetos conseguiram alcançar oportunidades maiores. “Trabalhei com muitos jovens em projetos sociais da prefeitura como o Bom de Bola e Bom na Escola. Nos últimos cinco anos, venho atuando mais na educação física escolar e no esporte escolar, participando dos Jogos Escolares do MS.” Ele cita alguns nomes que seguiram atuando em outras cidades ou clubes: “Tenho alguns atletas que trabalhei que estão na base de equipes em São Paulo, como o Breno. No futsal feminino, a Fernanda está em Manoel Ribas (PR), Luís Felipe está na base do ABC, Pedro Lucas e Yonnam jogam no Dakila, equipe que venceu a Liga MS Conferência Central.”
Neilson chegou a receber convites para retornar ao futsal de alto rendimento no Estado, como o da equipe Dakila, mas recusou para manter o foco nos estudantes. “Como já estava com compromisso na escola e com os atletas dos jogos escolares, não teria tempo para exercer mais uma função. Mas deixei as portas abertas para, quem sabe um dia, retornar ao futsal de alto rendimento.”
A falta de visibilidade e apoio ao futsal do interior, segundo ele, é reflexo de um modelo que perdeu o incentivo de universidades e empresas. “Nosso futsal tinha força quando as universidades investiam, cedendo bolsas a atletas, e as grandes empresas custeavam as equipes. Creio que talento tem de sobra no nosso estado. O que falta é investimento, mas também que as empresas tenham retorno ao investir.”
Ele destaca ainda que, em cidades pequenas, geralmente as prefeituras são responsáveis por bancar boa parte dos projetos. “Por terem outras prioridades como saúde, educação, infraestrutura, o esporte fica com o que sobra. Para que novos clubes possam surgir e custear esses gastos, fica difícil, pois o retorno esportivo e financeiro atualmente é baixo, não sendo atrativo.”
Como mensagem aos jovens que sonham em seguir carreira no esporte, Neilson é direto: “Recomendo que se dediquem aos estudos em primeiro lugar e depois tentem a inserção no esporte escolar, participando dos Jogos Escolares, pois é o caminho mais fácil para ter visibilidade. Precisarão ter muita persistência, pois no nosso estado ainda é muito difícil viver do esporte e chegar em grandes centros esportivos.”