Advogado por formação, Ranan Warszawski Barbosa encontrou na arbitragem do voleibol um novo caminho de atuação e desenvolvimento pessoal. Desde 2018, ele integra o quadro de árbitros da Federação de Voleibol de Mato Grosso do Sul (FVMS), função que assumiu após um convite e incentivo vindo de dentro de casa.
“A minha proximidade com o voleibol começou na escola, nas aulas de treinamento. Estudei no Maria Constança de Barros Machado e participei de alguns campeonatos escolares. Mas não tinha muito talento, tampouco o voleibol era ou ainda é meu esporte preferido”, lembra. Desde jovem, Ranan sempre teve mais afinidade com o futsal, e atualmente, é fã assíduo da Fórmula 1.
O ponto de virada aconteceu em 2018. À época, sua esposa – hoje ex-companheira – era apontadora e fazia parte do quadro da FVMS. Grávida em 2017, ela se afastou das funções e o incentivou a participar do curso de arbitragem promovido pela Federação. “Na turma do curso, creio que eu era o único não formado em Educação Física. Acabei sendo aprovado com boa nota e comecei a atuar no final do segundo semestre”, conta.
Apesar da aprovação, o início foi cercado de desafios. Além da natural inexperiência de quem começa, ele precisou vencer as barreiras de não ser oriundo do meio esportivo. “Não jogava no adulto, não conhecia nenhum jogador ou treinador e esses me desafiavam por ser novato e por ninguém me conhecer. Percebia que tinha que ganhar o respeito dos atores do jogo e isso leva tempo, estudo e dedicação.”
Desde então, a evolução foi gradual. Aos poucos, vieram os convites para eventos maiores e a participação em jogos que marcaram sua caminhada até aqui. Entre eles, Ranan destaca ter arbitrado a partida das campeãs olímpicas de Paris no vôlei de praia em 2024, na quadra principal do circuito nacional. Além disso, atuou na Superliga C, participou de uma partida na Superliga A e fez uma final do Campeonato Brasileiro de Seleções (CBS) em Brasília, neste ano.
“A cada desafio, ficou uma memória de satisfação pessoal. São experiências que constroem a nossa trajetória na arbitragem”, afirma.
Para suportar fisicamente as exigências de uma partida – que pode ter uma média de duração de 2h20 –, Ranan inclui a musculação em sua rotina. “O árbitro toma decisões o tempo todo, julga muita coisa, desde aspectos disciplinares e técnicos até estruturais. Não sou atleta, mas tento me manter em boa forma.”
Em partidas decisivas, ele destaca a importância de uma boa noite de sono e da preparação mental. “Aprendi a controlar o nervosismo e a ansiedade com a orientação de árbitros mais experientes. Saber ouvir nessa profissão é fundamental. Eu particularmente entendo que toda partida é decisiva e merece nosso empenho e concentração igual. Então a final é outro jogo como outro qualquer. Isso funciona pra mim.”
Sobre o nível do voleibol praticado em Mato Grosso do Sul, Ranan vê espaço para crescimento. “Precisamos melhorar muito ainda em termos nacionais, mas temos bons treinadores e material humano. Acredito que, se continuarmos trabalhando, MS vai para o topo em breve. Temos grandes atletas de praia e quadra e uma boa safra nova de treinadores chegando.”
A arbitragem, como em todo esporte, é alvo constante de críticas. Para ele, o segredo está em compreender o papel do árbitro no contexto da partida. “O árbitro é pessoa pública, lida com todo tipo de público. O segredo é entender que ele não está lá pra agradar, está pra fazer o seu papel. Não devemos ser soberbos. Escuta, veja se tem fundamento, corrige e vamos pra próxima.”
Ao longo dos últimos anos, o voleibol passou por alterações nas regras. Uma das mudanças que exige atenção dos árbitros, segundo ele, é a liberação de posição da equipe sacadora. “É um desafio a mais durante o rally, é preciso bastante atenção”, destaca.
Apesar de ainda não atuar diretamente na formação de novos árbitros, Ranan observa um movimento de renovação no quadro da FVMS, embora lento. “É bastante moroso devido à dificuldade em ser árbitro. Alguns desistem no meio do caminho. Não é tarefa fácil. No meu curso, a turma era cheia. Passados os anos, conto nos dedos de uma mão quem permaneceu.”
Entre os principais entraves para a visibilidade nacional do voleibol de MS, ele aponta a necessidade de estrutura e investimento. “Precisamos colocar uma equipe forte nos grandes torneios e tentar alçar o voleibol do Estado para uma Superliga A. Alguns clubes estão nessa batalha. Acredito que dependa de investimento financeiro e seriedade no trabalho.”
O próximo passo em sua trajetória como árbitro é alcançar o quadro nacional. Já atuando em competições desse porte, o objetivo agora é alcançar a chancela oficial. “Depois disso, o que vier é lucro. Uma competição internacional ainda é um sonho distante, mas sigo trabalhando e aguardando as oportunidades.”