Em 2021, Alysson Queiroz Cabrera decidiu enfrentar um desafio que mudaria sua vida: iniciar no handbike mountain bike (MTB), modalidade de ciclismo adaptado que exige força, técnica e, principalmente, determinação. Natural do Paraná, ele se mudou para Mato Grosso do Sul em 2005 e hoje vive em Caarapó, de onde parte para competições em diversas regiões do país. Campeão da Copa Conesul 2023 e vice-campeão da Copa Internacional de 2022, Alysson soma resultados expressivos com uma história de esforço e aprendizado constante.
O primeiro contato com a modalidade não veio por meio de projeto social ou indicação médica, mas por acaso. “A handbike apareceu do nada. Estava olhando o Instagram e apareceu um amigo com uma handbike, o Pedro Alemão. Quando era criança, sempre gostei de bike. Aí vi, gostei. Me acidentei em 2018 e em 2021 adquiri uma handbike”, relata.
Foi justamente em 2021 que ele disputou sua primeira prova, na cidade de Paranhos (MS). Desde então, o handbike se tornou parte da sua vida. “O esporte começa em 2021 com a primeira corrida em Paranhos. Foi o início de tudo”, lembra. O começo, no entanto, não foi simples. Alysson não teve treinador, parceiro de treino ou qualquer tipo de orientação especializada. “Meu maior desafio foi começar a treinar sem saber nada, começar do zero. Comecei sozinho, eu e Deus na luta. Treinei muito errado no início.”
O esforço deu frutos. No ano seguinte, ele foi vice-campeão da Copa Internacional e, em 2023, conquistou o título da Copa Conesul. Alysson guarda as vitórias com emoção e humildade. “Essas conquistas me emocionam só de lembrar. Só eu sei o quanto foi sofrido. Significa vitória, conquista, superação, motivação pra mim. Não pensava ir tão longe quando comecei. É um sentimento de gratidão.”
Hoje, sua preparação é mais estruturada. Ele tem acompanhamento profissional para manter a saúde e a performance em dia. “Hoje tenho acompanhamento com nutrólogo e nutricionista. Sigo uma dieta e suplementação adaptada para mim. Treino quatro vezes por semana, em média 150 km.” Apesar da rotina exigente, Alysson conta que a prova mais marcante da carreira não foi a mais recente, e sim a primeira competição fora do estado, na cidade de Taubaté (SP), durante a Copa Internacional. “Confesso que estava com medo. O percurso era um circuito de quatro voltas, com muita subida e descidas técnicas. Na segunda volta fiquei em primeiro lugar e levei o título de campeão daquela etapa. Foi só emoção e alegria. Nem eu acreditei.”
Alysson também tem consciência do papel que desempenha para o crescimento do esporte adaptado em Mato Grosso do Sul. Apesar das dificuldades de estrutura, ele observa uma evolução. “Agora deu uma melhorada, o pessoal já me conhece. Quem não é visto, não é lembrado. Infelizmente o que falta no estado é mais atletas. Falta apresentar a handbike, muitos nem conhecem.”
O MTB com handbike traz desafios que vão além da resistência física. Os percursos geralmente só são conhecidos na hora da prova, o que exige atenção, leitura de terreno e domínio corporal. “Na pergunta já fala: é bem desafiador. A maioria dos percursos só conheço na hora, então tudo é uma surpresa. Tem que ter controle de tronco e habilidade para não capotar.”
Ao falar com outras pessoas com deficiência que pensam em começar no esporte, Alysson é direto: “Só começa. Se pensar em desistir, que desista de ser fraco. A jornada não é fácil, mas você é bruto(a), é capaz. Só acreditar e ir pra cima.”
O atleta planeja novos passos e sonha em migrar para o ciclismo de estrada adaptado, com a handbike de speed. “Talvez ano que vem, se tudo der certo. Esse ano foquei no calendário do Circuito Sesc MTB Brasil. A próxima corrida, se tudo der certo, será em Piraputanga.”
Apesar das vitórias e da evolução como atleta, Alysson ainda enfrenta um obstáculo que está fora das pistas: o transporte. “Hoje minha maior dificuldade é o transporte”, diz, destacando uma barreira que ainda limita a participação de muitos atletas do paradesporto no Brasil.