Hegemônico no Pan, handebol quer o ouro e o reconhecimento

uol - 18 de jun de 2007 às 12:43 369 Views 0 Comentários
Hegemônico no Pan, handebol quer o ouro e o reconhecimento Espanhol Juan Oliver, técnico da seleção feminina, e Chana, goleira titular; abaixo, técnico Jordi Ribera, da seleção masculina, e Bruno Souza, destaque da modalidade.

São Paulo (SP) - Se alguém perguntar qual o esporte em que o Brasil lidera o quadro de medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos, há quem pense no futebol, preferência nacional; no vôlei, campeão mundial; ou na vela do bicampeão olímpico Robert Scheidt. Mas no âmbito das Américas, a única modalidade em que o Brasil tem a soberania é o handebol.

No futebol, a Argentina tem uma medalha a mais do que o Brasil, que possui 5. No vôlei, a diferença é grande: são 6 ouros do Brasil e o dobro de Cuba; na vela, o Brasil soma 24 ouros. Nada mal, mas os EUA têm 30.

O handebol, por sua vez, ostenta três medalhas de ouro, e está empatado com Cuba. Mas no desempate, leva a melhor nas medalhas de prata, 3 a 1. Mais ainda, o Brasil é o atual campeão pan-americano no masculino, bicampeão feminino. E, no Rio de Janeiro, as seleções têm como principal objetivo abocanhar de vez o antigo favoritismo dos cubanos.

No breve histórico do handebol em Pans, o Brasil é dono de um terço das medalhas de ouro disputadas. A modalidade está no programa pan-americano desde Indianápolis-87 e logo sua segunda aparição, foi incompleta. Em Havana-91, o torneio feminino não foi disputado devido a uma imposição dos donos da casa. Sem chances de pódio, o comitê dos Jogos abortou a competição feminina. No masculino, Cuba levou o ouro.

No feminino, a tarefa está encaminhada. No mesmo grupo da principal adversária, o Brasil vem embalado da conquista do hexacampeonato da modalidade com vitórias tranqüilas. Mas a equipe do técnico Juan Oliver é ambiciosa. Querem coroar o favoritismo e o terceiro ouro consecutivo nos Jogos com placares elásticos, jogadas ensaiadas, gols empolgantes. A seleção, formada majoritariamente por jogadoras que atuam no exterior e vivem uma realidade de profissionalismo e adoração ao handebol, sente falta do calor do público.

"A verdade é que o Brasil já é uma potência mundial. Em relação às Américas, somos superiores", comenta Dani Piedade. Para a ponta esquerda, a evolução dos últimos anos transformou a seleção. "Em Atenas-04, faltou maturidade do nosso lado e dos nossos treinadores também. A gente mesmo não acreditava muito. A gente ainda colocava adversária em pedestal. Mas agora a história é outra. O Mundial virou a nossa cabeça."

Para o treinador, o espanhol Juan Oliver, a premissa é simples. "Elas não querem só vencer, querem dar \'show, como vocês dizem aqui no Brasil. O público não conhece as jogadoras, já que a maioria atua fora do país. Elas são famosas, ganham muito dinheiro, e agora querem reconhecimento. São muito superiores aos adversários, mas estão centradas", comenta o treinador.

"Não gosto muito de falar em favoritismo, mas não tem como, é só a gente não dar bobeira que o título é nosso", diz Idalina, presente nos dois últimos Pans. "Atingimos um nível superior. Winnipeg-99 foi especial, Santo Domingo-03 foi a confirmação. No Rio, com casa cheia, vamos vencer e convencer."

Dani Piedade reforça. "A verdade é que o Brasil já é uma potência mundial. Em relação às Américas, somos superiores". Quando questionada sobre o sétimo lugar de Atenas-04, a jogadora enumera os motivos da derrota. "Faltou maturidade, não só do nosso lado, mas dos treinadores. Nós mesmas não acreditávamos em um bom resultado. A gente ainda colocava adversária num pedestal. Mas o Mundial da Rússia e a chegada do Juan viraram a nossa cabeça."

Até mesmo Bruno Souza, um dos melhores do mundo e maior estrela do handebol brasileiro, admite que as mulheres estão em um patamar diferente. "Hoje, elas sobram nas Américas porque são nove ou dez meninas na Europa. O nível do handebol feminino evoluiu muito depois que as jogadoras começaram a sair. No masculino, a gente ainda tem dificuldade com isso", afirma Bruno.

Da seleção masculina, apenas ele e Renato Tupan, que também joga na Alemanha, atuam na Europa. Além deles, o ponta Felipe Borges está indo para a Espanha. "Só agora estamos conseguindo fazer um intercâmbio maior e estamos nos aproximando do nível europeu. As meninas fazem isso há mais tempo".

"Pra mim, é uma pena que tenha demorado tanto tempo para aparecer outros jogadores com coragem e nível técnico para sair do Brasil e lutar para botar a cara nas grandes ligas européias. Mas o caminho é esse. A preparação está melhorando, os jogadores estão melhorando", completa.

Por isso, se no feminino o otimismo é exacerbado, no time masculino a tarefa é conter a ansiedade. Em Santo Domingo-03, a seleção levou seu primeiro ouro, em final acirrada contra a Argentina. A vitória fez os homens do Brasil se erguerem no mesmo patamar do feminino - ao menos, no nível pan-americano.

No início do ano, porém, a seleção teve uma participação fraca no Mundial da Alemanha, sem conseguir avançar da primeira fase. Apesar de ter enfrentado países mais fortes, o Brasil sofreu uma derrota para a Argentina, que derrubou o favoritismo nacional frente aos hermanos.

A grande polêmica da competição foi a não convocação de Bruno, titular da seleção desde 1997. Na época, o técnico espanhol Jordi Ribera disse que Bruno era "apenas mais um jogador". Nem o atleta nem o próprio grupo entendeu. Famoso na Europa, Bruno não escondeu a insatisfação, mas contentou-se em atuar como comentarista de uma TV alemã.

A adoração dos alemães pelo jogador, que foi comprado pelo Hamburgo no ano passado, é tanta, que Bruno inclusive já recebeu proposta para adquirir outra nacionalidade e defender a Alemanha na Olimpíada. "Vou de qualquer jeito para esse Pan", anunciava o jogador, que \'perseguiu\' Ribera durante o Mundial para pedir uma nova chance na equipe.

Contradições à parte, o armador voltou a ser lembrado pelo treinador para os amistosos finais, e estará no Pan caso o Brasil precise de um jogador que decida a partida nos segundos finais, como ocorreu em 2003.

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