Natural de Mato Grosso do Sul, o lutador profissional de MMA Kallew Dos Santos, conhecido como Faísca, construiu sua trajetória no esporte com base em persistência, disciplina e resiliência. Hoje, após mais de uma década no cenário profissional e passagens por eventos internacionais, ele representa não apenas o Brasil, mas também o estado sul-mato-grossense nos octógonos de diferentes países.
A caminhada começou cedo, ainda na infância. “Minha trajetória nas artes marciais começou muito cedo, ainda criança, na década de 90 (1998), por influência dos meus pais, que diziam que eu era um garoto muito ‘levado’ e briguento”, relembra. O início no MMA aconteceu anos depois, em 2012, quando surgiu a oportunidade de participar de um evento profissional no Maranhão. Na época, Faísca já era faixa marrom de karatê e faixa azul de jiu-jitsu. “O MMA fez muito sentido, já que é a mistura das artes marciais e eu poderia desenvolver um trabalho tanto em pé quanto no solo”, explica.
Desde então, a carreira de Kallew se expandiu para além das fronteiras nacionais. Ele já lutou em diversos países, incluindo Equador, Rússia e Cazaquistão, e não esconde o orgulho de levar o nome de Mato Grosso do Sul para o mundo. “Me sinto muito honrado em poder representar nosso país e nosso estado lá fora. Tenho muito orgulho de representar o MS e levar o nome do nosso estado pro mundo”, diz. Para ele, a visibilidade que conquistou exige responsabilidade: “O mundo inteiro está olhando pra mim quando subo no octógono, através das redes sociais, do UFC Fight Pass e das centenas de pessoas que assistem ao vivo.”
O caminho, porém, também foi marcado por obstáculos. Um dos episódios que mais exigiu superação foi a recusa do visto para os Estados Unidos, quando havia assinado contrato com um evento internacional ligado à marca Karate Combat. “Fiquei muito decepcionado, porém ali eu vi que tinha chances de assinar com grandes ligas, o que ocorreu logo depois”, conta. O ponto de virada foi o contrato com o Dala Fighting, no Cazaquistão. “Foi realmente um virar de chave na minha carreira. Poder viajar pela Europa, conhecer países que eu sonhava e lutar em um evento tão grande com tanta gente me assistindo… fiquei muito nervoso, não lutei bem, mas a partir dali comecei a desenvolver métodos que me deixassem mais calmo”, afirma. A experiência serviu de aprendizado para lutas seguintes, como a que realizou na Rússia. “Mesmo fora da minha categoria, consegui soltar mais meu jogo e já estou ansioso para voltar pra lá.”
A preparação para lutas internacionais exige adaptações físicas e mentais. “Há muita diferença. Aqui no Brasil eu lutei grandes eventos, como o Predador, que revelou Wanderlei Silva e Charles do Bronx, entre outros, mas o investimento lá fora no esporte é muito maior, tornando quase impossível os eventos daqui alcançarem a grandiosidade dos eventos de lá.” Com mais de 13 anos de experiência como profissional, ele aprendeu a lidar com a pressão. “Eu prefiro não pensar muito na luta. No dia da luta, descansar bastante e dormir muito me deixa mais calmo, principalmente lá fora.”
Entre os adversários mais difíceis, ele destaca o atleta Khalilov, do Cazaquistão. “Ele estava muito mais pesado que eu, cerca de 10 kg a mais, e entre profissionais nós sabemos que 1 kg já faz diferença. Além disso, ele é um atleta bem completo, tanto em cima quanto no solo.”
Apesar da intensidade das competições, Faísca mantém um ritual peculiar antes de lutar. “O pessoal acha até estranho, mas não gosto de aquecer muito. Geralmente eu durmo e acordo faltando duas lutas pra minha. Acordo, lavo o rosto, aqueço pouco e vou pra luta. Assim fico bem mais calmo e consigo lutar melhor.”
Sobre o cenário do MMA em Mato Grosso do Sul, ele reconhece o talento dos atletas locais, mas aponta a falta de estrutura como um entrave. “O nível aqui é bem alto, temos atletas muito bons. Porém, falta investimento, até para que haja eventos bons e que valorizem os atletas locais. Eu e alguns amigos temos planos para realizar uma liga estadual que ajude os atletas que estão começando”, revela. “Esperamos que a população e os empresários abracem a causa, pois o esporte é uma grande ferramenta de inclusão social e salva vidas.”
Com 15 vitórias, 7 derrotas e 1 empate no cartel, Faísca vive um bom momento na carreira. Seus planos envolvem conquistas europeias e, futuramente, alcançar as principais ligas do mundo. “Todos nós, atletas de MMA, sonhamos com o UFC. Meu foco total agora é voltar com minha forma física ideal, lutar na minha categoria e conseguir um título europeu a curto prazo. A médio e longo prazo, quero assinar com alguma liga da primeira divisão, como UFC ou ONE FC. Se o trabalho for feito de maneira correta, consigo chegar lá.”
Ele também se dedica à formação de novos atletas. Hoje, lidera a equipe Attack Team, com o objetivo de compartilhar sua experiência e abrir portas para talentos do estado. “Tenho meus alunos graduados que me ajudam. Meus principais treinadores são meu irmão Nathan Abner, que está comigo desde sempre, e o treinador Felipe Shiguemoto. Além deles, tenho o Paiva, meu personal físico, o Felipe, que cuida da minha alimentação, e vários outros coaches que sempre me ajudam, como mestre Mauro Jr., mestre Clender Nunes, Edson Romero e Rapha Lubachesky. Sou muito grato a todos.”
Aos jovens sul-mato-grossenses que sonham com uma carreira no MMA, Kallew deixa conselhos diretos: “Primeiro e mais importante: leões andam com leões. Não se prenda a ‘treinadores’ que nunca conquistaram nada. Falar é fácil, difícil é ir lá e fazer. Se espelhem e busquem colar em treinadores que tenham conquistas, seja como atleta ou treinador.” Ele também orienta a ter cautela com os eventos disputados. “Não lutem qualquer evento. Vai só te causar lesões e não te acrescenta em nada. Busquem eventos que tenham registro no Sherdog.” E conclui: “Lembrem: ninguém inveja a pessoa que não tem nada. Ignorem as críticas e sigam em frente. Não critiquem ninguém, seja o exemplo do que quer pra você. E por fim, não existe sorte, existe treino.”