Leonice Gonçalves de Souza, 35 anos, natural de Maracaju, construiu sua trajetória na arbitragem esportiva a partir da paixão pelo futebol e da superação de desafios pessoais e profissionais. Nascida em 14 de agosto de 1989, ela conta que o envolvimento com o esporte começou muito cedo. “Desde os meus 9 anos já participava de todos os jogos escolares, campeonatos. Desde pequena sempre gostei muito de futebol, era meu esporte favorito”, relata.
A trajetória no futebol, entretanto, foi interrompida por circunstâncias da vida. Leonice foi mãe muito jovem e, apesar de ter tentado seguir carreira como jogadora profissional fora de Mato Grosso do Sul, optou por priorizar a maternidade. “Fui mãe muito cedo, e aí vieram os desafios. Ainda assim, depois de ser mãe tentei jogar profissionalmente fora do nosso estado, mas o coração de mãe falou mais alto e desisti do futebol profissional”, explica.
Foi justamente a impossibilidade de seguir como atleta que levou Leonice a buscar uma alternativa que a mantivesse próxima do esporte que sempre amou. “Foi aí que a paixão pelo futebol me fez buscar um caminho que me manteve no meio. Eu decidi que seria árbitra”, afirma.
Em 2014, Leonice fez o seu primeiro curso de arbitragem. A entrada nesse universo foi imediata. “Comecei a atuar na mesma semana em um torneio municipal da cidade, mas tinha muito medo. Dei uma pausa e, assim que saiu outro curso, fiz de novo”, lembra. O processo de qualificação continuou nos anos seguintes: em 2016, ela participou de mais um curso de regras e também de uma atualização, consolidando a escolha pela profissão.
No ano seguinte, em 2017, Leonice enfrentou um de seus maiores desafios: cursar a formação oferecida pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS). A exigência era grande, especialmente porque ela havia acabado de ser mãe novamente, desta vez de uma menina com necessidades especiais. Mesmo assim, não desistiu. “Ia e voltava todos os dias do curso. E de lá pra cá nunca mais parei, foi uma paixão”, conta.
A motivação para seguir na arbitragem sempre foi clara: “Essa paixão pelo futebol”, resume Leonice. No entanto, a caminhada não foi isenta de barreiras, principalmente relacionadas ao preconceito de gênero. “Os principais desafios foram o preconceito sobre mulher entender de futebol, e por esse motivo sempre me mantive atualizada em curso e regras”, destaca.
Um dos episódios mais marcantes ocorreu logo no início da sua trajetória como assistente. Durante uma partida, Leonice foi ofendida por um atleta que contestou sua presença em campo. “Em um lance, um atleta me esculachou e disse que aquele não era jogo de mulherzinha”, recorda. O episódio a abalou profundamente: “A experiência me traumatizou por alguns meses e demorei a voltar a trabalhar, estava no começo então a cabeça era diferente”.
Apesar das adversidades, Leonice permaneceu firme no propósito de atuar na arbitragem. Para ela, manter-se fisicamente preparada e atualizada sobre as regras é fundamental. “Me mantenho fisicamente com treinos, e para me manter apta, sempre busco estar atualizada com jogos e regras”, diz. Ela também destaca quais são, em sua visão, as principais qualidades de um bom árbitro: “Para mim, ser capacitado para lidar com a pressão, manter a calma, a imparcialidade e não perder a humildade de aprender e evoluir”.
Sobre como lida com a pressão inerente à função, Leonice é direta: “Mantendo a calma”. E quando o assunto são as críticas, adota uma postura resiliente: “Apenas me mantenho firme e não ligo muito”.
Leonice acredita que é fundamental encorajar outras mulheres a ingressarem na arbitragem, mesmo sabendo que o caminho é cercado de preconceitos. “Mantenham-se firmes no processo, não liguem para críticas e preconceito sobre mulheres em campo. Por mais mulheres árbitras em campo”, defende.
Quanto à evolução da arbitragem, especialmente no contexto local, ela observa avanços importantes. “A evolução pode ser vista sob diferentes ângulos: desde sua preparação e desenvolvimento, até a utilização e adaptação à mudança de regras. É um aprendizado constante”, analisa.
Leonice traçou um novo objetivo dentro da carreira: tornar-se árbitra central. “Venho trabalhando nisso já. Em novembro do ano passado passei por mais um curso da Escola de Árbitro Fabrini Sport, mas ainda não me sinto segura. Mas o objetivo sim é agarrar cada oportunidade que vier”, afirma.
Atualmente, além da rotina como árbitra, Leonice não participa de outras atividades relacionadas ao esporte em sua comunidade, devido à dificuldade de conciliar os compromissos com sua rotina diária. “Não consigo conciliar na minha rotina diária. Mas, por fazer parte da equipe de arbitragem da cidade há 11 anos, sempre que posso, estou disponível para qualquer evento que eles promoverem”, explica.