A trajetória de Jeferson Felipe, atleta de vôlei natural de Dourados, é marcada por superações, trabalho árduo e persistência. Hoje atuando profissionalmente na Croácia, ele conta que começou tarde na modalidade e precisou aprender na prática tudo aquilo que muitos atletas absorvem nas categorias de base. "Não foi das melhores, pois praticamente comecei no adulto", resume.
Jeferson jogou por apenas um ano na escola e teve uma rápida passagem pelo time juvenil da cidade. Mesmo com a convocação para a seleção estadual, ele logo foi lançado na categoria adulta, sem tempo para um desenvolvimento gradual. "Aprendendo na marra, coisas que não aprendi na base. Contudo, tive ajuda do professor Bruno Alex e alguns amigos ao longo do meu desenvolvimento na categoria", explica.
A falta de estrutura e a escassez de apoio familiar e material não foram obstáculos suficientes para derrubar o sonho. O atleta destaca que o elemento central de sua evolução foi a persistência. "A chave principal foi perseverar mesmo treinando sozinho em praças ou em casa, e não ter desistido do sonho de jogar vôlei", afirma.
Foi em uma competição fora do Mato Grosso do Sul que Jeferson viu pela primeira vez o tamanho das possibilidades que o esporte poderia oferecer. "Tive uma visão muito ampla do que o esporte poderia fazer na vida das pessoas, e como poderia me levar a lugares que jamais imaginaria", conta. Ele lembra que naquela época, além de treinar, também trabalhava como servente de pedreiro e limpava terrenos. "De onde vim, na época que cresci, as coisas eram muito limitadas. Ou você iria trabalhar muito para conquistar um cargo bom e algo legal, ou me perderia como grande parte dos meus amigos se perderam no crime", diz.
O salto para o cenário internacional veio após a participação no Campeonato Mineiro, onde enfrentou o Sada Cruzeiro, atual campeão mundial na ocasião. "Lá havia algumas pessoas assistindo à partida, dentre elas um empresário europeu", recorda. Após o jogo, surgiu o convite, e alguns meses depois ele embarcou para a Croácia. A adaptação ao novo país, idioma e cultura exigiu resiliência. "Precisei de cerca de dois meses para me adaptar com a língua, fuso horário e a comida", explica. Ele ressalta que saiu do Brasil com pouco domínio do inglês e chegou a um país onde o idioma local, o croata, é predominante. Ainda assim, conseguiu se ajustar. "Me adaptei muito bem, e pretendo voltar em breve", completa.
Jeferson também observa diferenças estruturais significativas entre o cenário esportivo europeu e o brasileiro. "Uma das principais diferenças da Europa para o Brasil está na estrutura que é fornecida para a prática do esporte", afirma. Segundo ele, na Croácia os atletas recebem suporte completo para alcançar o alto rendimento, o que nem sempre é realidade no Brasil. "Vemos atletas jogando a principal liga do país sem ao menos receberem seus salários", compara.
O momento mais marcante da sua carreira, segundo ele, aconteceu já em solo europeu. "Meu primeiro jogo na Europa foi especial. Antes de entrar na quadra, tive aquele momento de 'flashback', que me fez lembrar desde a minha primeira manchete até aquele presente momento", relata. Para ele, aquela cena representou um ciclo, especialmente por considerar o contraste entre suas origens e o lugar onde chegou.
No clube croata, a rotina era intensa. "Treinávamos físico e tático todos os dias, divididos em dois períodos, dependendo até três", detalha. Os jogos aconteciam, em geral, nos fins de semana, com exceção da Copa da Croácia, que tinha partidas também durante a semana.
Os planos futuros incluem uma continuidade na Europa e, se possível, a participação na CEV Volleyball Challenge Cup. "Estou me preparando para um possível retorno, no qual pretendo ficar na Europa por pelo menos mais alguns anos", projeta.
Representar Mato Grosso do Sul, segundo Jeferson, é motivo de orgulho. Ele fala com consciência sobre a importância simbólica de sua trajetória. "Representa um motivo de muita vitória e orgulho, pois não foi fácil alcançar e chegar onde cheguei. Sei de tudo que abdiquei", diz. Para ele, a caminhada é compartilhada com aqueles que não puderam continuar. "Posso realizar por mim e por eles", afirma, referindo-se aos amigos que abandonaram o esporte por falta de oportunidades.
Aos jovens atletas que sonham com uma carreira no esporte, Jeferson deixa uma mensagem direta e baseada em sua própria história. "Meu conselho é ter vontade e disciplina. Não desista, porque a fronteira entre dar certo e errado está na sua mente", conclui. E completa: "Não tenha vergonha de sonhar e nem dos teus sonhos. A estrada é longa, mas se dediquem e se divirtam no caminho".