São Paulo (SP) - Por enquanto, César Cielo só quer saber de curtir a conquista inédita da medalha de ouro olímpica. Quando questionado sobre planos para o futuro, o espanto é grande: "Competição? Que competição? Até me pediram para nadar, mas se eu cair na água vou mais atrapalhar do que ajudar", disse o nadador, que se reuniu com dirigentes nesta quarta-feira no Corinthians, onde está sendo disputado o Troféu José Finkel de natação.
E mesmo após fazer as pazes com a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Cielo ainda não sabe onde fará sua preparação para o Mundial de Roma (ITA), em julho de 2009. Sabe apenas que será orientado pelo australiano Brett Hawke, que o comandou nos Jogos de Pequim e em sua estadia de quase dois anos em Auburn, nos Estados Unidos. Ainda que isso signifique continuar pagando o técnico do próprio bolso. Já o local pode até ser o Brasil.
"Ficar de vez no Brasil não é uma possibilidade remota, não, é algo a ser considerado. Seria ótimo ficar por aqui, ainda mais depois de tanto tempo fora", argumentou o nadador, que alfinetou, agora de leve, os cartolas da natação.
"O grande problema é que não sei o quanto que me foi prometido é realmente verdade, se tem fundamento. Meu técnico recebe em dólar, então a despesa não é pequena, e sai tudo do meu bolso. Com essa conversa que tive hoje com os dirigentes, as coisas devem se resolver, mas é cedo para definir qualquer coisa."
Se ficar no país, no entanto, outra dificuldade será lidar com o assédio na hora de voltar à concentração. "Seria muito difícil permanecer em São Paulo, isso já deu pra perceber. Para treinar, preciso ficar quieto no meu canto", justificou o nadador, que não descarta procurar outro centro de treinamento nacional. "Existem boas opções, é algo a considerar."
No entanto, é mais provável que Cielo acabe retornando à pacata cidade norte-americana responsável por sua conquista. "Não que eu ache legal voltar pra lá, mas Auburn foi essencial nesse processo. Lá tive tranqüilidade para treinar e não pensar em mais nada", lembrou o atleta, que vê no retorno outro facilitador, a proximidade com Hawke, que já está de volta à universidade.
"Seria muito difícil bancar a vinda do Brett (Hawke) para o Brasil. Ele até me disse que, se eu igualar o valor das propostas que ele recebeu por lá, viria sem problemas. Mas imagine como seria pra ele criar os quatro filhos aqui?", brincou Cielo.
Como o brasileiro não é mais estudante de Auburn, não possui mais bolsa, e terá que custear sua permanência no clube. "Pagando, tudo dá certo", resumiu.
De acordo com a CBDA, a entidade aguardará a decisão do nadador sobre o local onde ele prefere ficar. "A CBDA vai apoiá-lo, como sempre apoiou. Por ora, Cielo ainda está absorvendo tudo o que aconteceu, então vamos aguardar até que ele saiba o que quer fazer", disse o coordenador Ricardo De Moura. "Cielo não está suficientemente recarregado. Ontem, as declarações dele foram como soltar uma panela de quatro anos de pressão. Quando ele se decidir, vamos conversar."