Há 14 anos, na varanda de sua própria casa, Bruno Damiere, o Brunão, deu início a uma iniciativa que mudaria sua vida e a de centenas de crianças e adolescentes. Mestre de jiu-jitsu, ele fundou o projeto social Lutando pelo Bem, com o propósito de oferecer mais do que aulas de uma arte marcial: ele queria proporcionar oportunidade, disciplina e formação cidadã.
A motivação surgiu de casa. “Minha maior motivação foram meus filhos, Breno e Bruna, que hoje moram no Canadá e vivem do jiu-jitsu. Ver a transformação deles por meio do esporte me inspirou a levar essa oportunidade a outras crianças e adolescentes”, relata. Assim, com recursos limitados, mas com um propósito bem definido, ele começou a ensinar jiu-jitsu em um espaço improvisado, determinado a fazer a diferença.
Atualmente, o projeto atende 120 crianças e adolescentes, com aulas regulares e acompanhamento próximo. Mas participar do Lutando pelo Bem exige mais do que vontade de aprender a lutar. “Para participar do projeto, é necessário manter um bom comportamento na escola e em casa, além de boas notas. A disciplina fora do tatame é tão importante quanto dentro dele”, explica o mestre.
Brunão vê o jiu-jitsu como uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento pessoal. “O jiu-jitsu ensina disciplina, respeito e honra. Eleva a autoestima dos alunos, ajuda a vencer o medo de competir e de se expressar, além de ensinar a respeitar o adversário e os mais velhos”, afirma. Para ele, os valores do esporte são extensivos à vida e fundamentais para a formação de cidadãos de caráter.
O impacto do projeto já é reconhecido pela comunidade, que frequentemente expressa gratidão. “A comunidade reconhece e valoriza nosso trabalho, pois sabe que lidar com jovens não é fácil. Recebemos apoio e gratidão por promovermos um ambiente saudável e disciplinado”, conta Brunão. E os resultados aparecem de forma concreta.
Um dos exemplos mais marcantes é o de um jovem que chegou ao projeto aos 14 anos. “Ele era líder de uma gangue que destruía patrimônio público e intimidava a comunidade. Entrou no projeto e, hoje, com 19 anos, é um exemplo para as crianças e adolescentes. Sua transformação mostra o poder do esporte na vida de um jovem”, lembra.
Apesar da relevância social do Lutando pelo Bem, o projeto enfrenta dificuldades para se manter. “Temos muitos gastos com aluguel, água, luz e materiais de higiene. Conto com o apoio do meu filho Breno Damiere, que mora no Canadá, e com a colaboração de alguns pais que têm melhores condições financeiras”, explica. Brunão e sua esposa, Lenir — também faixa-preta — se revezam nas aulas com o apoio de instrutores voluntários, entre eles profissionais de educação física e alunos graduados.
A manutenção do projeto também depende de ações comunitárias, como vendas de pastel, almoços beneficentes e rifas. “Esses recursos são usados para cobrir custos com participação em campeonatos, transporte (ônibus, vans, carros), alimentação e materiais. Toda ajuda é bem-vinda”, reforça.
Hoje, o Lutando pelo Bem oferece exclusivamente aulas de jiu-jitsu, mas Brunão sonha alto. “Nosso sonho é conquistar um terreno para construir um centro de treinamento com funcionamento integral. Queremos oferecer alojamento, área de recreação, sala de xadrez, biblioteca para incentivo à leitura, e ampliar com outras modalidades esportivas como karatê e muay thai. Também planejamos oferecer aulas de educação financeira e inglês, ampliando ainda mais o impacto social do projeto.”
A filosofia que orienta o mestre Brunão é clara: “Acredito que todo aluno é capaz de aprender, desde que esteja em um ambiente acolhedor, desafiador e significativo. A educação deve formar cidadãos críticos, éticos e preparados para enfrentar a realidade. Além disso, sigo o princípio de ‘fazer o bem, sem olhar a quem’.”