Com mais de duas décadas dedicadas à arte suave, o professor Marco Góes, de 47 anos, vê no jiu-jitsu mais do que uma prática esportiva. Para ele, trata-se de uma ferramenta de transformação pessoal e social. Proprietário da escola Alliance Jiu-Jitsu Campo Grande, uma das unidades da equipe multicampeã mundial, Góes aposta na profissionalização da gestão e na ampliação do acesso ao esporte na periferia da capital sul-mato-grossense.
"Comecei minha trajetória no jiu-jitsu em 2003, aqui mesmo em Campo Grande. Naquela época, eu estava muito acima do peso e buscava uma atividade que realmente me ajudasse a mudar de vida", afirma o professor. O que começou como uma alternativa para emagrecimento acabou se tornando parte essencial de sua rotina e mentalidade. “O jiu-jitsu também teve um papel essencial no combate à depressão. A arte suave se tornou minha ferramenta de superação, equilíbrio e transformação.”
A virada na carreira veio anos depois, com a fundação da própria unidade da Alliance em Campo Grande. Góes explica que sua ligação com a equipe teve início em 2012, quando foi convidado a integrar a Alliance por Robson Alencar, seu mestre e amigo. Foi com ele que recebeu a faixa marrom e, posteriormente, a faixa preta em 2014. “Em 2019, senti que era hora de dar um passo à frente e fundar minha própria escola da Alliance em Campo Grande”, diz.
O modelo da franquia criada por Fábio Gurgel também foi fator decisivo. “Entendi que o modelo de negócio desenvolvido pelo Fábio Gurgel era muito interessante e bem estruturado. Por isso, me dediquei ainda mais, inclusive realizando o curso Viver de Jiu Jitsu, que ampliou minha visão empreendedora dentro da arte suave.”
Em 2024, a escola liderada por Marco alcançou um marco expressivo: foi reconhecida como a 9ª melhor unidade da Alliance entre as quase 150 existentes no Brasil, segundo ranking interno da associação. A conquista, segundo ele, é resultado da união entre gestão eficiente, metodologia padronizada e foco na formação de pessoas. “Mais do que formar atletas, acreditamos que o jiu-jitsu é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento humano.”
Dentro da unidade, os alunos seguem um sistema dividido por níveis (Iniciante, Intermediário, Avançado e Competição), com turmas específicas para crianças, mulheres, praticantes do No-Gi e interessados em aulas particulares. “Adotamos um programa técnico exclusivo, estruturado de forma progressiva e pensado para respeitar o ritmo e a evolução de cada aluno”, explica Góes. No público infantil, a divisão ocorre também por faixa etária, com metodologia pedagógica adaptada.
Instalada na região central da cidade, a escola tem 200m² de área de tatame, estacionamento próprio e utiliza um sistema de ERP para gestão administrativa. O professor afirma que manter uma escola de alto nível envolve mais do que treino: “É preciso educar o público sobre o valor de uma metodologia séria, que vai muito além da prática física”.
Nos últimos anos, a unidade tem apostado na formação de atletas de competição. “Há cerca de dois anos, iniciamos um trabalho mais direcionado para a formação de atletas de alto rendimento. Mesmo sendo um projeto recente, já estamos colhendo excelentes frutos.” Entre os destaques formados na escola estão Pedro Rojas, Matheus Dornelles, Leonardo Ortega, Ana Luíza e Elaine Renata. Além disso, o núcleo infantil tem se destacado em campeonatos estaduais e nacionais.
No entanto, Góes enfatiza que os ganhos vão além das medalhas. “O jiu-jitsu desenvolve a autodefesa, melhora o condicionamento físico, fortalece a autoconfiança, estimula a disciplina e o foco, e contribui diretamente para o equilíbrio mental e emocional.”
A prática regular, segundo ele, ajuda ainda no gerenciamento do estresse e no desenvolvimento da resiliência emocional. “No tatame, aprendemos a cair, levantar e seguir em frente — lições que se refletem diretamente na vida pessoal, profissional e familiar de cada praticante.”
Além das aulas regulares, a Alliance CG mantém ações sociais pontuais como doações de agasalhos, kimonos, campanhas de sangue e celebrações em datas especiais, como Dia das Crianças e Natal. Também concede bolsas para crianças e adolescentes para crianças carentes. A próxima meta é estruturar um projeto social fixo voltado para as periferias. “Estamos preparando o lançamento de um projeto social focado na prática do jiu-jitsu em bairros carentes, com o objetivo de levar os valores da arte suave para dentro das comunidades que mais precisam de apoio, orientação e pertencimento.”
O objetivo é criar núcleos permanentes, com acesso gratuito ao jiu-jitsu, professores capacitados e estrutura mínima. “Nosso compromisso é com a formação de pessoas, dentro e fora do tatame, e com o fortalecimento da sociedade por meio do esporte, da educação e da inclusão.”
Góes também avalia de forma positiva o crescimento da modalidade em Mato Grosso do Sul. “Temos mais competições, mais atletas se destacando e uma maior valorização das escolas sérias e comprometidas.” Ele acredita que o futuro da modalidade no estado passa pela qualificação contínua dos profissionais, pela formação ética dos alunos e pela estruturação de um calendário competitivo sólido. “Estamos prontos para contribuir com essa evolução, formando não apenas campeões nos tatames, mas também na vida.”