Em 2018, um grupo de jovens do distrito de Indápolis, em Dourados (MS), decidiu ocupar o espaço que até então era exclusivo dos homens no tradicional clube Colonial. Assim nasceu o Colonial Futsal Feminino, equipe formada por moradoras da região que se organizaram para jogar, treinar e competir no futsal de salão. Sem patrocínio fixo, com infraestrutura precária e poucos recursos, elas seguem em atividade graças à mobilização interna e ao envolvimento com a comunidade.
“O time do Colonial já existia, é uma equipe tradicional da região, mas apenas da equipe masculina, e em 2018 foi formada a equipe feminina que atua apenas no futsal de salão”, conta Danieli Cardoso Albertoni, uma das atletas do time. Nascida em Dourados em 1999, Danieli faz parte do grupo de 13 jogadoras que mantém a equipe viva, conciliando a paixão pelo esporte com o compromisso de organizar e sustentar financeiramente a iniciativa.
A manutenção do time envolve uma rotina de treinos e arrecadação constante. Cada atleta contribui com uma mensalidade que cobre os custos do técnico e da quadra, garantindo quatro treinos por mês. “O valor da mensalidade cobre apenas o valor mensal para termos 1 treino por semana, 4 treinos ao mês. Os treinos são nossa prioridade”, explica. Os treinos ocorrem às terças-feiras, sob orientação do treinador Carlos Eduardo, com foco em fundamentos, finalizações e aspectos táticos do jogo.
Além da contribuição mensal, a equipe busca recursos em ações comunitárias, como a venda de rifas e alimentos durante eventos locais. “Buscamos participar de eventos, como a Festa do Colonial, que ocorre em meados de setembro, para vendermos pastéis, rifas e etc. Com esse recurso destinamos às competições, taxas de arbitragem, equipamentos e uniformes”, afirma Danieli. Ela relata que, em 2025, a equipe só conseguiu confeccionar seu fardamento graças à ajuda de empresas e pessoas da comunidade.
Apesar do esforço coletivo, a equipe enfrenta dificuldades estruturais. “Atualmente uma das nossas maiores dificuldades é a infraestrutura. Nossa quadra não está com todas as luzes e o banheiro da poliesportiva está em condições precárias, fora a sujeira. Isso acaba impedindo de recebermos competições e equipes rivais em amistosos em nossa quadra, por não termos estrutura para recebê-las”, relata.
Mesmo com limitações, o Colonial Futsal Feminino tem acumulado participações e resultados expressivos em torneios locais e regionais. Entre as conquistas estão o 1º lugar no Torneio Distrital (2019), na Copa Católica (2019 e 2022), na Gincana Católica (2023) e no Quadrangular de Dourados (2022). A equipe também foi vice-campeã no Campeonato Distrital (2019), no Torneio da Vila Formosa (2023) e em uma edição da Copa Católica (2023). Em 2022, ficaram com o 3º lugar tanto no Torneio da Independência, realizado em Panambi, quanto na Copa Top 10, disputada em Fátima do Sul.
“O resultado mais marcante foi na Copa Top 10 de Fátima do Sul, quando ficamos em 3º lugar”, lembra Danieli. No entanto, ela afirma que o time participa majoritariamente de competições realizadas na própria região de Dourados.
O impacto do futsal na vida das mulheres da equipe vai além da prática esportiva. Em comunidades pequenas como Indápolis, o esporte se torna uma ferramenta de fortalecimento social e pessoal. “A prática esportiva ajuda a romper barreiras culturais e sociais, promovendo a igualdade de gênero e fortalecendo a autoestima e a confiança das mulheres”, afirma. Segundo ela, o futsal contribui para a saúde física e mental, estimula hábitos de vida mais saudáveis e combate o sedentarismo.
A equipe também cumpre um papel simbólico na comunidade ao servir de inspiração para outras mulheres. “Diria para terem coragem de começar algo novo, independente da idade, classe social e das críticas que possam surgir. O primeiro passo é sempre o mais difícil”, aconselha Danieli às mulheres que desejam ingressar no esporte, mas não sabem por onde começar.
Para 2025, a equipe traçou dois grandes objetivos. O primeiro é continuar competindo. Atualmente, o time participa da Copa Dourados e pretende disputar outros torneios ao longo do ano. O segundo é melhorar a estrutura da quadra do distrito, que não oferece condições ideais para o desenvolvimento do esporte. “Queremos uma melhor infraestrutura para desenvolver melhor nossos treinos e termos uma recepção melhor para equipes visitantes”, diz.
Danieli acredita que o futuro do futsal feminino em Indápolis depende de apoio coletivo, envolvendo escolas, prefeitura e até empresas privadas. Ela defende a criação de escolinhas e projetos sociais voltados para meninas, para garantir a renovação da equipe e o fortalecimento da modalidade. “A manutenção ou criação de ligas e torneios femininos, mesmo que pequenos, movimentam a comunidade e fortalecem o esporte”, avalia.
Ela também destaca que o time pode exercer um papel formador dentro da comunidade, servindo de referência para outras jovens. “Nosso time pode influenciar tornando suas jogadoras referência para jovens que antes não viam o futsal como uma opção. Um time comprometido e competitivo mostra que mulheres também têm espaço e talento no esporte”, conclui.