O bronze conquistado no Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu, realizado em Barueri (SP), no último final de semana, representa mais do que uma medalha para Lucas Gabriel, atleta da Checkmat CG. O resultado é fruto de um planejamento iniciado ainda em outubro de 2024, com metas bem definidas, rotina intensa de treinos e renúncias pessoais em nome do desempenho no tatame.
“Minha preparação começou em outubro, quando decidi que iria lutar quatro eventos da CBJJ, dois no primeiro semestre e dois no segundo”, explica Lucas. Como profissional de educação física, ele mesmo organizou sua rotina semanal de treinos, conciliando sessões de jiu-jitsu com musculação. O primeiro obstáculo foi a balança. Para isso, contou com o apoio direto da esposa, Stefanny Santos, nutricionista esportiva. “Ela pensou em cada detalhe para que eu pudesse perder peso e ainda manter a performance em todos os treinos”.
A decisão de competir em uma nova categoria também exigiu ajustes: Lucas, que sempre lutou na categoria leve (até 76 kg), optou este ano pela categoria pena (até 70 kg). Isso implicou não apenas em disciplina alimentar, mas em mudanças na carga de treino físico. “Eu faço uma programação entre 12 e 16 semanas, então vou fazendo alguns ajustes quando necessário”, comenta.
A preparação mental teve papel essencial. “Toda vez que eu pensava em furar a dieta ou pular algum treino, eu lembrava: se eu não fizer tudo 100%, meu adversário vai fazer. Então eu fazia tudo 110%”, afirma. Segundo o atleta, isso garantiu não só preparo físico, mas também uma mentalidade fortalecida. “Claro que não podemos prever o resultado da luta, mas se você fizer tudo 110%, com certeza vai chegar com a parte psicológica blindada”.
Além do Brasileiro, Lucas foi campeão do RIO SUMMER INTERNATIONAL OPEN — resultado que o ajudou a testar sua performance na nova categoria. “Escolhi lutar o Rio Open pois já sabia que iria lutar o Brasileiro este ano, então eu precisava me testar na categoria pena, além de ser meu primeiro título da CBJJ”.
Um dos principais desafios enfrentados pelo atleta está fora dos tatames. Conciliar o jiu-jitsu com o trabalho em período integral exige comprometimento. “Não vivo do jiu-jitsu. Me dedico assim ao esporte porque é algo que eu amo, mas acordar às quatro da manhã pra trabalhar, fazer de um a dois treinos por dia e ainda manter a dieta não é fácil”. Ele menciona a necessidade de abrir mão de momentos sociais. “Deixei de visitar amigos e de ir a aniversários pra viver esse dia. E não me arrependo, faria tudo de novo”.
Sobre seu estilo de luta, Lucas é direto: “Gosto sempre de lutar pra frente, um jiu-jitsu progressivo, sempre buscando finalizar. Não gosto do jogo amarrado”. Entre suas inspirações, cita nomes como Mica Galvão, André Galvão e, principalmente, Diogo Reis, o “Baby Shark”.
Entre todas as lutas da carreira, uma em especial marcou sua participação no Brasileiro. Ele caiu do mesmo lado da chave que Arthur, seu parceiro de treino. “Se nós passássemos nas qualificatórias iríamos nos enfrentar nas quartas de final, e foi exatamente isso que aconteceu. Eu não queria lutar com ele, mas tivemos que lutar. Eu acabei ganhando a luta. Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo”.
O amadurecimento técnico também foi ressaltado. Para ele, o verdadeiro salto veio quando passou a compreender os conceitos por trás das posições. “Quando você começa a entender o conceito de cada posição, de cada passagem, de cada raspagem, seu jogo evolui absurdamente”.
O suporte da equipe Checkmat CG é fundamental na trajetória do atleta. “É como se fosse minha segunda casa. Me sinto bem lá. Acho que, pra colher bons resultados, você precisa estar em um lugar que te incentive”.
Com o bronze no Brasileiro e o título do Rio Open, Lucas já traça os próximos passos. “Quero lutar o Pan-Americano, Mundial e Europeu. Já estou me organizando e treinando para isso”.
A mensagem final que deixa para os jovens atletas é clara: estudo e treino caminham juntos. “Estudar e treinar! Estudar é e sempre será de fundamental importância. Estude um bom português, tenha um bom inglês, leia bons livros e treine muito, muito, muito, e mantenha-se focado”. Segundo ele, tanto o jiu-jitsu quanto o conhecimento são conquistas que ninguém pode tirar.